Começou o R1 de Cardiologia?
Então escuta aqui alguns conselhos de um preceptor do Dante Pazzanese (SP) pra você aproveitar melhor esses dois pesados anos.
1. Acostume-se a encontrar ECGs nos lugares mais inesperados da sua casa, como na geladeira.
2. Crie uma rotina de estudos que permita o aprendizado sistemático (e não por osmose) desde o primeiro ano, mesmo que este seja mais pesado na maioria das instituições.
Como aprender sistematicamente?
3. Forme as bases mecanicistas do conhecimento e, para isso, você precisará da ajuda do Braunwald.
Lembre-se: você não é mais um R2 de clínica que quer passar na prova de residência. Agora, o conhecimento é pra vida, então #BraunwaldSIM
4. Forme as bases baseadas em evidências com a ajuda de guidelines e artigos clássicos.
Os guidelines mais utilizados são os da SBC (Brasil), ESC (Europa) e ACC/AHA (EUA).
Os artigos clássicos você DEVE conhecer durante a residência (se não conhecer, você está fazendo errado)
5. Assimile que a Cardiologia é uma das especialidades mais baseadas e, infelizmente, mais enviesadas por evidências. Há medical reversals (terapias que outrora pensava-se fazer bem, mas não trazem benefício ou causam dano) que ainda estão no hall de prescrições de muitos.
5.2 Por isso, não se intimide em colocar o seu preceptor contra a parede quando achar necessário.
Pequena lista de artigos para ler e, gentilmente, indagar seu preceptor: COURAGE, ISCHEMIA, ORBITA, CABANA e EAST-AF.
6. A nossa prova de título é um teste sobre se você consegue decorar guidelines.
Mas, ao sair da residência, não pense que saber guidelines de cor te fará um bom cardiologista.
O que te faz um bom especialista é saber CRITICAR os guidelines quando necessário.
7. Não se contente em saber o básico. Você será cardiologista e o ECG de provas de residência e usado no Brasil é desatualizado e distante da realidade
Para aprender ECG de verdade, sugiro este aqui que é o melhor livro de ECG do Brasil, eu garanto.
Link: sanarsaude.com/livro/manual-d…
7.2 O ACLS é o mínimo que você deve saber para atender uma ressuscitação cardiopulmonar. Cobre do seu preceptor que te ensine mais dicas e truques.
8. Aprenda antes do seu plantão no PA de Cardio que:
- Ausência de supra não significa ausência de oclusão coronária.
- Procurar inversão de onda T em casos de dor aguda é um erro.
- Bloqueio de ramo esquerdo per se não é equivalente de supra.
- “Supra feliz” é uma lenda urbana.
8.2 Para o passo inicial, sugiro este ebook do meu novo curso de ECG com a Sanar.
Um dos capítulos é exatamente sobre oclusão coronária aguda.
E eu garanto: este material vai fazer você repensar por completo o que sabe sobre infarto. ecg.sanarmed.com/ebooks-ecg/
9. Use as ferramentas corretas na hora certa:
- Uso da classificação de dor torácica em A,B,C ou D;
- Escores de risco (HEART, TIMI);
- Interpretação da troponina;
Para ajudar, tem aqui um mini-curso sobre dor torácica da pós de emergência da Sanar: pos.sanarmed.com/cursogratuitom…
10. Aprenda que a ablação é a primeira linha de tratamento da maioria das arritmias. Mesmo que sua residência não te ensine isso (ocorre particularmente quando é serviço do SUS), leve isso em conta.
Não oferecer a cura aos pacientes e dar amiodarona ao invés é passado.
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Recebo mais uma vez o site ivmmeta.
O compartilhamento dizia: "o Dr. Fulano, maior infectologista do Ceará, diz que há uma chance em 18 trilhões que a ivermectine não funcione"
Quando um médico compartilha isso, ele está assinando atestado de "médico leigo". Entenda.
