Se fala muito da censura, da tortura, dos assassinatos.
Não se fala o suficiente sobre a inépcia administrativa.
No governo, o que os números mostram é muito claro: os generais que cuidaram da gestão do país entre 1964 e 1985 eram incompetentes.
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Na década de 1960, quando o dólar estava baixo e os juros internacionais idem, escolheram pegar quanto dinheiro dava emprestado.
Com isso, na década seguinte, criaram alguma infraestrutura que se mostrou importante — Itaipu, Ponte Rio-Niterói.
Também jogaram muito dinheiro fora. A Transamazônica — obra caríssima da qual não sobrou nada. Usina Nuclear de Angra, que está lá de pé, mas nunca valeu nem perto do que se pagou.
Quando veio a crise do petróleo, os juros no mundo explodiram.
O ‘Milagre Brasileiro’ não era feito em cimento mas em farinha. Derreteu estalando os dedos. Tudo pura ilusão.
Parte da infraestrutura na qual se gastou a dinheirama ficou, parte foi embora.
O objetivo era também estimular a indústria nacional.
A automobilística não desenvolveu tecnologia própria fora o Proálcool. Ficou sendo montadora do que se desenhava fora.
Proibiram importar computador para fazer aqui. Não nasceu a indústria de informática, e a cultura do imposto alto ainda limita explosão de uma indústria digital
Olhe ao redor do Brasil. Qual a melhor indústria que temos? Competitiva internacionalmente?
É a agroindústria.
Ela cresceu mesmo, se desenvolveu numa relação fluida de público investindo em pesquisa e privado investindo na produção, nesta Nova República.
A Saúde pública que temos? Foi esta Nova República que fez o SUS.
Toda criança na escola? Esta Nova República.
A economia desmontada por completo que herdamos do regime? A Nova República resolveu.
Que regime trouxe mais brasileiros pobres à classe média? Foi a Nova República.
Resolvemos a corrupção? Não. Ela surgiu com força no Estado Novo, cresceu no governo JK e explodiu na Ditadura, quando a imprensa era proibida de ver.
A corrupção continuou. Precisa resolver ainda.
Precisa integrar mais gente não só à economia como também à cidadania. O SUS podia ser melhor. Toda criança na escola não basta, precisamos educar melhor as que estão.
Precisamos oferecer segurança, não ameaçar com forças policiais os brasileiros pobres.
Tem muita coisa pra fazer.
Mas, hoje, esqueça os partidos e pense no que realmente temos de valioso.
Uma democracia liberal, uma República, um ambiente no qual escolhemos a cada ciclo quem governa. Na qual podemos acusar o governo de crimes, quando os há.
Um regime no qual não há risco de ser preso por chamar um presidente genocida de genocida.
Se contaram para vc que a Ditadura teve problemas mas foi boa, enganaram vc.
Foi incompetente também. Muito incompetente.
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Disse que aparentemente não se ensina mais democracia nas escolas. Que jovens militantes de esquerda demais não reconhecem legitimidade na existência de uma direita.
Acho que vale clarear um pouco mais o que quis dizer.
Primeiro: não acho que o problema seja de professores.
Não foi uma alusão ao Escola sem Partido.
O problema é de currículo.
Minha impressão é de que o trauma da Ditadura fez com que nós abríssemos mão de certos ensinos importantes.
Um deles é o de sociedade, de cidadania.
Eu fui estudante no tempo da Ditadura, tive aula de Moral e Cívica e OSPB, disciplinas inventadas por Plínio Salgado, o fundador do fascismo brasileiro.
Aquelas coisas tinham de ter sido extirpadas do currículo, como foram.
Tem uma conversa que nós não estamos preparados para ter no Brasil.
É sobre como pensamos impeachment.
Por isso, sei em que vai dar este fio aqui. Vai implodir.
Ainda assim, a maneira como os americanos pensam impeachment, em tempos de Bolsonaro, tem muito a nos ensinar.
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Fernando Collor de Mello sofreu impeachment acusado por agir de forma incompatível com o cargo. Por quebra de decoro. O crime tinha provas tão frágeis que ele foi inocentado no Supremo.
Mas estávamos confortáveis com isso.
A diferença real entre Collor e Dilma, queiramos admitir ou não, é que o PRN não era um partido. O PT era
O PT tem base popular real, tem militância real, representa de fato um conjunto de valores na sociedade.
O PRN não era nada, Collor não era uma liderança política relevante
Tenho essa sensação generalizada de que o mundo ficou muito mais careta em sexualidade.
Ontem, aqui no Twitter, alguém me chamou atenção para uma entrevista da @BSurfistinha em que ela citou o perfil que escrevi dela faz uns 15 anos.
Um fio.
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O texto foi parte de uma série de reportagens sobre sexualidade que escrevi para o NoMínimo e que depois foram reunidas num livro chamado ‘Eu Gosto de Uma Coisa Errada’
Na época, eu escrevia sobre política internacional e estava exausto após uns três anos do Onze de Setembro.
A internet já era popular, claro, mas ainda era jovem e bastante amadora.
Histórias em que pessoas vivem próximas de seus limites emocionais são sempre ricas. A gente sempre aprende alguma coisa.
É fértil para jornalismo e era muito diferente do que eu fazia.