Oi, pessoal. Este fio vai usar dados do estado do RS, mas tem outros estados, como o PE do meu amigo @b_ishigami que também estão nessa. O que pode acontecer quando um estado flexibiliza as restrições antes de uma queda sustentada? Segue o fio: 🧶//1
Para que todos entendam a situação: O estado do RS teve um aumento exponencial de casos de COVID-19, e este aumento apareceu primeiramente nos hospitais, na metade de fevereiro de 2021. Como que o aumento pode ter aparecido primeiro nos hospitais e não nos casos? //2
Infelizmente, é simples: testagem "reativa", como costumo chamar. Testamos apenas quem tem sintomas e também quem se importa com esses sintomas a ponto de ir buscar ajuda. Se uma pessoa acha que está com gripe e não busca ajuda, ela passa "por baixo do radar". //3
Neste texto de outubro de 2020 eu falo sobre a "testagem reativa" e como ela nos deixa cegos até que é tarde demais (exatamente como aconteceu no AM, depois no RS, e assim por diante): redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/10/16/seg… //4
Este aumento apareceu nos hospitais do RS no dia 14/02/2021, vejam: //5
Pois bem: vocês já me viram falar sobre a COVID World Survey, algumas vezes aqui. É uma pesquisa feita através do Facebook em conjunto com a Universidade de Maryland, na qual as pessoas são sorteadas diariamente, ao abrir o Facebook, para responder perguntas sobre COVID-19. //6
Entre essas perguntas, a pesquisa pede se as pessoas tem sintomas (febre, tosse, falta de ar) e quando esses sintomas começaram. Se analisarmos o RS, vemos que os sintomas começaram a subir de forma exponencial em 31/01/2021. //7
E, no mesmo gráfico, podemos ver que os casos são os mais atrasados de todos (por isso a média móvel de 7 dias que faço sempre), começaram a subir só em março. Qual a conclusão? Não podemos tomar decisões de saúde pública com base nas notificações de casos. //8
Vamos agora ao ponto principal: o efeito da flexibilização. A mobilidade em Porto Alegre começou reduzir em comércio/trabalho/transporte público e aumentar em residências em 27/02 e ficou assim até 21/03, vejam: //9
A média móvel dos sintomas começou a ter queda em 05/03 e a média móvel da taxa de crescimento de novos casos começou a cair a partir de 10/03 (11 dias a partir da queda de mobilidade).
Até aí tudo bem, né? //10
O que aconteceu em 22/03? Flexibilizações. Quando estamos ainda com UTIs lotadas + fila de espera, um início de queda da taxa de crescimento indica que está COMEÇANDO a dar certo, e que tem de se manter assim até que a queda esteja SUSTENTADA. E o que é uma queda sustentada? //11
Vejam Portugal: Fez um lockdown mais rígido, teve queda sustentada (a média móvel da taxa caiu abaixo da linha do zero), reabriu e está enfrentando aumento, mas MUITO mais controlável (vejam) o total de casos por dia): //12
A mobilidade parece, cada vez mais, se observada com cuidado, ter correlações (NÃO causalidades!) com as tendências de aumento/queda de casos. Vejam a mobilidade de Porto Alegre X Canoas e me digam qual a cidade que está com queda e qual está com aumento na taxa de casos? //13
Porto Alegre, que tem uma mobilidade 24% menor em transporte público, e 13% menor em locais de trabalho, está com uma situação um pouco melhor que sua vizinha Canoas, que ainda mostra tendência de aumento na média móvel da taxa de crescimento. //14
Novamente deixo claro: esse é apenas UM fator, podem ter vários outros. Não dá pra sair inferindo causalidade, apenas uma correlação que vem ficando cada vez mais forte (mobilidade X aumento de doentes). //15
Estou aguardando os dados de mobilidade do Google para o RS relativos a essa primeira semana útil de flexibilização (22/03 a 26/03), mas os sintomas via Facebook mostraram já uma pontinha de aumento (vou considerar oscilação e não aumento real, precisamos de 7 dias firmes) //16
Tentei deixar bem explicado uma coisa que deveria parecer óbvia: não podemos aumentar a mobilidade (através da flexibilização de restrições) antes de termos uma queda SUSTENTADA, ou corremos o risco de acontecer isso que circulei nesse gráfico traduzido pelo @Capyvara: //17
Entendam isso e cobrem os responsáveis pelas tomadas de decisão de suas cidades/estados, mostrem a eles que tudo o que foi feito pode ser em vão, e que precisamos restringir mais antes de ter um "repique", ok?