É engraçado que as coisas andam em círculos. Três meses atrás isso já foi motivo de postagem minha. De lá pra cá, nada mudou - a não ser a mentira, que cresceu.
Vamos desmascarar esta mentira.
A primeira, e maior, mentira está logo no quadro inicial: "há apenas uma chance em 18 trilhões de que não funcione"
Engraçado é pensar como alguns se deixam ludibriar e continuam defendendo o indefensável mesmo após uma mentira tão baixa.
Ingredientes da Mentira "perfeita" do Tratamento Precoce que o Brasil encontrou e dá um show no combate à COVID.
1. Crie uma narrativa política: faça as pessoas pensarem que todos os que apontam a mentira são de um certo espectro político e atuam por afinidade a esse espectro.
2. Aproveite que, há anos, o ensino médico brasileiro está em crise: a formação mecanicista e paternalista das universidades destoa do crescimento da Medicina Baseada em Evidências.
Os críticos não reconhecem o avanço que a MBE nos trouxe na própria COVID, com a dexametasona.
2.2 O argumento mais utilizado pela turma que acha que pode lidar com a vida dos outros em modo free style é de que "a ciência demora".
Durante este ano, comprovaram a dexametasona e criaram/testaram vacinas.
A ciência só não tem obrigação de comprovar a sua crença, só isso.
Se aparecesse um trial duplo-cego, randomizado, placebo-controlado, conduzido de maneira séria e não para auto-promoção, que demonstrasse benefício com ivermectina, você a prescreveria?
Um fio sobre pensamento bayesiano e um pouco sobre visão de mundo.
Thomas Bayes colocou na ponta do lápis uma questão do nosso dia a dia:
- Nós não somos ingênuos a ponto de acreditar em tudo que vemos e ouvimos por aí.
Exceções: fé, acreditar em médicos como eminências, acreditar que comentaristas políticos e políticos são imparciais.
Imagine que alguém chega e fala:
- A Terra é plana.
Diante de tantas evidências de que a Terra é redonda, por que você acreditaria nisso assim de cara?
Provavelmente solicitaria mais informações, não é?
Por que, com artigos científicos, agem diferente?
Um dos argumentos mais utilizados por quem defende remédios “me engana que eu gosto” para COVID é o de que países que adotaram essas medidas ilusórias e populistas estão lidando bem com a pandemia.
Concluir risco individual através de dados de grupos é a falácia ecológica. Fio.
Estudos do tipo ecológico (que comparam países com países, por exemplo) são baratos e rapidamente realizáveis.
O estudo da BCG e COVID, por exemplo, levou 1 dia para ser escrito.
Também são de fácil interpretação para um leigo e, por isso, possuem forte apelo midiático e popular
Baseado em estudos ecológicos, foi possível desenhar este gráfico, por exemplo.
Está demonstrado que os países que promovem Ivermectina têm menor taxa de morte/casos que os que não promovem.
É tentador ser um médico mecanicista porque, como disse em outros posts, a ilusória sensação de certeza e de segurança passada por esse tipo de estratégia é muito cativante para atrair leigos e médicos leigos.
A imagem de onisciência e de alto conhecimento é chamativa.
Quando uma terapia é comprovadamente ineficaz, só resta ao paciente experimentar os seus danos. E esses danos são vão mais além do que os descritos em bula.
São eles:
- Os efeitos colaterais individuais;
- Os efeitos colaterais coletivos.
Viés de comissão é a inabilidade de ficar inerte quando não há o que fazer. Em Medicina, esse viés é ilustrado por:
- Na linha de frente de uma pandemia, temos que prescrever tudo o que fizer sentido, mesmo que não haja comprovação científica ou que seja comprovadamente ineficaz.
Uma das narrativa que tentam justificar essa atitude é a de que a ciência é lenta e demoraria anos para que tivéssemos comprovações. Quem fala isso não conhece os exemplos:
- Dexametasona e estudo RECOVERY
- Vacinas para COVID.