BOLSONARO ASSUMIU PROPOSITALMENTE O RISCO DE MATAR BRASILEIROS
Pautado por uma ideia absurda de que “70%” do país pegaria o vírus e seria melhor acelerar o contágio, o presidente estimulou a infecção e, no mínimo, assumiu o risco de provocar, como resultado, a morte.
Segue o 🧶
Na pandemia, o termo “imunidade de rebanho” ganhou popularidade: a ideia é que, com uma certa porcentagem de pessoas infectadas, a transmissão da doença seja interrompida. É para deixar tudo aberto então? Especialistas desaconselhavam: milhões morreriam. bbc.com/portuguese/int…
A tese de que o contágio da população ajudaria a alcançar a imunidade coletiva mais rápido, e que isso valeria a pena, não era inédita: no Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson chegou a querer botá-la em prática, mas foi demovido por um estudo. oglobo.globo.com/sociedade/estu…
A projeção do Imperial College London (ICL) apontava que o país poderia enfrentar 500.000 mil mortos se a doença avançasse sem nenhum controle. Ele ouviu. E, hoje, se tornou um entusiasta do lockdown. Ele escutou a ciência e colheu os frutos. sbtnews.com.br/noticia/Mundo/…
O problema do Brasil é que o Bolsonaro não escutou. O ICL fez a mesma projeção para o caso brasileiro e mostrou o risco do descontrole. O Ministério da Saúde, por sua vez, previu a possibilidade de chegarmos a 180 mil mortos em 2020. Ele tampou os ouvidos. noticias.uol.com.br/politica/ultim…
Então Bolsonaro passaria a repetir que os brasileiros deveriam pegar a Covid-19 logo. Para ele, era inevitável que 70% da população contraísse o vírus. Ignorando os alertas e aceitando que provocaria mortes no meio do caminho, o presidente insistiu nisso. Temos vídeos. Segue 👇🏼
No dia 1º de abril de 2020, em entrevista ao Datena na TV Bandeirantes, ele foi explícito: “A garotada abaixo de 40 anos, a princípio contraindo vírus, não vai ter problema. Se infectando agora, vai ser uma barreira no futuro para não transmitir o vírus aos mais idosos”
(A gente nem deveria precisar explicar porque a ideia é absurda. Um ano depois, os jovens se tornariam maioria nos leitos de UTI. E, bom: o eterno e inesquecível Paulo Gustavo tinha apenas 42 anos. Da doença, a gente tem é que escapar). www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Na manhã do dia 02 de abril, Bolsonaro caçoou de quem tinha “medinho do vírus”, dizendo que a infecção de 70% dos brasileiros era inevitável.
Bolsonaro voltaria a repetir essa ideia na noite daquele mesmo dia, ao ser entrevistado para a Jovem Pan. De novo, ele insiste que a infecção de 70% dos brasileiros seria inevitável e que apenas assim se criaria uma imunidade de rebanho para finalmente acabar a pandemia no país.
(Uma curiosidade: no dia 18 de dezembro de 2020, uma pesquisa apontou que 76% da população de Manaus tinha os anticorpos contra a Covid-19. O percentual mágico para a famosa imunidade de rebanho, né? Bom, o Brasil viu o que a cidade enfrentou em janeiro) istoedinheiro.com.br/estudo-aponta-…
Mas o presidente ficou obcecado com essa tese. Tanto que, na manhã seguinte, em 03 de abril, decidiu repetir tudo para os seus apoiadores: “Esse vírus é igual uma chuva. Vai molhar 70% de vocês”. Para ele, a população só ficaria livre da pandemia quando 70% se infectasse.
Já no dia 20 de abril de 2020, em pronunciamento à imprensa – logo após participar de um ato golpista, realizado em frente a um quartel-general – , Bolsonaro mais uma vez mostrou ser um entusiasta dessa tese. Disse que “não tinha como escapar”.
Em 28 de abril, após ser informado pela repórter que o Brasil havia ultrapassado a China no número de mortes, ele respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Em seguida, repetiu: 70% vai ser infectado.
O percentual voltaria a aparecer em um vídeo gravado no dia 09 de maio, data em que o Brasil atingiu a infeliz marca de 10.000 mortos. O dia era triste, mas Bolsonaro estava aproveitando no seu jet-ski, onde voltou a pregar a infecção do povo e repetiu a ladainha dos 70%:
Em 11 de maio, questionado sobre o lockdown em Recife: "É pior pô. O vírus vai atingir 70%". Quando Bolsonaro testou positivo para a Covid-19, em 07 de julho, ele falou: “É como uma chuva, vai atingir vocês”. E TEVE MUITO MAIS. Fiquemos nos exemplos para avançar no assunto:
Bolsonaro agiu, seja por atos oficiais ou pelo exemplo, para sabotar o isolamento. Aglomerou sem máscara inúmeras vezes, mas também editou decretos para transformar até salões de beleza em serviço essencial e vetou a obrigatoriedade do uso de máscaras.
A questão é mostrar que foi proposital: Bolsonaro assumiu conscientemente o risco de provocar a morte dos brasileiros quando agiu deliberadamente para aumentar a transmissão da Covid-19 em nome da imunidade de rebanho. Isso é essencial para mostrar que tratamos de um assassino.
