Nos últimos dias, Freixo deu passos importantíssimos para virar governador do Rio. Ter ido para o PSB facilita sua vida, quando o natural seria ele ir para o PT. Mas a movimentação entre ele e Lula é local e nacional, local pois é estritamente nacional: o Rio é chave (1/10).
No PSB, Freixo é um nome de peso para a atração de nomes que venham do PSOL e do PC do B, na direção de uma fusão prática ou até mesmo formal ali. Isso mina o poder da Família Campos no partido e, também, atrapalha os planos de Lupi e Ciro que seria a grande fusão PSB-PDT (2/10).
Na eleição, Freixo teria o apoio do PT garantido e poderia atrair outras legendas. Isso esvazia o poder de fogo da Delegada Martha Rocha (PDT), que é uma candidata sim, forte -- e deixaria a direita miliciana sem um representante civilizado para servir de cavalo de troia (3/10).
Freixo precisaria correr com as movimentações, no entanto. E Lula e ele teriam de testas Eduardo Paes, que pode se movimentar para fortalecer uma centro-direita (Rodrigo Maia quer, embora enfraquecido) ou mudar isso. Sinto Freixo um tanto lento (4/10).
Politicamente, Freixo recebeu algumas críticas à esquerda, embora não públicas de dirigentes e filiados ao PSOL, que de todo modo não se moveram para tirar seu mandato -- sim, eles poderiam. Há quem no Rio fale em "mudança do Freixo" e tente decifrar marcos temporais (5/10).
Olhando de longe, e talvez por isso, não vejo mudança pessoal nenhuma na postura de Freixo. Goste-se ou não do que ele está fazendo, a esquerda anti ou alterpetista do Rio sempre quis ver em Marcelo uma "radicalidade" (aqui, sem juízo de valor) que nunca esteve ali (6/10).
É evidente que o sujeito, em grande medida, são suas circunstâncias e o seu meio. Mas não só. Agora, uma conjuntura péssima para Freixo, a ascensão federal da milícia, produziu a oportunidade para ele ir para uma casa mais adequada para ele (7/10).
Ao mesmo tempo, Lula que desde 1998 abriu mão de um projeto próprio, e à esquerda, para o PT no Rio, igualmente muda em parte. A aliança com o Cabralismo deixou passar o sistema miliciano para onde nenhum grande político supôs que ele poderia chegar (8/10).
Sem envolver o PT diretamente no Rio, com Freixo no PSB, Lula planeja a princípio ter uma palanque forte. Mas em segundo lugar, se funcionar, ele vai eleger o antimiliciano por excelência (nisso, Marcelo é radical) para desarmar a bomba miliciana no Rio (9/10).
Bolsonaro não tem um nome capaz de fazer frente com Freixo. E isso é preocupante para ele. O que suscita que uma campanha carioca pode ser marcada por uma violência mexicana. Mas será o que tiver de ser (10/10).

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12 Jun
Em São Paulo, a esquerda tem sua maior chance desde 1998, quando Marta Suplicy quase foi a um 2º turno contra Maluf que ela venceria. Hoje, Haddad e Boulos estariam em primeiro, mas separados dividiriam votos (1/10).
Doria depois de sua desastrosa passagem pela prefeitura São Paulo, pegou a onda do Bolsonarismo, o que lhe custou caro. E há um stress dos paulistas em relação a ele à esquerda, que ele sempre combateu, e à direita, pela ação de Bolsonaro (2/10).
Mas há, pela primeira vez, uma mal-estar mais geral em relação à governança de direita no Estado. Como disse a pesquisa Atlas "a rejeição a Doria não tem relação direta com as restrições impostas pelo Governo durante a pandemia" brasil.elpais.com/brasil/2021-05… (3/10).
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10 Jun
@PedroCastilloTe venceu, finalmente, a eleição peruana, embora ainda se falte apurar alguns votos. É uma vitória menor do que de Dilma contra Aécio aqui em 2014, mas muito significativa. Seu pequeno partido de esquerda radical venceu uma implacável e gigantesca máquina (1/10).
Dado curioso, é que mais gente votou no 2º turno do que no 1º. É raro isso acontecer. Mas Castillo mobilizou gente, e não foi pouca, para votar nele. O quórum pulou de 70% para 75%. Se isso foi o voto antifujimorismo apenas, pelo menos ele soube catalisar isso (2/10).
Keiko Fujimori concentrou os votos do poderoso Departamento de Lima, onde se reúne um terço da população e metade do PIB peruano. Sim, além de tudo, há uma brutal desigualdade regional no país (3/10).
Read 10 tweets
10 Jun
Antes de um balanço do processo eleitoral peruano, uma coisa é pura verdade: os indígenas andinos se tornaram protagonistas nos seus respectivos países (1/5).
Do ponto de vista ameríndio, se a fronteira já é um elemento estranho, as fronteiras sulamericanas mais ainda, uma vez que obedecem aos marcos da América espanhola colonial e às frações da antiga oligarquia colonial branca (2/5).
O sul do Peru se assemelha mais ao norte e centro da Bolívia do que ambos à Amazônia respectiva ou ao chaco boliviano (que tem mais relações com o Paraguai). Posto isso, é fabulosa à articulação transnacional indígena (3/5).
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24 May
Nas três pesquisas de Maio, Lula vence 1º turno em uma, a Vox, e chega perto em duas: Datafolha e do desconhecido Instituto Mapa. No 2º turno de todas elas, Lula goleia. As 3, em certa medida se confirmam (1/7).
O Instituto Mapa, contudo, é a única que registra Lula abaixo dos 40 pontos. Bolsonaro, nas três, contudo, varia coerentemente entre 23 e 25 p.p (2/7).
A pesquisa do Instituto Mapa não tem base de comparação. A diferença é que no caso do Vox, Moro não foi testado. E ele teria entre 7 e 5 p.p. (3/7).
Read 7 tweets
23 May
Para quem insiste, ainda, em dizer que Bolsonaro não é fascista, essas marchas de motocicletas que ele tem feito reproduzem, exatamente, o que Mussolini em pessoa fazia. Mas ele invoca essa simbologia em um momento decadente (1/10).
Nada de novo. O mesmo se pode dizer daquela ridícula performance de nado no fim de ano. Outra reprodução grosseira de Mussolini. Mas na virada de 2020 para 2021, ele estava em alta. Agora, ele tenta passar a mensagem que está tudo bem (2/10).
Curiosamente, nossos liberais, ao estilo sommeliers da alta política, até dois anos atrás censuravam e ridicularizavam qualquer um que apontasse o óbvio: Bolsonaro é, LITERALMENTE, fascista (3/10).
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21 May
Lula fez um jogada de mestre ao seu reunir com FHC. E FHC idem. O presidente do PSDB criticou porque mostra que seu partido ainda insiste em um tudo ou nada contra o PT que, na boa, não funciona (1/7).
Se o petismo é um reformismo em disputa, com suas linhagens mais progressistas e outras mais moderadas, o antipetismo é certamente um espelho do que o PT *deveria ser*: logo, é um fenômeno reacionário, filofascista e, sobretudo, pequeno-burguês (2/7).
O PSDB ficou desesperado com o primeiro mandato de Lula e, desde então, lascou de surfar e incentivar essa onda -- que nós sabemos bem onde deu, isto é, onde ela só poderia dar: Bolsonaro (3/7).
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