Thread by @hugoalbuquerque

"Fosse boxe o esporte em questão, o resultado da reunião de cerca de 3 horas e meia, até 5 horas no plano da Casa Branca, seria um empate técnico ou uma apertada vitória por pontos para o russo" -- se a Folha disse isso, Putin venceu por nocaute. Mas vamos lá (1/10).

Putin e Biden não foram se reunir esperando rigorosamente, nada. Então, chiste à parte, não houve luta, apenas estudo de lado a lado. Todo o resto caminhará pelo tabuleiro geopolítico, de luta econômica e militar (2/10).

A Europa foi dobrada por Biden, mas isso não quer dizer que os alemães vão abrir mão do Nordstream 2. A provocação americano-ucraniana não deu em nada. E é evidente que a Rússia não seria amadora a esse ponto (3/10).

A questão é saber se o próximo governo alemão manterá a linha de Merkel. Agora, os democratas-cristãos voltaram a liderar sobre os verdes -- que com argumentos ambientais, de cunho neoliberal, apenas endossariam as condições para uma nova escalada na Síria (4/10).

Sem o Nordstream 2, os alemães voltam a se mover a favor da remoção de Assad e da destruição da Síria. O que equivale golpear a Rússia. Se puderem resolver com o novo megagasoduto, não vão se mexer para ume encrenca das grandes. Embora continuem minando a influência russa (5/10)

Os EUA, nesse sentido, exercem uma bem-sucedida estratégia de cerco contra a Rússia. Militar e também político, controlando boa parte do Leste Europeu, que é usado, sobretudo a Polônia, para controlar a Alemanha também (6/10).

Ir mais do que isso é difícil, senão impossível. Porque a Rússia tem condições de se defender. Washington cozinha o galo russo com sanções econômicas, enquanto Moscou negocia com Pequim, sob alguma desconfiança mútua (7/10).

Toda a mudança da estratégia Biden, de contrariar seus antecessores e jogar duro contra Putin logo de cara, não muda nada no curto prazo. Tanto faria. As peças aqui vão se mexer apenas na base das relações reais de força (8/10).

As sanções podem conter o bônus russo com a alta do preço das commodities? Talvez, mas apenas em parte, e não o suficiente para gerar uma revolução ou uma revolta que abale o poder de Putin no curto prazo (9/10).

Nem Biden consegue tanto apoio assim. O discurso anti-Rússia é tanto uma muleta democrata que não tem tanta força entre os republicanos. E Biden dificilmente emplacará ele como Trump fez com o discurso antichinês, que ganhou sua versão democrata (10/10).

P.S.: os rumos da Alemanha são chave para as relações russo-americanas. Mas a coisa só muda em relação a Síria com grandes movimentações na Europa, que acho que os europeus preferem não fazer, transigindo contra a China para não caminhar por aí.