A FAMÍLIA BOLSONARO E O SUICÍDIO

Na mais recente live de quinta-feira divulgada pelo Facebook de @JairBolsonaro e nas redes sociais de seu filho @BolsonaroSP cometem-se erros básicos - e graves - sobre prevenção do suicídio. Acompanhe essa breve #aulacordel para entender melhor.
Antes de começar, é importante ter alguma delicadeza, este é um tema espinhoso.

Se você tem tido pensamentos sobre desistir de viver, é melhor evitar ler este tipo de conteúdo, ele pode disparar gatilhos.

Pare por aqui, ligue para o @CVVoficial pelo número 188 e busque ajuda.
Usando um cientista como fantoche - Marcelo Morales, do Min. da Ciência e Tecnologia - para dar legitimidade ao seu governo negacionaista e incompetente, Jair Bolsonaro, seguiu sua tradição e argumentou que o lockdown causa suicídios, lendo, ao vivo, uma nota de suicídio.
Não satisfeito em mandar as pessoas enfiarem a máscara 'no rabo' no dia anterior, seu filho Eduardo postou, em suas redes sociais, a nota na íntegra e ainda uma foto do corpo da suposta vítima. Fiquem tranquilos, já foi deletado, seja por denúncia, seja porque ele apanhou muito.
Em sua forma 'rústica' e 'doméstica' de fazer comunicação, os Bolsonaro cometeram uma série de erros crassos, conhecidos há muito tempo pelo profissionais de imprensa e fartamente orientada nos manuais de prevenção de suicídio estabelecidos com base em evidências.
Há tempos se sabe que o suicídio tem aspectos de contágio, dependendo de como ele é noticiado ou até mesmo com aparece em peças de ficção. O nome dado a este fenômeno é 'efeito Werther', observado pela primeira vez na Alemanha do século XVIII, por conta de um livro de Goethe.
Naquela ocasião, houve um surto de ocorrências de suicídio que coincidiram com o lançamento do romance 'Os Sofrimentos do Jovem Werther', no qual o protagonista se matava (eita, foi mal, dei spoiler).

As pesquisas atuais sobre o efeito Wether parecem confirmar sua existência.
O efeito existe não só para livros, como para séries e filmes. Foi por isso que na ocasião do lançamento de '13 Reasons Why', uma série que tinha a intenção de alertar sobre bullying e suicídio, eu apontei alguns de seus erros em um post de Facebook.

facebook.com/lftofoli/posts…
Ao desprezarem a imprensa oficial e privilegiarem o que entendem ser uma comunicação direta com seus eleitores, os Bolsonaro ignoram regras básicas conhecidas pelos jornalistas profissionais e já divulgados há já 20 anos pela OMS - e em português: who.int/mental_health/…
Isso é ainda mais grave se considerarmos que o próprio presidente se preocupa com o risco de suicídio de um dos membros de sua família, como foi revelado no 'Retrato Narrado' da jornalista @LeticiaDuarte, podcast produzido pela @RevistaPiaui e @SpotifyBR.
piaui.folha.uol.com.br/radio-piaui/re…
Ainda, o grau de insensibilidade na voz em que lê a nota de suicídio transborda o que é: alguém incapaz de sensibilizar pelas mortes de outrem. Se as mortes pela pandemia são 'mimimi', o suposto suicídio nada mais é do que um ponto argumentativo para ele.
Algo pode ser feito? Sim! O vídeo no Facebook pode e deve ser denunciado.

Visite-o no link abaixo, clique em 'Denunciar Vídeo' no menu '...', selecione 'Suicídio ou automutilação', depois 'Avançar' e, por fim, clique em 'Pedir para darmos uma olhada'.
fb.watch/4b09hYhKO9/
E claro, se você se incomoda minimamente com o fato do líder máximo da nação seja um homem absolutamente incapaz de demonstrar de forma genuína um mínimo de empatia, VOTE EM QUALQUER OUTRO CANDIDATO PARA PRESIDENTE EM 2022.

#FORABOLSONARO!

Se você é psiquiatra, pode cobrar um posicionamento oficial da Associação Brasileira de Psiquiatria (@abpsiquiatria), tão diligente em divulgar o Setembro Amarelo mas tão lerda em criticar o acesso a armas (fator de risco para suicídio) ou qualquer coisa que venha dos Bolsonaro.
Como adendo a esta #aulacordel eu recomendo esse excelente texto do @JoseGallucci e do @BrunoniProf no @IQCiencia, que resume todas as evidências, que não apontam relação entre lockdown e suicídio (além de falar também do efeito Werther).
revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2021/03…

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18 Feb
Péssima a manchete da @Folha.

