Oi, pessoal. Ao analisarmos os dados do Brasil novamente (semana de 22 a 26/03/21) vemos tendência de crescimento em todos os estados e regiões, com alguns tentando escapar da exponencial. Vamos dar uma olhada? Segue o fio: 🧶//1
Primeiramente peço desculpas a vocês por ter pulado uma semana, tirei o final de semana passado para descansar e a semana foi puxada, não me deixando compensar, e acabamos chegando já no sábado seguinte! //2
Ao analisar o Brasil, vemos uma tentativa de estabilização da média móvel da taxa de crescimento de novos casos, mas em um patamar altíssimo. Isso se deve aos esforços de alguns estados que estão tentando baixar a mobilidade, mas de forma descoordenada. //3
Podemos ver que a linha de tendência de óbitos ainda é, infelizmente, bastante acentuada, mostrando que temos ainda dias críticos, e a previsão de 4.000 óbitos notificados/dia em 30/04 que fiz aqui é até otimista: oglobo.globo.com/sociedade/coro… //4
Como essa curva se forma? Vejam os gráficos das regiões do Brasil, começando por Norte e Nordeste. A região Norte, mesmo tendo sido atacada ferozmente, continua com tendência de crescimento..! Estados que estão puxando isso pra cima são AP e PA: //5
Macapá está com uma taxa de crescimento assustadora e a mobilidade pode nos ajudar a entender isso, pois apenas nos últimos 7 dias ela começou a cair, e só nos últimos 3 dias chegou a níveis que podem ajudar a baixar a taxa de crescimento. //6
Já o PA está subindo, mas vejo que Belém está com medidas de restrição a mais tempo. Ao analisar a mobilidade X taxas de crescimento de Belém, vemos que a mobilidade começou a reduzir já no início de março, e isso condiz com o início da estabilização da taxa que já vemos: //7
AC, RO, RR e TO estão todos com taxa de crescimento positiva, mas tentando estabilizar. Se percebe essa "luta" com a taxa muito devido a medidas descoordenadas, onde alguns municípios restringem, outros não, e o contágio acaba oscilando no estado desta forma: //8
Região Nordeste também com a taxa de crescimento mostrando aumento, mas de uma forma menos íngreme do que os locais totalmente afetados. Quem está puxando a região pra cima são principalmente MA, PE, PI e SE: //9
Aqui o gráfico do SE que não coube no tweet acima. Vejam como houve um "estouro". Aracaju também acompanha essa tendência, infelizmente. //10
Destes estados, o único que possui um tamanho de amostra legal para olharmos o report de sintomas é PE, e vemos que é praticamente igualzinho ao RS: as restrições parecem estar começando a querer fazer efeito. Percebam que o crescimento foi interrompido nos sintomas: //11
Aqui nesse fio eu mostro como é extremamente temerário e perigoso acabar com as restrições justo nesse momento de virada: //12
Teresina e São Luís preocupam muito, estão querendo "decolar". Já sabemos bem onde isso vai parar. Agora vejam Salvador, que parece estar fazendo o certo: a taxa de crescimento continua caindo, estabilizando os casos, e a mobilidade começou a cair desde o final de fevereiro: //13
E a BA parece seguir um caminho similar a Salvador. Tomara que seja coordenação entre estado e municípios. 🙏
CE está com aumento, mas tem represamento ali que bagunça a tendência, assim como RN. Já a PB está estável. //14
Agora aproveito para falarmos um pouquinho sobre "está estável". Isso é bom? É ruim? Tudo depende, e estável nem sempre é bom. No caso da PB, a estabilidade vem depois de um aumento (o que é bom) mas é em níveis muitos altos, comparáveis ao primeiro pico (horrível). //15
Novamente busco alguns países para vermos como é um controle. Vejam Portugal: chegou a 15 mil casos/dia, fez lockdown, caiu, e agora voltou a crescer (a taxa mostra), mas em uma incidência bem menor (˜500 casos/dia). Menos óbitos, com certeza. //16
A mesma coisa com o Reino Unido, voltou a subir, mas com menos incidência. A Austrália mantém a taxa próxima do zero, e vejam o gráfico de novos casos: lá embaixo, logo, zero óbitos. E a Nova Zelândia também: assim que sobe, corta pela raiz. //17
Entendendo isso, vamos voltar para nossa (infeliz) realidade. A região Centro-Oeste está complicada. A região está indicando crescimento da taxa de crescimento (perigo). GO oscilando, DF parece que começou a querer parar de desacelerar, e quem está subindo muito são MT e MS: //18
Vejam Campo Grande e Cuiabá, subindo bastante em casos, o que é bastante perigoso. Ao menos a mobilidade vem caindo (pouco, mas vem caindo). Tem de cair MUITO mais. //19