Abraço e obrigado a todos. Cuidem-se e cuidem dos outros! //fim
Oi, pessoal. Ao analisarmos os dados do Brasil novamente (semana de 22 a 26/03/21) vemos tendência de crescimento em todos os estados e regiões, com alguns tentando escapar da exponencial. Vamos dar uma olhada? Segue o fio: 🧶//1
Primeiramente peço desculpas a vocês por ter pulado uma semana, tirei o final de semana passado para descansar e a semana foi puxada, não me deixando compensar, e acabamos chegando já no sábado seguinte! //2
Ao analisar o Brasil, vemos uma tentativa de estabilização da média móvel da taxa de crescimento de novos casos, mas em um patamar altíssimo. Isso se deve aos esforços de alguns estados que estão tentando baixar a mobilidade, mas de forma descoordenada. //3
Qual dessas duas alternativas seria considerada "otimismo"? 1. continuar tentando, mesmo depois de um ano, ensinar as pessoas a evitar a doença para reduzir o número de mortos; 2. Ir pra praia e viver normalmente em um país com pouquíssima vacina e hospitais lotados? //1
Eu peço de forma genuína, sem ironia. A cada dia que passa me lembro mais do Mohammed Saeed Al-Sahhaf, vocês lembram dele? Ele era "Ministro da Informação" do Iraque durante a invasão promovida pelos EUA em 2003. //2
Os americanos estavam literalmente DENTRO de Bagdá, destruindo tudo, e ele dizia na TV, confiante, que não havia invasão alguma, que estavam liquidando com os americanos. Lembro que fizeram chacota com ele, chamando-o de "Baghdad Bob". //3
Pessoal, agora estão dizendo que Araraquara, mesmo com o Lockdown, está tendo internações. Gente...sério? Vejam a mobilidade de Araraquara. Esperavam o que ao flexibilizar antes de reduzir bem a incidência? //1
Vejam aqui os casos...o lockdown, que aconteceu por um período muito curto, de apenas 10 dias (21/02/2021 a 02/03/2021) baixou a taxa de crescimento. Mas ficou negativa? não. Ficou ainda acima da linha do zero e a mobilidade já voltou.
Resultado? Nova tendência de aumento. //2
Não há milagre. Quando a incidência está alta, o lockdown leva mais tempo para reduzir os casos. Se fizer assim, fica mal feito e volta. Tem de reduzir até a taxa de crescimento virar taxa de queda, passar da linha do zero. Era só ter acompanhado isso antes de abrir. //3
Olá, pessoal! Vi que algumas pessoas ficaram, quase que ao mesmo tempo, dizendo que havia mais uma "cidade mágica" onde a COVID-19 não atacava. Dessa vez era São Lourenço, em MG. Fui dar uma olhada pra ver. Sigam o fio: 🧶//1
A primeira coisa que fui olhar, antes de tudo, foi a mobilidade, para ver como a cidade estava em relação ao pré pandemia. Percebi que a mobilidade de transporte público e comércio se manteve baixa desde janeiro. //2
Também percebi que teve um grande aumento em mercado e farmácias e, desde o final de fevereiro, uma pequena queda em residências e um aumento de locais de trabalho, como se a cidade tivesse "saído do período de férias". //3
Oi, pessoal. Vou fazer uma atualização rápida das situações das regiões e dos estados brasileiros para que possamos ver juntos qual o tamanho dessa onda (é grande😔). Sigam o fio: 🧶 //1
Olhando o gráfico do Brasil vemos que continuamos com tendência de crescimento tanto de casos como de óbitos, e que a média móvel da taxa infelizmente continua apontando pra cima. Pra mudar isso hoje, só com restrições de mobilidade. //3
Pessoal, um ponto importante que eu acredito que valha a pena abordar: estamos em uma época dura (a mais dura até aqui), e ver tantas internações, histórias de hospitais e, principalmente, óbitos (cada vez mais perto) nos modifica em algumas coisas. Sigam o fio: 🧶 //1
O que estamos vendo ao nosso redor pode causar ansiedade, pânico, e até desespero em algumas pessoas. Temos de nos ajudar e nos confortar. O desespero não é algo simples, não é apenas choro, e ele traz um comportamento consigo: //2
Ele faz com que queiramos muito, muito, achar boas notícias: isso nos deixa mais permissivos com algumas notícias que ainda são muito incipientes, ou seja, estão em fase inicial. Vemos algumas notícias que não estão nem em um preprint e já saímos celebrando. //3