Há várias razões para se preocupar com a nomeação de Bernardon, do ponto de vista político-ideológico. Aplicar e estudar ECT não é uma delas, na minha opinião, e neste sentido acho que a manchete dá um tiro no pé. [+]
O ECT foi usado como tortura e isso é abominável, mas se for feito de maneira correta tem aplicações terapêuticas.

Eu, como muitos psiquiatras, já vi gente que morreria se não tivesse feito ECT. Como qualquer outro tratamento, ele precisa ser regulamentado e FISCALIZADO.
Eu sempre fico um pouco espantado como haja pessoas que são favoráveis à regulação do ECT e ao mesmo tempo querem proibir o uso terapêutico da maconha, e vice-versa.

Os rumos da saúde mental no Brasil são gravíssimos e extremamente preocupantes, mas as razões são outras.
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25 Jan
Bem, o presidente do @Medicina_CFM se posicionou na @Folha sobre o 'tratamento precoce', usando dois argumentos que são o refúgio dos negacionistas.

www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/0…
O primeiro deles é: "a ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe benefício ou não com o uso desses fármacos." O argumento é falso e ignorante.

É ignorante porque qualquer um que entenda minimamente o que é a ciência sabe que ela não tem respostas 'definitivas'.
É falso porque a ausência de evidências de benefício neste momento é justamente a precisa razão que deveria impedir que um médico prescrevesse o tratamento.

O segundo argumento negacionista é que os supostos opositores do CFM "dão opiniões [...] com cunho político e ideológico".
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31 Dec 20
Acaba de sair um artigo científico brasileiro que avança um passo no sentido de demonstrar uma potencial proteção a formas graves da covid-19 pela infecção prévia com o vírus da dengue.

Segue o cordel para entender essa rinha de vírus.
Vou resumir os achados do artigo abaixo, publicado por cientistas brasileiros da UFAC, Unicamp e UFPR, e um infectologista da Harvard. O artigo se chama 'Previous dengue infection and mortality in COVID-19' e saiu na revista Clinical Infectious Diseases.

academic.oup.com/cid/advance-ar…
Essa ideia já tinha sido proposta há 3 meses em um pré-print (artigo ainda não publicado em revista científica) do neurocientista @MiguelNicolelis, em um estudo que é mais preliminar, por ter usado dados populacionais e não individuais (estudo ecológico).
medrxiv.org/content/10.110…
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11 Dec 20
Você viram o abaixo-assinado de mil psiquiatras contra o revogaço nas políticas públicas de saúde mental que o governo Bolsonaro quer fazer com o conluio da Associação Brasileira de Psiquiatria?

Aqui está a prova de que há psiquiatras que não concordam com isso. Segue o cordel.
Apenas alguns dias depois da notícia de que o governo brasileiro quer deletar e reescrever a política de saúde mental que vem sendo construída desde 1991, saiu um manifesto assinado por mil psiquiatras que é contrário à decisão.
medium.com/@leipsi/manife…
Apesar da ABP dizer que representa os cerca de 12 mil psiquiatras no Brasil, a entidade tem não mais que cerca de 1/3 desse número. Quando mil psiquiatras se juntam e dizem que não concordam, o argumento corporativista da entidade perde força.
www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
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8 Dec 20
A excelente matéria da @CollucciClaudia na @Folha sobre as pretendidas mudanças na Saúde Mental vale um cordel de comentários à parte.

Aqui está o link (sim, eu sei que tem paywall, mas vem comigo que eu dou alguns spoilers do que tem lá dentro):

www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Em primeiro lugar, a narrativa clássica do bolsonarismo de que a notícia de que queriam mudar as portariasde saúde mental e extinguir serviços eram 'fake news' já cai por terra.

O próprio Ministério da Saúde admite que tinha a intenção de revogar portaria.
Está na proposta:

1. Extinguir o Programa de Volta para Casa, que facilita o retorno de moradores crônicos de hospitais psiquiátricos para a comunidade;

2. Acabar com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para tratamento de problemas relacionados ao uso de álcool e drogas;
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8 Dec 20
Mas afinal de contas, o que é que o Governo Bolsonaro está querendo fazer com a rede pública de Atenção à Saúde Mental do Brasil?

Vou explicar nesse cordel porque o que estão tentando fazer não parece ser nada republicano ou democrático. Segue aí pra entender.
Tudo começou com o vazamento de informações sobre uma reunião virtual do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (@CONASSOficial) que aconteceu do dia 3 de dezembro último.

Na pauta da reunião, uma proposta de mudança drástica nas políticas de saúde mental no país.
Em uma apresentação se explicava que, baseado em um documento capitaneado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e um grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde, se pretenderia 'rever a atual política de saúde mental e a RAPS [Rede de Atenção Psicossocial]'.
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