As manifestações de sábado foram grandes — bem maiores do que imaginei que seriam.

No Palácio do Planalto, certamente foi ligada uma luz de alerta.

Mas ainda está muito longe de apontar para um impeachment.

Vale uma conversa.

🧵
Política de rua é um jogo de imagens.

Por isso que os dez quarteirões cheios da Paulista impressionam. Porque, ora, é gente que não acaba mais.

Pela primeira vez tivemos uma imagem para o que os números das pesquisas já indicavam.

O horror ao governo Bolsonaro é grande.

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Qual o símbolo do impeachment de Fernando Collor?

Os cara-pintadas. Fui um deles, estudante, com as faixas verde e amarelas no rosto.

Do impeachment de Dilma Rousseff o símbolo foram as camisas da Seleção brasileira.

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Tenho plena consciência de que este é um tema que divide o país. À esquerda uma quantidade grande vê um golpe, no centro e na direita a visão é outra.

Não é nesta polêmica que quero entrar — ela é interminável.

Mas o verde e amarelo é um signo importante.

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Em boa parte das imagens das manifestações de rua os símbolos que predominam são as bandeiras vermelhas.

Há problema na participação de partidos de esquerda? Zero. Aliás, bem o contrário.

Só que...

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Para um movimento popular chegar a um impeachment, não pode ter a imagem de ser um movimento partidário.

É como os bolsonaristas estão tratando: sábado foi dia das passeatas do PT.

É verdade? Não. Mas a imagem faz parecer.

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Será que vamos ver VPR, MBL, tucanos e os partidos de esquerda juntos, nas ruas, pedindo aquilo que todos estes grupos desejam?

O fim do governo?

Se este for um movimento com um arco político assim amplo, nem Arthur Lira tem força para fingir que nada está acontecendo.

+
E é por isso que falo do verde e amarelo.

É preciso, urgentemente, recuperar as cores do país. Elas não pertencem à extrema-direita. Foram sequestradas.

Novas manifestações, se ocorrerem, devem ser verde-amarelas.

+
Isto posto, ir às ruas tem um custo alto.

Estamos à beira de uma terceira onda de Covid. A variante indiana já está entre nós. A vacinação está muito lenta.

Ou seja, para protestar a oposição ao governo abre mão de um de seus principais argumentos.

+
É o de que o governo trabalha contra a pandemia.

Para o impeachment são necessárias muitas passeatas seguidas, cada vez maiores.

Se vierem, não dá pra fingir que não haverá impacto. De que não acelerarão uma nova onda.

Sim, é cruel. É um paradoxo.

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Para tirar o governante que interfere na defesa da vida, é preciso interferir na defesa da vida.

É preciso quebrar as regras de distanciamento social.

Isto é uma das coisas que as manifestações mostraram. é preciso disciplina demais para manter os dois metros de distância.

+
Não rolou.

Houve aglomeração.

Gente vai sair doente das passeatas.

Este é um custo real.

E não falo isso em tom de censura.

O paradoxo existe e está posto.

O que só reforça a necessidade de que, se é para ir às ruas, que seja num movimento realmente pluripartidário.

+
É preciso recuperar o verde e amarelo.

E, sim: neste sábado, São Paulo foi imenso.

Quase 60% dos brasileiros desejam o impeachment, segundo o DataPoder.

A CPI pode ampliar isto.

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16 May
Tenho real impressão de que a turma do @BolsoflixReal esteja bem intencionada.

Mas há dois problemas gigantes na inciativa que eles próprios talvez não estejam percebendo.

twitter.com/BolsoflixReal
Um problema é legal, por dois ângulos. Pela Constituição e pela LGPD.

Todos nossos direitos políticos — livre expressão, livre assembleia, livre manifestação — são garantidos com uma ressalva explícita. É vedado o anonimato.

+
Há um motivo para isso.

A conversa sobre política na sociedade tem de ser aberta.

É assim que democracias sobrevivem.

É duro se opor à onda bolsonarista com cara aberta?

Acreditem. É.

Muita gente o faz.

Mas os direitos políticos no Brasil estão ancorados na identidade.

+
Read 11 tweets
23 Apr
Um dos desafios políticos mais interessantes de assistir, nos próximos meses, é o de Ciro Gomes.

