Para quem insiste, ainda, em dizer que Bolsonaro não é fascista, essas marchas de motocicletas que ele tem feito reproduzem, exatamente, o que Mussolini em pessoa fazia. Mas ele invoca essa simbologia em um momento decadente (1/10).
Nada de novo. O mesmo se pode dizer daquela ridícula performance de nado no fim de ano. Outra reprodução grosseira de Mussolini. Mas na virada de 2020 para 2021, ele estava em alta. Agora, ele tenta passar a mensagem que está tudo bem (2/10).
Curiosamente, nossos liberais, ao estilo sommeliers da alta política, até dois anos atrás censuravam e ridicularizavam qualquer um que apontasse o óbvio: Bolsonaro é, LITERALMENTE, fascista (3/10).
Quando Alvim fez um cosplay de Goebbels, ele rapidamente foi afastado. A ligeira diferença entre fascismo e nazismo, pelo visto, tocam os setores que ainda sustentam esse governo. Que trataram, contudo, aquele gigantesco escândalo como um fato isolado (4/10).
A mudança de 2020 para 2021, insisto, não é apenas uma desgaste causado pela avanço da pandemia -- a mortal segunda onda que, pelo jeito, apenas anuncia uma catastrófica terceira onda. Mas também o retorno de Lula à arena política (5/10).
Até as pedrinhas da rua sabiam que Lula foi preso injustamente. Mas quem o fez, não acreditava que Bolsonaro fosse produzir um desastre desses -- ou que conseguisse se sustentar caso produzisse essa destruição (6/10).
Goste-se ou não de Lula, mas ele foi a primeira -- e até agora única -- figura da política nacional que conseguiu articular um discurso que atingiu Bolsonaro. Até então, cada queda de popularidade de Bolsonaro se revertia, porque os insatisfeitos não viam para onde ir (7/10).
Isso não é qualquer ufanismo da minha parte. Ou ilusão com Lula ou o Lulismo. É uma constatação da realidade. Bolsonaro, mesmo ameaçando um setor tão amplo -- que vai de Doria/Mainardi aos Movimentos Sociais -- conseguia se manter hegemônico (8/10).
Além disso atentar para uma necessidade de melhora e aperfeiçoamento da prática da esquerda em geral, hoje Lulodependente, mostra também um cenário de esperança e, justamente por isso, de muito perigo. Bolsonaro sabe, hoje, que vai perder e já pede licença para trapacear (9/10).
Nesse sentido, é preciso reconhecer que a marcha de hoje (1) mostra que Bolsonaro está fraco; (2) que ele sabe disso e prepara uma resposta alucinada; (3) que é preciso mobilização para tira-lo do poder antes de 2022, pelos crimes presentes e riscos futuros (10/10).
P.S.: o bom de Bolsonaro seguir a cartilha de Mussolini é que o final, nesse caso, será feliz, embora vá significar ainda muito sofrimento até lá.
P.S. 2.: A recente experiência colombiana, cuja realidade se assemelha mais à nossa, na estrutura e na conjuntura, do que o Chile mostra que mobilizações demandam greve geral, isto é, interrupção da produção.

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24 May
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20 May
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15 May
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12 May
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