E da onde veio essa ideia maluca, esdrúxula e homicida? Será que veio do Osmar Terra (MDB), conselheiro informal do presidente que previu apenas 2.000 mortes no país para a doença em toda a pandemia? br.noticias.yahoo.com/bolsonaro-teve…
Bom, no dia 25 de abril de 2020, o deputado deu uma entrevista para a CNN Brasil. Nela, Osmar Terra não só diz que está alinhado com o presidente como também volta a falar sobre os 70% que seriam capazes de gerar a imunidade de rebanho. Esse relacionamento vale a atenção da CPI.
Investigar na CPI é fundamental para entender como o Brasil chegou a esse ponto. E é uma oportunidade única de fazer justiça por aqueles que nos deixaram porque o presidente sabotou os esforços dos estados e recusou várias ofertas de vacina em 2020 pelo fato de ser negacionista.
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É impressionante: quando a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses em agosto, não tinha nenhum problema com a lei. Nas outras duas propostas, também não. Agora, depois de atacarem as “cláusulas leoninas” que aceitaram de bom grado depois, inventam essa lorota. (1/n)
Eu tenho preguiça das pessoas que insistem que não existe nenhum risco democrático porque, em primeiro lugar, a erosão democrática já aconteceu e segue a pleno vapor. Ninguém disse que com certeza teria um golpe, mas sim que um autoritário no Poder Executivo era um risco enorme.
Em relação a um golpe de estado propriamente dito, vale destacar que a literatura moderna sobre crises democráticas existe justamente porque uma ruptura abrupta é cada vez menos comum, perdendo espaço para os “autoritarismos competitivos” de países como a Hungria de Orbán.
Mesmo assim, ao contrário do que nos acostumamos no planeta, vimos golpes militares tradicionais acontecerem, nos últimos anos, na Bolívia e em Myanmar, por exemplo. Não quer dizer que vai acontecer aqui. Mas o risco voltou a existir, o que por si já mostra a erosão que ocorreu.
“Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso"
Por acaso parece a postura de um presidente que busca comprovação técnica? Pois é. Bolsonaro falou isso em outubro.
O contexto já é amplamente conhecido: João Doria, governador de São Paulo, assinou um acordo com o laboratório Sinovac para a produção de vacinas pelo Instituto Butantan. Bolsonaro proibiu a compra da “vacina chinesa do Doria”. Até ser forçado a mudar, mas já era janeiro.
Galera, não caiam na falsa dicotomia entre “privado” e “público”. A questão é a natureza do FUNDEB, que serve pra distribuir recursos à educação básica objetivando reduzir as desigualdades entre redes de ensino. O destaque tirado pelo Senado beneficiaria municípios mais ricos.
A redistribuição dos recursos é pelo número de matrículas. A questão aqui: quais são os municípios onde têm mais mercado para instituições privadas filantrópicas, comunitárias e confessionais? Os mais ricos. A regra aventada na Câmara tiraria dos mais pobres, com menor IDHM.
Para quem quiser saber mais, basta ler a thread do @callegaricaio, a quem não conheço, mas que deu uma verdadeira aula. Ele mostra até mesmo alguns exemplos: no Rio de Janeiro, a cidade de Belford Roxo perderia recursos para Niterói. Ouçam os especialistas, como @TodosEducacao.
RETROSPECTIVA DE UM GOLPE QUE POR POUCO NÃO FOI: a thread
Ninguém pode esquecer que, no ano de 2020, em meio à pandemia, o presidente da República tentou dar um golpe. Ele chegou a decidir intervir no STF, só desistindo após ser convencido do contrário. A democracia quase ruiu.
15/03/2020: Contrariando as recomendações médicas e o seu próprio ministro da Saúde, Jair Messias Bolsonaro prestigia um protesto a favor do Governo – e com teor antidemocrático –, sem máscara e promovendo aglomeração. Tinha até faixa de AI-5. E o país entrava em quarentena.
24/03/2020: Em pronunciamento na televisão, o presidente questionou as medidas de isolamento social adotadas por governadores – que tentou boicotar –, chamou a COVID-19 de “gripezinha” e – como mostra o vídeo – atacou a imprensa em rede nacional, diante de todos os brasileiros.
Vocês têm que entender que uma eleição pode ser injusta mesmo sem fraude. Afinal, democracia não se faz apenas através do voto. Um regime autocrático pode prender os líderes da oposição, por exemplo, ou minar a liberdade de expressão e o debate. Há meios de injustiça sem fraude.
A questão da Venezuela *normalmente* é de um ambiente autoritário que convive com eleições injustas, mas não fraudadas. As urnas eletrônicas de lá contam com um “recibo” para o eleitor conferir seu voto. Ele o deposita fisicamente na sua seção e tem-se dupla checagem: sem fraude.
Foi assim que, a despeito de um regime hostil à liberdade de expressão e de imprensa, uma Assembleia Nacional de maioria oposicionista saiu vencedora do pleito de 2016. Mas o autoritarismo não aceitou isso: o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) removeu os poderes do Congresso.