O eleitorado se dividiu em (grosseiramente) um terço, um terço, um terço.

Lula, Bolsonaro, e e o nem-nem.

Ninguém está melhor posicionado do que Ciro. Mas...

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Lula conversa com moderados e consegue, qnd quer, trazer seu discurso para o Centro.

Bolsonaro não tem como. Tem os dele, o que conseguir com práticas fisiológicas, e meio que para aí.

Sem Lula, Ciro poderia disputar votos na esquerda convicta. Com Lula, fica no q já tinha.

+
Ciro não tem escolha que não caminhar claramente para o Centro.

Isto quer dizer, no caso dele, que ele precisará seduzir eleitores de centro-direita.

Isto quer dizer que ele vai ter de moderar o discurso.

Tem tempo para isso e João Santana é craque desses truques, mesmo.

+
Read 5 tweets
23 Apr
A entrevista do Wajngarten à @VEJA pode se mostrar bem importante.

O lide: Pazuello foi incompetente, errou demais, a culpa é dele e Bolsonaro não sabia.

A chave para interpretar: Wajngarten foi demitido da Secretaria de Comunicação e substituído por um militar.

Um fio

🧵
A briga do Wajngarten é com os militares.

Mas já já vai ter uma CPI para investigar justamente as responsabilidades do governo federal na pandemia.

O primeiro depoimento importante? De Pazuello. Um general da ativa.

Então...

+
Bolsonaro acaba de sair de uma briga com os militares. Demitiu todo o comando das Forças.

O presidente tb tem a expectativa de que o general ex-ministro vá depor e não o responsabilize por nada.

Agora, o ex-ministro acaba de ser jogado na fogueira por outro ex-ministro.

+
Read 8 tweets
31 Mar
Se fala muito da censura, da tortura, dos assassinatos.

Não se fala o suficiente sobre a inépcia administrativa.

No governo, o que os números mostram é muito claro: os generais que cuidaram da gestão do país entre 1964 e 1985 eram incompetentes.

🧵
Na década de 1960, quando o dólar estava baixo e os juros internacionais idem, escolheram pegar quanto dinheiro dava emprestado.

Com isso, na década seguinte, criaram alguma infraestrutura que se mostrou importante — Itaipu, Ponte Rio-Niterói.
Também jogaram muito dinheiro fora. A Transamazônica — obra caríssima da qual não sobrou nada. Usina Nuclear de Angra, que está lá de pé, mas nunca valeu nem perto do que se pagou.

Quando veio a crise do petróleo, os juros no mundo explodiram.
Read 11 tweets
22 Mar
No domingo, fiz uma provocação por aqui.

Disse que aparentemente não se ensina mais democracia nas escolas. Que jovens militantes de esquerda demais não reconhecem legitimidade na existência de uma direita.

Acho que vale clarear um pouco mais o que quis dizer.
Primeiro: não acho que o problema seja de professores.

Não foi uma alusão ao Escola sem Partido.

O problema é de currículo.

Minha impressão é de que o trauma da Ditadura fez com que nós abríssemos mão de certos ensinos importantes.

Um deles é o de sociedade, de cidadania.
Eu fui estudante no tempo da Ditadura, tive aula de Moral e Cívica e OSPB, disciplinas inventadas por Plínio Salgado, o fundador do fascismo brasileiro.

Aquelas coisas tinham de ter sido extirpadas do currículo, como foram.

Mas tinham de ter sido substituídas.
Read 11 tweets
19 Mar
Ainda sobre o vídeo da @veramagalhaes

O Brasil é profundamente desigual. Só gente muito radical de direita discordará disto.

Constatar a desigualdade não é xenofobia. É questão de ter olhos para ver.

+
O que a Vera fez foi exatamente isso.

Perceber que hospital que atende gente pobre ficar sem recursos, no Brasil, é comum.

Não quer dizer que devia ser assim, porque não devia. Mas é.

Hospital que atende gente rica ficar sem recursos — isto é incomum.

+
O que quer dizer colapso hospitalar no Brasil?

O que quer dizer um cenário incomum, raro e que, por isto, demonstra o tamanho do drama que estamos vivendo?

Num país desigual?

É quando até o hospital dos muito ricos fica sem capacidade de atendimento.

+
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