Estão chegando relatos de nebulização (inalação) de comprimidos macerados de cloroquina. Se você sabe de algum/a médico/a que esteja prescrevendo este absurdo, DENUNCIE O/A PROFISSIONAL AOS ÓRGÃOS COMPETENTES. Trata-se de um absurdo.
Independente da ausência de eficácia do medicamento para covid-19, comprimidos não foram feitos para serem inalados. Além da própria ação irritante da cloroquina nas vias aéreas, o talco usado nos comprimidos pode piorar ainda mais o estado pulmonar.
Quando me contaram dessa história, achei que era meme, de tão surreal. O mero fato da existência de médicos que fazem esse tipo de prescrição e políticos que a divulgam é um sinal de que a sociedade brasileira está MUITO DOENTE.
Nota: onde eu escrevi 'cloroquina', para economizar caracteres, leia-se 'hidroxicloroquina' ou 'cloroquina'. Leia-se, aliás, qualquer coisa que tenha sido formulada em comprimidos. Comprimidos foram feitos para serem engolidos e não inalados.
Eita, acho isso tão descabido que escrevi 'absurdo' duas vezes.
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Diante da atuação anticientífica de parte dos médicos durante a pandemia no Brasil, @nilmoretto fez uma pergunta cândida e importante: "Pergunta sincera: médico não estuda método científico na faculdade?"
Prometi para ela que faria uma #aulacordel para tentar responder. Aí vai.
A resposta curta é 'NA TEORIA, SIM'. O marco legal básico para o ensino médico são as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, do Ministério da Educação. A última edição é de 2014 e determina que os estudantes devem desenvolver essas competências aí.
Muitos cursos tentam cumprir, das mais diversas formas, essa missão. Aqui na Unicamp os alunos de primeiro ano fazem uma disciplina na qual eles devem, com ajuda de orientadores, elaborar (mas não necessariamente executar) um projeto de pesquisa científico.
Eis uma imagem para explicitar por que a fala de Xuxa sobre realizar experimentos médicos em prisioneiros é fascista, provavelmente sem que ela tenha a menor ideia.
Trata-se de uma caricatura publicada em 1933 na qual animais saúdam o líder nazista Herman Göring.
Pouca gente sabe, mas o Nazismo era extremamente preocupado com o bem-estar animal.
Hitler tornou-se vegetariano e seu partido aprovou várias leis que foram da regulação do abate (passou a ser feito com anestésico) à proibição da vivissecção (a dissecação de animais vivos).
Por outro lado, sabemos bem o que o médico Josef Mengele - cujo sobrenome, por coincidência, é incomodamente semelhante ao de Xuxa Meneghel - e mais médicos nazistas fizeram com doentes mentais, judeus, homossexuais e outras minorias encarceradas em campos de concentração.
Na mais recente live de quinta-feira divulgada pelo Facebook de @JairBolsonaro e nas redes sociais de seu filho @BolsonaroSP cometem-se erros básicos - e graves - sobre prevenção do suicídio. Acompanhe essa breve #aulacordel para entender melhor.
Antes de começar, é importante ter alguma delicadeza, este é um tema espinhoso.
Se você tem tido pensamentos sobre desistir de viver, é melhor evitar ler este tipo de conteúdo, ele pode disparar gatilhos.
Pare por aqui, ligue para o @CVVoficial pelo número 188 e busque ajuda.
Usando um cientista como fantoche - Marcelo Morales, do Min. da Ciência e Tecnologia - para dar legitimidade ao seu governo negacionaista e incompetente, Jair Bolsonaro, seguiu sua tradição e argumentou que o lockdown causa suicídios, lendo, ao vivo, uma nota de suicídio.
Há várias razões para se preocupar com a nomeação de Bernardon, do ponto de vista político-ideológico. Aplicar e estudar ECT não é uma delas, na minha opinião, e neste sentido acho que a manchete dá um tiro no pé. [+]
O ECT foi usado como tortura e isso é abominável, mas se for feito de maneira correta tem aplicações terapêuticas.
Eu, como muitos psiquiatras, já vi gente que morreria se não tivesse feito ECT. Como qualquer outro tratamento, ele precisa ser regulamentado e FISCALIZADO.
Eu sempre fico um pouco espantado como haja pessoas que são favoráveis à regulação do ECT e ao mesmo tempo querem proibir o uso terapêutico da maconha, e vice-versa.
Os rumos da saúde mental no Brasil são gravíssimos e extremamente preocupantes, mas as razões são outras.
O primeiro deles é: "a ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe benefício ou não com o uso desses fármacos." O argumento é falso e ignorante.
É ignorante porque qualquer um que entenda minimamente o que é a ciência sabe que ela não tem respostas 'definitivas'.
É falso porque a ausência de evidências de benefício neste momento é justamente a precisa razão que deveria impedir que um médico prescrevesse o tratamento.
O segundo argumento negacionista é que os supostos opositores do CFM "dão opiniões [...] com cunho político e ideológico".
Acaba de sair um artigo científico brasileiro que avança um passo no sentido de demonstrar uma potencial proteção a formas graves da covid-19 pela infecção prévia com o vírus da dengue.
Segue o cordel para entender essa rinha de vírus.
Vou resumir os achados do artigo abaixo, publicado por cientistas brasileiros da UFAC, Unicamp e UFPR, e um infectologista da Harvard. O artigo se chama 'Previous dengue infection and mortality in COVID-19' e saiu na revista Clinical Infectious Diseases.
Essa ideia já tinha sido proposta há 3 meses em um pré-print (artigo ainda não publicado em revista científica) do neurocientista @MiguelNicolelis, em um estudo que é mais preliminar, por ter usado dados populacionais e não individuais (estudo ecológico). medrxiv.org/content/10.110…