Thread by @FernandoHortaOf

Que bom que a CPI tá trazendo para o público questões de metodologia e epistemologia científica. Assim eu me sinto importante.
Vamos falar um pouco de metodologia e porque a cloroquina simplesmente não funciona (fio)

O método científico é histórico, isto quer dizer que ele evolui e está sempre em movimento. Hoje, temos uma escala de evidências. Evidências consideradas fortes, fracas e desprezíveis. Em tendo as evidências mais fortes as mais fracas vão sendo descartadas.

As evidências mais fortes, são chamadas de "nomotéticas-dedutivas" baseadas em leis (evidenciamento da relação causa-efeito) e na lógica cartesiana. Quando se tem este tipo de evidência, considera-se a mais importante.

Não tendo a evidência mais forte, passamos a evidências menores que são chamadas de "indutivas-estatísticas". É aquela que olha, compara e coloca em relação ao todo das amostras para que a estatística nos diga se o que se está olhando tem o poder de representar o todo.

São poucas as evidências nomotéticas-dedutivas que temos na medicina. E a maioria não advém da medicina, mas da biologia, biomedicina, da química e farmácia. Então se tenta comprovar a causa, para a medicina, na maioria das vezes através de estatística.

E para se provar a causa de alguma coisa não basta ver uma correlação. Veja, todos os pacientes que se salvaram do covid tomaram água. Vamos dizer que água combate o covid? Não. Logo, correlação não é causação.

Logicamente para se determinar que a causa do evento B é o evento A são necessárias quatro condições lógicas: 1) é preciso mostrar que sempre que ocorre o evento B, ocorreu antes o evento A. Então eu preciso mostrar que sempre que um paciente se salvou ele tomou kit cloroquina.

Mas isto não é suficiente! É preciso 2) mostrar que nunca o evento B ocorre sem ter ocorrido o evento A. Ou seja, nenhum dos pacientes que se salvou deixou de tomar o kit cloroquina.

Mas estas duas provas também não são suficientes: 3) é preciso mostrar que toda vez que ocorre o evento A, ocorre o evento B. É preciso mostrar que sempre que alguém tomou kit cloroquina ele não foi a óbito.

e 4) que o evento A e o evento B não são causados por eventos anteriores. Aqui é a mais complicada. Eu preciso mostrar que o kit covid e o óbito por covid não estão correlacionados por algo anterior.

Se não há esta evidência (nomotética-dedutiva) nós vamos para a estatística. E aí, no caso da medicina, se estabeleceu o teste duplo-cego randômico. Isto porque se precisa de grupo de controle, precisa de avaliação impessoal e precisa ser controlado o efeito placebo.

Com relação à COVID e a cloroquina a evidência nomotética-dedutiva NÃO CONSEGUE mostrar nenhuma forma de aplicabilidade. É isso que está dizendo o médico quando afirma que "cloroquina não serve para virus".

Mas ainda assim, existem estudos no campo do indutivo-estatístico sobre a questão, e TODOS ELES NÃO encontraram nenhum efeito entre o grupo que fez uso da cloroquina e os grupos que não fizeram. Daí que se tira que a cloroquina é inócua para o COVID.

Mas para piorar, estes estudos estatísticos mostraram o contrário: que havia um índice de morte maior entre os que usaram cloroquina do que no controle. Estes estudos NÃO DIZEM que a cloroquina mata, mas evidenciam que ela piora a condição do paciente para enfrentar a doença.

Agora, há uma forma de se saber isso. Basta pegar todos os estudos que a capitã cloroquina e a nise trouxeram e submeter a três ou quatro universidades e pedir um meta-relatório. Simples. Acaba-se com o problema. E foi isso o que a OMS e o FDA americano fizeram.

* diferença de efeito

* por exemplo o cara ter tomado kit cloroquina e ter ido a óbito mas isso porque morava em localidade em que a água era tóxica. Ou o contrário, o cara tomou cloroquina e não morreu, mas porque fez uso de anti-viral conhecido e tal.