O problema de Jair Bolsonaro não é que ele é de direita.

O problema é que, sendo presidente, ignora ciência no meio de uma pandemia.

Não comprou vacinas porque lidera um governo onde inteligência e método de gestão são vistas com desconfiança.

++

🧵
O problema de Jair Bolsonaro é que ele é um poço de preconceitos: contra mulheres, LGBTQ+, negros, indígenas.

Seu problema é que, sendo ignorante, não percebeu ainda que a Amazônia é o bilhete premiado de entrada do Brasil no século 21. Inclusive economicamente.

++
Ele é autoritário. Não deseja um sistema com divisões entre três poderes independentes que se vigiam e se contrapõem uns aos outros — quer mandar em tudo.

É bárbaro. Defende que polícia deve ter poder de execução sumária bastando para isso a opinião do policial na hora.

++
É antidemocrático — gostaria de jogar o flanco ideológico oposto na ilegalidade.

É um homem que defende a tortura como método de ação de Estado.

É um homem que, sendo líder, aposta na divisão. Aposta em reforçar ressentimentos. Em manter o país em estado permanente de crise

++
É importante a gente entender por que Bolsonaro é um mau presidente. Um presidente terrível.

Ele é pré-moderno. Seus padrões de pensamento são anteriores ao Iluminismo. Anteriores à revolução que ocorreu no século 18.

++
É importante compreender onde está o problema para que saibamos conversar sobre a solução em cima de premissas essenciais.

Uma delas é de que o outro lado — os outros lados — têm legitimidade para existir.

++
Podemos discordar de muitos grupos políticos. Mas eles não são o inimigo. São aqueles que precisamos convencer a votar de acordo com nossa visão.

A lógica da democracia é buscar o diálogo, vencer pelo convencimento, não pintar o outro lado como o demônio.

++
Esta lógica exige, também, compreender a história. Compreender que certas experiências passadas deram errado.

Algumas experiências passadas terminaram em pesadelos humanitários.

++
O nazismo foi um pesadelo.

O fascismo foi um pesadelo.

O stalinismo também.

O maoísmo idem.

Pol Pot.

++
Não dá para, num ambiente democrático, não reconhecer o mau pelo que ele é.

A opressão. A tortura. As prisões na calada da noite. O empastelamento de jornais. Viver em medo.

O genocídio.

Qualquer governo que chegue a este ponto tem de ser expurgado, denunciado, condenado.

++
Vale para conservadores que disfarçam o fascismo.

Vale para liberais que disfarçam o colonialismo.

Vale para socialistas que disfarçam o stalinismo.

Temos todos nossos esqueletos indefensáveis no armário.

++
Não temos de ter compromisso com erros do passado.

O Brasil vai ter um trabalho duro de reerguer sua democracia em alicerces mais sólidos depois deste nosso pesadelo atual.

Temos também contas a ajustar com o nosso passado, com os inúmeros grupos que nossa sociedade oprime.

++
É fundamental que a gente vá para a mesa conversar.

Todos os democratas.

E que tragamos credenciais impecavelmente democráticas.

Porque quem defende genocida de acordo com a cor da bandeira, me desculpem.

Democrata não é.

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30 May
As manifestações de sábado foram grandes — bem maiores do que imaginei que seriam.

No Palácio do Planalto, certamente foi ligada uma luz de alerta.

Mas ainda está muito longe de apontar para um impeachment.

Vale uma conversa.

🧵
Política de rua é um jogo de imagens.

Por isso que os dez quarteirões cheios da Paulista impressionam. Porque, ora, é gente que não acaba mais.

Pela primeira vez tivemos uma imagem para o que os números das pesquisas já indicavam.

O horror ao governo Bolsonaro é grande.

+
Qual o símbolo do impeachment de Fernando Collor?

Os cara-pintadas. Fui um deles, estudante, com as faixas verde e amarelas no rosto.

Do impeachment de Dilma Rousseff o símbolo foram as camisas da Seleção brasileira.

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Read 13 tweets
16 May
Tenho real impressão de que a turma do @BolsoflixReal esteja bem intencionada.

