Essa notícia asquerosa do UOL me deu uma ideia: DEZ MOMENTOS EM QUE A IMPRENSA GLAMOURIZOU A CARESTIA.
Obs: alimentação é campo do profano e do sagrado, então a ideia aqui é menos discutir gosto e sim ver como a nossa imprensa lidou com casos de aumento de preços com manchetes "positivas", apelando para mudanças em hábitos alimentares.

Isto posto, vamos lá:
1) "Quando é seguro comer pão, queijo e outros alimentos mofados" - Folha de São Paulo.

www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
2) "Você pode substituir a carne por linhaça?". UOL

noticias.uol.com.br/saude/ultimas-…
3) "Brasil bate recorde histórico no consumo de ovos". Jornal Nacional.

g1.globo.com/jornal-naciona…
4) "Com preço em queda, batata pode substituir o arroz na mesa". Folha de São Paulo.

agora.folha.uol.com.br/grana/2020/09/…
5) "Soja preta chega para substituir o feijão na feijoada". Gazeta de São Paulo.

gazetasp.com.br/nilson-regalad…
6) "Com alta nos preços, associação sugere substituir arroz por macarrão". UOL.

economia.uol.com.br/noticias/estad…
7) "Consumo de insetos é tendência e você já pode estar participando sem saber". Estado de São Paulo.

emais.estadao.com.br/noticias/compo…
8) "Saiba como substituir a carne na refeição para economizar no mercado". Veja.

veja.abril.com.br/saude/saiba-co…
9) "Hora da xepa: saiba como economizar na feira". Record.

recordtv.r7.com/hoje-em-dia/vi…
10) "Reaproveitar os alimentos ajuda a economizar no supermercado". Yahoo Notícias.

esportes.yahoo.com/noticias/reapr…
Difícil saber se há "mentiras" nas matérias. Mas elas seguem sempre o mesmo protocolo, ou seja, transformar uma condição econômica de carestia (preço alto, escassez de mercadoria, ambos...) em OPORTUNIDADE para mudar a dieta.
Isso, obviamente, é ideológico, mesmo que não pareça. Ao invés de incitar revolta contra os preços (que, desde Adam Smith, isso é tratado como "superstição"), a estratégia é promover a adaptabilidade dos mais pobres.

"Se não tem carne, compra osso e põe na sopa".
Caso não fique claro o quão ideológico é isso, duas notícias sobre escassez de alimentos.

A primeira na Venezuela:

g1.globo.com/mundo/noticia/…
A outra em Cuba:

bbc.com/portuguese/int…
Quem acha que isso não rola no Brasil, não conhece muito bem o país:

noticias.r7.com/sao-paulo/mult…

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9 Mar
Esse gráfico diz muito. Quando a gente se pergunta, afinal, quem ainda apoia o Bolsonaro, olhem para isso.

Esqueçam os perfis sócio-econômicos, o recorte religioso, as declarações do Luciano Huck. Vejam isso:

A bolsa despenca quando sabe que Lula vai se tornar elegível.
Significa que o atual presidente, responsável por 10 mil mortes na última semana, corre o risco de não ser reeleito.

Quando tivemos 1.910 mortos num dia, sabem como foi a Ibovespa? Ela subiu vertiginosamente:
Em tese, foi porque o Congresso anunciou que o Bolsa Família entraria no teto de gastos.

Mas na prática, 1.910 mortos não abalaram a confiança dos investidores de que era possível lucrar no Brasil.
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8 Mar
Crítica à Razão Negra é um dos livros mais difíceis que já li. O grau de erudição e os problemas que ele levanta tão muito além do que consigo alcançar numa leitura sem método.
Ainda assim, li o livro e usei ele para um concurso cujo um dos pontos era Iluminismo. O capítulo 1 é todo focado no "vazio" da intelectualidade ocidental ao lidar com os negros no século XVIII e XIX. Era um bom contraponto a uma história eurocêntrica do iluminismo.
Necropolítica, que achei um livro mais palatável na leitura, reatualiza Foucault e como eu conheço mais o careca, não achei tão difícil. Reatualizar a ideia de governamentalidade para fora do Estado-nação europeu é um argumento poderoso.
Read 8 tweets
21 Feb
O fantástico caso do intelectual que pede rigor conceitual para "neoliberalismo", mas que acha que pode usar o conceito de "populismo" para Chavez, Putin, Bolsonaro, Jango e Trump. 🤷
Dada a desonestidade em alguns retweets, uma explicação: "populismo" e "neoliberalismo" são conceitos com valor heurístico em seus campos de estudo. Ou seja, eles possuem poder explicativo desde que situando e situados por ou um balanço bibliográfico, ou por um estudo empírico.
O problema aí é que para algumas pessoas, o uso de um desses conceitos pode extrapolar os limites do campo e virar moeda de troca simbólica no cotidiano e o outro não.

Interditar neoliberalismo porque queremos rigor conceitual, mas usar populismo como moeda de troca é seletivo.
Read 5 tweets
21 Feb
A simplificação neoliberalismo = menos Estado é grosseira e não resolve nada.

O neoliberalismo de Pinochet não enxugou gastos militares. E precisa ser muito tacanho para achar que o custo de manter a repressão nos cascos não é pensado como investimento econômico.
Se pensar Pinochet, Reagan e Thatcher, ninguém ali enxugou a capacidade repressiva dos seus países. Aliás, me pergunto sobre a correlação entre desregulamentação financeira e o crescimento dos gastos militares.
Para Reagan, com certeza isso aconteceu. Pinochet nem preciso dizer. Thatcher é minha dúvida. Mas não duvido...

Ideólogos neoliberais sequer questionam que enquanto pedem menos Estado, se calam diante dos abusos de militares e policiais.
Read 7 tweets
7 Feb
Fio-resenha de domingo:

"Tea War: A History of capitalism in India and China", de Andrew Liu, é um daqueles livros difíceis de largar. Ele te ganha pela tese: e se o capitalismo não se explicar pelas relações capitalistas de produção?
A dúvida que ele planta é por meio do chá, o maior produto de exportação da economia chinesa no século XVIII, quando a Inglaterra ainda pagava toneladas de prata para garantir o chá com bolachas da corte.
Aliás, não só da corte. A Revolução Industrial não seria a mesma sem as drogas não-europeias. Chá, café, açúcar, tabaco...todos eles estimulantes que foram incorporados na dieta dos operários britânicos.

O chá também virou a bebida oficial do operariado industrial.
Read 25 tweets
6 Feb
Ouvindo de novo "Convoque seu Buda" (2014) do Criolo.

Como esse álbum envelheceu bem!!!

É uma pancada atrás da outra e, ouvindo agora, antecipando uns troços que eu não tava vendo com tanta clareza na época.
Tem coisas ali que são maravilhosas. Inclusive um sambinha sobre greve que é uma delícia - uma das favoritas de Tupaquinho.

Mas o que me chama atenção é isso, como ele antecipa coisas que estamos falando hoje.
O mais impressionante para mim é como ele cria um retrato complexo da periferia, que não cai nem na dádiva do consumo, mas nem na cegueira religiosa.

Tem mais agência do povão ali do que muito trabalho acadêmico.
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