@PedroCastilloTe venceu, finalmente, a eleição peruana, embora ainda se falte apurar alguns votos. É uma vitória menor do que de Dilma contra Aécio aqui em 2014, mas muito significativa. Seu pequeno partido de esquerda radical venceu uma implacável e gigantesca máquina (1/10).
Dado curioso, é que mais gente votou no 2º turno do que no 1º. É raro isso acontecer. Mas Castillo mobilizou gente, e não foi pouca, para votar nele. O quórum pulou de 70% para 75%. Se isso foi o voto antifujimorismo apenas, pelo menos ele soube catalisar isso (2/10).
Keiko Fujimori concentrou os votos do poderoso Departamento de Lima, onde se reúne um terço da população e metade do PIB peruano. Sim, além de tudo, há uma brutal desigualdade regional no país (3/10).
Lima, para se ter uma ideia, tem um PIB per capta superior ao da Argentina. É mais do que o dobro de Cusco, departamento no qual Castillo teve 83% dos votos. Em Lima, como no exterior, o Fujimorismo teve 2 em cada 3 votos (4/10).
Castillo, pois, venceu sobretudo com o voto do sul do seu país, com o apoio da população indígena andina. Isso, sem dúvida, alça Evo Morales, Garcia Linera, Lucho Arce, David Choquehuanca e o MAS Boliviano elevando seu status na política do continente (5/10).
O presidente eleito do Peru não é um poste. Já mostra liderança ao mobilizar seus apoiadores, lhes pedindo no entanto calma, enquanto Keiko intenta uma virada de mesa, depois da sua terceira derrota consecutiva, todas por muito pouco (6/10).
Keiko já perdeu para um nacionalista, Humala, um liberal, Kuczynski, mas é a primeira que perde para um socialista. Ainda mais um de origem bastante popular e com um discurso bastante radical, embora conservador nos costumes (7/10).
Isso agita como nunca a luta de classes no Peru. Sabemos quais serão as cenas dos próximos capítulos, com Keiko deslegitimando a vitória de Castillo para desestabilizar o seu governo. É inevitável esse choque (8/10).
Castillo, contudo, marca a reconciliação da esquerda peruana com a esquerda latino-americana, uma verdadeira virada de página no radicalismo estéril e anticubano que gerou uma loucura como o Sendero (9/10).
O Fujimorismo, em uma eleição bastante fragmentada, teve sua pior votação em todos os tempos num 1º turno. Mas se reinventou no 2º turno com o anticomunismo barato, desculpa de uma oligarquia doentiamente avarenta. Não se pode subestimá-lo, nem desvalorizar essa vitória (10/10).

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12 Jun
Em São Paulo, a esquerda tem sua maior chance desde 1998, quando Marta Suplicy quase foi a um 2º turno contra Maluf que ela venceria. Hoje, Haddad e Boulos estariam em primeiro, mas separados dividiriam votos (1/10).
Doria depois de sua desastrosa passagem pela prefeitura São Paulo, pegou a onda do Bolsonarismo, o que lhe custou caro. E há um stress dos paulistas em relação a ele à esquerda, que ele sempre combateu, e à direita, pela ação de Bolsonaro (2/10).
Mas há, pela primeira vez, uma mal-estar mais geral em relação à governança de direita no Estado. Como disse a pesquisa Atlas "a rejeição a Doria não tem relação direta com as restrições impostas pelo Governo durante a pandemia" brasil.elpais.com/brasil/2021-05… (3/10).
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12 Jun
Nos últimos dias, Freixo deu passos importantíssimos para virar governador do Rio. Ter ido para o PSB facilita sua vida, quando o natural seria ele ir para o PT. Mas a movimentação entre ele e Lula é local e nacional, local pois é estritamente nacional: o Rio é chave (1/10).
No PSB, Freixo é um nome de peso para a atração de nomes que venham do PSOL e do PC do B, na direção de uma fusão prática ou até mesmo formal ali. Isso mina o poder da Família Campos no partido e, também, atrapalha os planos de Lupi e Ciro que seria a grande fusão PSB-PDT (2/10).
Na eleição, Freixo teria o apoio do PT garantido e poderia atrair outras legendas. Isso esvazia o poder de fogo da Delegada Martha Rocha (PDT), que é uma candidata sim, forte -- e deixaria a direita miliciana sem um representante civilizado para servir de cavalo de troia (3/10).
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10 Jun
Antes de um balanço do processo eleitoral peruano, uma coisa é pura verdade: os indígenas andinos se tornaram protagonistas nos seus respectivos países (1/5).
Do ponto de vista ameríndio, se a fronteira já é um elemento estranho, as fronteiras sulamericanas mais ainda, uma vez que obedecem aos marcos da América espanhola colonial e às frações da antiga oligarquia colonial branca (2/5).
O sul do Peru se assemelha mais ao norte e centro da Bolívia do que ambos à Amazônia respectiva ou ao chaco boliviano (que tem mais relações com o Paraguai). Posto isso, é fabulosa à articulação transnacional indígena (3/5).
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24 May
Nas três pesquisas de Maio, Lula vence 1º turno em uma, a Vox, e chega perto em duas: Datafolha e do desconhecido Instituto Mapa. No 2º turno de todas elas, Lula goleia. As 3, em certa medida se confirmam (1/7).
O Instituto Mapa, contudo, é a única que registra Lula abaixo dos 40 pontos. Bolsonaro, nas três, contudo, varia coerentemente entre 23 e 25 p.p (2/7).
A pesquisa do Instituto Mapa não tem base de comparação. A diferença é que no caso do Vox, Moro não foi testado. E ele teria entre 7 e 5 p.p. (3/7).
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23 May
Para quem insiste, ainda, em dizer que Bolsonaro não é fascista, essas marchas de motocicletas que ele tem feito reproduzem, exatamente, o que Mussolini em pessoa fazia. Mas ele invoca essa simbologia em um momento decadente (1/10).
Nada de novo. O mesmo se pode dizer daquela ridícula performance de nado no fim de ano. Outra reprodução grosseira de Mussolini. Mas na virada de 2020 para 2021, ele estava em alta. Agora, ele tenta passar a mensagem que está tudo bem (2/10).
Curiosamente, nossos liberais, ao estilo sommeliers da alta política, até dois anos atrás censuravam e ridicularizavam qualquer um que apontasse o óbvio: Bolsonaro é, LITERALMENTE, fascista (3/10).
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21 May
Lula fez um jogada de mestre ao seu reunir com FHC. E FHC idem. O presidente do PSDB criticou porque mostra que seu partido ainda insiste em um tudo ou nada contra o PT que, na boa, não funciona (1/7).
Se o petismo é um reformismo em disputa, com suas linhagens mais progressistas e outras mais moderadas, o antipetismo é certamente um espelho do que o PT *deveria ser*: logo, é um fenômeno reacionário, filofascista e, sobretudo, pequeno-burguês (2/7).
O PSDB ficou desesperado com o primeiro mandato de Lula e, desde então, lascou de surfar e incentivar essa onda -- que nós sabemos bem onde deu, isto é, onde ela só poderia dar: Bolsonaro (3/7).
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