Bolsonaro vai testar as armas para ver se consegue ir para sua batalha de Berlim. A queda de Ernesto Araújo e agora a demissão de Azevedo e Silva, indicam isso. Mas ele não está indo para o tudo ou nada, ele está testando para ver se consegue ir para a batalha final (1/10)
O grande ponto é que Bolsonaro está sem o STF -- e se descobriu dependente dos presidentes da Câmara e do Senado que ele gastou tudo para eleger. Agora, ele abriu pela primeira vez um confronto aberto com o alto comando do Exército (2/10).
Não é que chegamos aqui porque "Bolsonaro ganhou a 'guerra cultural' em 2020" como disse Elio Gaspari. Bolsonaro esteve nas cordas, mas foi salvo pelo gongo (tocado antecipadamente) pela turma que separa isso daí em "ala ideológica" e "ala técnica" (3/10).
Os liberais passaram 2020 inteiro divididos em dois projetos: ou tentar domesticar e controlar Bolsonaro ou deixa-lo como zumbi para eleger o candidato de "centro" quem quer que fosse -- Maia, Doria ou mesmo FHC e Huck estavam no segundo time, embora separados entre eles (4/10).
O segundo time apostou numa segunda onda leve para, inclusive, que Bolsonaro fizesse as "reformas" que interessavam à banca, mas eram amplamente impopulares (5/10).
Percebam, Kátia Abreu, que foi vice de Ciro, em pessoa, ainda estava tentando chamar Ernesto Araújo ao bom senso, de que ainda que a estupidez de bloquear o 5G chinês fosse válida (não é), esse DEFINITIVAMENTE não seria o momento de colocar isso na mesa (6/10).
Kátia tinha razão no que dizia, mas não para quem dizia. Ernesto, vendo que ia cair, entregou Kátia para mostrar para a base um suposto complô "globalista chinês" -- quem sabe poderia se sustentar ou cair bem. Mas o Senado agiu com dureza pela trairagem dele (7/10).
Ernesto violou uma regra de ouro da política, que é entregar interlocutores -- que ele, por sinal, nem deveria ter. Mas isso entrega a maneira limítrofe como o "Centrão" ainda encara uma situação grave em nome de interesses econômicos de curto prazo (8/10).
Se Bolsonaro se beneficiou do paradoxo de entregar arrochos que só ele poderia fazer, por outro lado, seu projeto é indissociável de uma geopolítica alheia até mesmo ao interesse da oligarquia -- isso, num cenário de descalabro total pandêmico, chega num limite de stress (9/10).
O que nos interessa é pressionar Bolsonaro até o fim agora, se utilizando da rota de colisão dele com o Centrão, mas também os militares e o STF. E os ratos pulam do barco porque eles assentiram com algo que já em 2020 nós sabíamos que produzir um gigantesco desastre (10/10).
P.S.: A responsabilidade histórica sobre como aqui chegamos é digna dos alemães perante o Nazismo como lembra o @JamesHerminio . De certa forma, entre apoio, colaboração e oposição demasiada moderada ou desorganizada, temos todos algum grau de responsabilidade sobre isto sim.
P.S. do B.: A divisão entre "ala técnica" e "ala ideológica" se aplicaria da mesma forma cínica e despropositada ao Nazismo. Inclusive, foi a causa de absolvição de muitos nazistas em Nuremberg, vide o ídolo de Paulo Guedes, Hjalmar Schach.

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8 Mar
A decisão de Fachin foi acertada no teor, mas não deixa de ser uma meia-verdade, embora revele uma parte da grande farsa que foi a Lava Jato - onde uma vara da Justiça Federal em Curitiba passou a ter competência jurisdicional total, o que sempre foi uma aberração. Entenda (1/7):
Sempre que eu discuti Lava Jato com os amigos, sobretudo com o pessoal de fora do Direito, eu enfatizava: "para começo de conversa, como TUDO AQUILO pode ter tramitado na Justiça Federal de Curitiba?" (2/7).