E o Sudeste? Percebem que em todas as regiões, a taxa de crescimento está muito parecida, a não ser nos locais com mais restrição de mobilidade? Não é por nada que tivemos 3.650 notificações de óbitos em um sábado (teve represamento da bagunça no SIVEP, mas mesmo assim. //20
Viram que ES, SP, e MG estão iguais à região inteira? Vejam o RJ: como eu já havia mostrado há três semanas atrás, eles apenas estavam atrasados, mas agora estão no mesmo caminho. A mobilidade do RJ oscila BASTANTE também, fica mais difícil de ver correlações. //21
Rio de Janeiro (capital) subindo bastante, Niterói também...é importantíssimo esse fechamento que @eduardopaes e @danielsoranz promoveram, e PRECISAM reduzir a mobilidade. Vejam os sintomas do World Survey para o estado do RJ: indicando aumento (perigo!) //22
Sintomas de SP? subindo. Sintomas de MG? subindo. Vejam a cidade "mágica" de São Lourenço: subindo. A mobilidade de SP chegou em um nível que pode ajudar, e tem de manter assim. MG precisa melhorar mais (reduzir a mobilidade). //23
Aqui a mobilidade de MG, que não coube no tweet anterior. Tem de ficar em níveis baixos por ao menos 30 dias para ter queda sustentada. Aqui explico como ler esse gráfico: //24
Agora o fio chegou na capacidade máxima (25 tweets), e aí irei emendar outro ao final para falarmos da região Sul, que é a mais "diferente" (mas parece que está trabalhando para voltar a crescer 🤦‍♂️🤦‍♂️ //25
Vamos ver a região Sul, então? Vejam só o gráfico da região, mostrando uma queda na média móvel da taxa de crescimento...isso parece ser bom, mas precisamos entender como chegamos aqui e o que estamos fazendo para continuar essa queda. //26
PR é um problema a parte, devido ao represamento, bagunça toda a tendência. Dá pra ver que está em uma espécie de estabilidade, e quando olhamos para o gráfico de sintomas, percebemos que está crescendo, mas parece que tem uma "força" segurando para baixo...//27
Essa força provavelmente é Curitiba (e a região metropolitana), pois após as restrições feitas pelo prefeito, a mobilidade caiu bastante, inclusive puxando a mobilidade do estado junto. Mas vemos que tem municípios que estão a mil, como Francisco Beltrão. //28
O gráfico de Curitiba nem valeria a pena botar, mas boto aqui só para vocês verem como o represamento atrapalha tudo. Percebam que tem um dia que chega a ter mais de 40 mil casos notificados...a tendência é de aumento, mas não dá para confiar. @FernandoCesar me ensinou isso. //29
SC vem oscilando em uma estabilidade alta, mas daquelas estabilidades ruins, em níveis altos, e apontando para tendência de crescimento. As regras de restrições da grande Florianópolis oscilaram bastante, e a mobilidade oscilou junto, mas está em nível baixo. //30
O RS foi extremamente atacado (Vejam o absurdo do gráfico de óbitos de todo o período) e aí tomou a decisão de ter restrições fortes de 27/02 a 21/03. A taxa de crescimento mostra que isso parecia estar fazendo efeito, mas nada ainda como os países europeus. //31
Mas aí, a partir de 22/03, começaram flexibilizações. A mobilidade está disponível até 23/03, e já havia começado a voltar a subir em locais de trabalho. O que começou a acontecer, de maneira quase que óbvia? Sintomas voltando a querer crescer: //32
Pensem num estado com as UTIs lotadas, fila de espera, e uma reversão de tendência na curva das pessoas reportando sintomas. Ah, e é um estado que piora todos os anos no outono/inverno, que é pra onde estamos indo. Eu tenho até medo de pensar o que pode acontecer. //33
Esse detalhe da ocupação hospitalar do RS me assusta demais. 75% dos pacientes internados em UTI tem COVID-19 confirmada. Setenta e cinco a cada cem. //34
Vejam algumas cidades, como Canoas, Caxias do Sul e Porto Alegre: todas com a média móvel da taxa de crescimento muito similar, não é? As restrições de 27/02 a 21/03 foram coordenadas a nível estadual. Aí os municípios se portam igual. Um bom exemplo de pq precisa coordenar. //35
E qual o resumo de todo esse monte de gráficos, Isaac? O Brasil está chegando em um ponto decisivo: ou se coordena e restringe a mobilidade de verdade, evitando uma exponencial generalizada, ou passará para uma onda que pode levar aos 5.000 óbitos diários ainda em Maio. //36
É triste, mas fica cada vez mais claro, ao analisar todas as regiões, que os casos estão aumentando, os hospitais estão esgotados, e isso aumenta a mortalidade demais, por isso a previsão de 5.000 não é "maluca". Eu previ 4000 e o Prof. Carlos Machado previu os 5.000. //fim
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27 Mar
Qual dessas duas alternativas seria considerada "otimismo"?