Mas há dois problemas gigantes na inciativa que eles próprios talvez não estejam percebendo.

twitter.com/BolsoflixReal
Um problema é legal, por dois ângulos. Pela Constituição e pela LGPD.

Todos nossos direitos políticos — livre expressão, livre assembleia, livre manifestação — são garantidos com uma ressalva explícita. É vedado o anonimato.

+
Há um motivo para isso.

A conversa sobre política na sociedade tem de ser aberta.

É assim que democracias sobrevivem.

É duro se opor à onda bolsonarista com cara aberta?

Acreditem. É.

Muita gente o faz.

Mas os direitos políticos no Brasil estão ancorados na identidade.

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Read 11 tweets
23 Apr
Um dos desafios políticos mais interessantes de assistir, nos próximos meses, é o de Ciro Gomes.

O eleitorado se dividiu em (grosseiramente) um terço, um terço, um terço.

Lula, Bolsonaro, e e o nem-nem.

Ninguém está melhor posicionado do que Ciro. Mas...

🧵
Lula conversa com moderados e consegue, qnd quer, trazer seu discurso para o Centro.

Bolsonaro não tem como. Tem os dele, o que conseguir com práticas fisiológicas, e meio que para aí.

Sem Lula, Ciro poderia disputar votos na esquerda convicta. Com Lula, fica no q já tinha.

+
Ciro não tem escolha que não caminhar claramente para o Centro.

Isto quer dizer, no caso dele, que ele precisará seduzir eleitores de centro-direita.

Isto quer dizer que ele vai ter de moderar o discurso.

Tem tempo para isso e João Santana é craque desses truques, mesmo.

+
Read 5 tweets
23 Apr
A entrevista do Wajngarten à @VEJA pode se mostrar bem importante.

O lide: Pazuello foi incompetente, errou demais, a culpa é dele e Bolsonaro não sabia.

A chave para interpretar: Wajngarten foi demitido da Secretaria de Comunicação e substituído por um militar.

Um fio

🧵
A briga do Wajngarten é com os militares.

Mas já já vai ter uma CPI para investigar justamente as responsabilidades do governo federal na pandemia.

O primeiro depoimento importante? De Pazuello. Um general da ativa.

Então...

+
Bolsonaro acaba de sair de uma briga com os militares. Demitiu todo o comando das Forças.

O presidente tb tem a expectativa de que o general ex-ministro vá depor e não o responsabilize por nada.

Agora, o ex-ministro acaba de ser jogado na fogueira por outro ex-ministro.

+
Read 8 tweets
31 Mar
Se fala muito da censura, da tortura, dos assassinatos.

Não se fala o suficiente sobre a inépcia administrativa.

No governo, o que os números mostram é muito claro: os generais que cuidaram da gestão do país entre 1964 e 1985 eram incompetentes.

🧵
Na década de 1960, quando o dólar estava baixo e os juros internacionais idem, escolheram pegar quanto dinheiro dava emprestado.

Com isso, na década seguinte, criaram alguma infraestrutura que se mostrou importante — Itaipu, Ponte Rio-Niterói.
Também jogaram muito dinheiro fora. A Transamazônica — obra caríssima da qual não sobrou nada. Usina Nuclear de Angra, que está lá de pé, mas nunca valeu nem perto do que se pagou.

Quando veio a crise do petróleo, os juros no mundo explodiram.
Read 11 tweets
22 Mar
No domingo, fiz uma provocação por aqui.

Disse que aparentemente não se ensina mais democracia nas escolas. Que jovens militantes de esquerda demais não reconhecem legitimidade na existência de uma direita.

Acho que vale clarear um pouco mais o que quis dizer.
Primeiro: não acho que o problema seja de professores.

Não foi uma alusão ao Escola sem Partido.

O problema é de currículo.

Minha impressão é de que o trauma da Ditadura fez com que nós abríssemos mão de certos ensinos importantes.

Um deles é o de sociedade, de cidadania.
Eu fui estudante no tempo da Ditadura, tive aula de Moral e Cívica e OSPB, disciplinas inventadas por Plínio Salgado, o fundador do fascismo brasileiro.

Aquelas coisas tinham de ter sido extirpadas do currículo, como foram.

Mas tinham de ter sido substituídas.
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