Sim, porque na "Lava Jato" para além de uma mistura entre polícia, acusação e judiciário, havia uma bisonha lógica de que TODOS AQUELES FATOS TERIAM CONEXÃO ENTRE SI. Não tinham, é óbvio (3/7).
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4 Mar
Aécio Neves, quem diria, volta à cena com Lira no comando da Câmara. Isso mostra que a sucessão de Rodrigo Maia, menos que uma vitória de Bolsonaro, ilustra uma sofisticada e sorrateira nas fileiras da "direita tradicional" pelo poder. Entendam (1/10).
Em 2014, Aécio se afastou do que seria uma colaboracionismo com o Lulismo e retomou uma linha FHCista no PSDB. Mais do que isso, subiu como ninguém o tom, baixando o nível, contra uma combalida Dilma (2/10).
Ele, Aécio, surfou na onda do direitismo que é *também* um dos efeitos de 2013. Mas na hora H, ele não enfiou o pé, sabe-se lá para onde, para vencer Dilma. Há quem diga que se negou, inclusive, a permitir Bolsonaro no seu palanque. Perdeu, por pouco (3/10).
Read 13 tweets
3 Mar
Há quase um ano eu comentei, no thread compartilhado abaixo sobre o cenário catastrófico da economia brasileira. Risco de inflação, descontrole e, inclusive, alta dos juros pelo cenário versus a política econômica de Bolsonaro-Guedes (1/10).
Muitas coisas estão se confirmando agora, mas tudo tende a ser pior pelo descontrole da pandemia e da farsa dos últimos meses. Havia um mundaréu de coisas que foram ignoradas, talvez pelos motivos errados, um deles é a inflação (2/10).
Guedes culpa o auxílio-emergencial pelo aumento dos preços, mas (1) ele sabe que isso é mentira; (2) ele conta essa história porque odeia o fato de ter precisado dar o auxílio e, ainda, precisa de um argumento para estruturar um arrocho pós-pandemia (3/10).
Read 13 tweets
31 Jan
As revelações das conversas entre Moro e Dallagnol são estarrecedoras. O STF precisa ter coragem de anular as condenações de Lula, mas também libertar o hacker que tornou públicas essa conversa. Se não continuaremos neste atoleiro (1/7).
Há colegas falando em "prova ilícita", mas vejam: o hacker agiu em legítima defesa de terceiro não em benefício próprio. As conversas eram feitas em meio privado pela natureza clandestina e criminosa da prática, sendo que elas se referiam a algo público, os processos (2/7).
Ninguém vazou conversas privadas de Moro e Dallagnol. Aquelas conversas deveriam estar em meios oficiais, como o e-mail institucional deles, mas evidentemente isso não ia ser tratado por lá pela *natureza* do conteúdo (3/7).
Read 7 tweets
28 Jan
Interessante a movimentação alemã, e por consequência europeia, em direção da China e se afastando dos EUA. Isso é um dos maiores movimentos de placa tectônica desde o fim da URSS e está quase sendo ignorado no Brasil (1/7).
Até Obama, havia um processo de globalização em curso, uma competição cooperativa entre China e EUA e, do outro lado, um alinhamento quase total da Europa com os EUA, na economia e na política (2/7).
A Europa, p.ex., tinha um enorme comércio com a China, mas não um acordo de investimentos. Isso, por incrível que pareça, só saiu agora e é parte dessa movimentação (3/7).
Read 9 tweets
11 Jan
A China parecia condenada a ser um enorme parque industrial para produzir as invenções, designs e modelos desenvolvidos na Califórnia, mas ela inverteu essa relação, o que deixou os EUA de cabelo em pé e virou o mote da tensão sino-americana (1/5).
Pois bem, quem mais se incomoda com o avanço da China na vanguarda tecnológica nem são as empresas de alta tecnologia do Vale do Silício, mas um capital velho dos EUA que vê nessa "ultrapassagem" um tema para tomar o poder como tomaram em 2016 (2/5).
Por que a China tomou a dianteira em coisas como 5G, fusão nuclear, automóveis elétricos? Pela capacidade de investir organizando e organizar investindo. Isso, aparentemente, acabou no Ocidente depois de 2008 (3/5).
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