1. continuar tentando, mesmo depois de um ano, ensinar as pessoas a evitar a doença para reduzir o número de mortos;
2. Ir pra praia e viver normalmente em um país com pouquíssima vacina e hospitais lotados? //1
Eu peço de forma genuína, sem ironia. A cada dia que passa me lembro mais do Mohammed Saeed Al-Sahhaf, vocês lembram dele? Ele era "Ministro da Informação" do Iraque durante a invasão promovida pelos EUA em 2003. //2
Os americanos estavam literalmente DENTRO de Bagdá, destruindo tudo, e ele dizia na TV, confiante, que não havia invasão alguma, que estavam liquidando com os americanos. Lembro que fizeram chacota com ele, chamando-o de "Baghdad Bob". //3
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26 Mar
Oi, pessoal. Este fio vai usar dados do estado do RS, mas tem outros estados, como o PE do meu amigo @b_ishigami que também estão nessa. O que pode acontecer quando um estado flexibiliza as restrições antes de uma queda sustentada? Segue o fio: 🧶//1
Para que todos entendam a situação: O estado do RS teve um aumento exponencial de casos de COVID-19, e este aumento apareceu primeiramente nos hospitais, na metade de fevereiro de 2021. Como que o aumento pode ter aparecido primeiro nos hospitais e não nos casos? //2
Infelizmente, é simples: testagem "reativa", como costumo chamar. Testamos apenas quem tem sintomas e também quem se importa com esses sintomas a ponto de ir buscar ajuda. Se uma pessoa acha que está com gripe e não busca ajuda, ela passa "por baixo do radar". //3
Read 20 tweets
23 Mar
Pessoal, agora estão dizendo que Araraquara, mesmo com o Lockdown, está tendo internações. Gente...sério? Vejam a mobilidade de Araraquara. Esperavam o que ao flexibilizar antes de reduzir bem a incidência? //1
Vejam aqui os casos...o lockdown, que aconteceu por um período muito curto, de apenas 10 dias (21/02/2021 a 02/03/2021) baixou a taxa de crescimento. Mas ficou negativa? não. Ficou ainda acima da linha do zero e a mobilidade já voltou.

Resultado? Nova tendência de aumento. //2
Não há milagre. Quando a incidência está alta, o lockdown leva mais tempo para reduzir os casos. Se fizer assim, fica mal feito e volta. Tem de reduzir até a taxa de crescimento virar taxa de queda, passar da linha do zero. Era só ter acompanhado isso antes de abrir. //3
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17 Mar
Olá, pessoal! Vi que algumas pessoas ficaram, quase que ao mesmo tempo, dizendo que havia mais uma "cidade mágica" onde a COVID-19 não atacava. Dessa vez era São Lourenço, em MG. Fui dar uma olhada pra ver. Sigam o fio: 🧶//1
A primeira coisa que fui olhar, antes de tudo, foi a mobilidade, para ver como a cidade estava em relação ao pré pandemia. Percebi que a mobilidade de transporte público e comércio se manteve baixa desde janeiro. //2
Também percebi que teve um grande aumento em mercado e farmácias e, desde o final de fevereiro, uma pequena queda em residências e um aumento de locais de trabalho, como se a cidade tivesse "saído do período de férias". //3
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14 Mar
Oi, pessoal. Vou fazer uma atualização rápida das situações das regiões e dos estados brasileiros para que possamos ver juntos qual o tamanho dessa onda (é grande😔). Sigam o fio: 🧶 //1
Primeiro queria lembrar vocês que todos os fios anteriores que fiz podem ser acessados aqui: threadreaderapp.com/user/@schrarst… e que também pode encontrar eles e mais no Notion da @analise_covid19 : notion.so/Rede-An-lise-C…
Muito conteúdo que vale a pena. //2
Olhando o gráfico do Brasil vemos que continuamos com tendência de crescimento tanto de casos como de óbitos, e que a média móvel da taxa infelizmente continua apontando pra cima. Pra mudar isso hoje, só com restrições de mobilidade. //3
Read 33 tweets
12 Mar
Pessoal, um ponto importante que eu acredito que valha a pena abordar: estamos em uma época dura (a mais dura até aqui), e ver tantas internações, histórias de hospitais e, principalmente, óbitos (cada vez mais perto) nos modifica em algumas coisas. Sigam o fio: 🧶 //1
O que estamos vendo ao nosso redor pode causar ansiedade, pânico, e até desespero em algumas pessoas. Temos de nos ajudar e nos confortar. O desespero não é algo simples, não é apenas choro, e ele traz um comportamento consigo: //2
Ele faz com que queiramos muito, muito, achar boas notícias: isso nos deixa mais permissivos com algumas notícias que ainda são muito incipientes, ou seja, estão em fase inicial. Vemos algumas notícias que não estão nem em um preprint e já saímos celebrando. //3
Read 6 tweets

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