O problema de Jair Bolsonaro não é que ele é de direita.
O problema é que, sendo presidente, ignora ciência no meio de uma pandemia.
Não comprou vacinas porque lidera um governo onde inteligência e método de gestão são vistas com desconfiança.
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O problema de Jair Bolsonaro é que ele é um poço de preconceitos: contra mulheres, LGBTQ+, negros, indígenas.
Seu problema é que, sendo ignorante, não percebeu ainda que a Amazônia é o bilhete premiado de entrada do Brasil no século 21. Inclusive economicamente.
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Ele é autoritário. Não deseja um sistema com divisões entre três poderes independentes que se vigiam e se contrapõem uns aos outros — quer mandar em tudo.
É bárbaro. Defende que polícia deve ter poder de execução sumária bastando para isso a opinião do policial na hora.
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É antidemocrático — gostaria de jogar o flanco ideológico oposto na ilegalidade.
É um homem que defende a tortura como método de ação de Estado.
É um homem que, sendo líder, aposta na divisão. Aposta em reforçar ressentimentos. Em manter o país em estado permanente de crise
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É importante a gente entender por que Bolsonaro é um mau presidente. Um presidente terrível.
Ele é pré-moderno. Seus padrões de pensamento são anteriores ao Iluminismo. Anteriores à revolução que ocorreu no século 18.
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É importante compreender onde está o problema para que saibamos conversar sobre a solução em cima de premissas essenciais.
Uma delas é de que o outro lado — os outros lados — têm legitimidade para existir.
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Podemos discordar de muitos grupos políticos. Mas eles não são o inimigo. São aqueles que precisamos convencer a votar de acordo com nossa visão.
A lógica da democracia é buscar o diálogo, vencer pelo convencimento, não pintar o outro lado como o demônio.
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Esta lógica exige, também, compreender a história. Compreender que certas experiências passadas deram errado.
Algumas experiências passadas terminaram em pesadelos humanitários.
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O nazismo foi um pesadelo.
O fascismo foi um pesadelo.
O stalinismo também.
O maoísmo idem.
Pol Pot.
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Não dá para, num ambiente democrático, não reconhecer o mau pelo que ele é.
A opressão. A tortura. As prisões na calada da noite. O empastelamento de jornais. Viver em medo.
O genocídio.
Qualquer governo que chegue a este ponto tem de ser expurgado, denunciado, condenado.
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Vale para conservadores que disfarçam o fascismo.
Vale para liberais que disfarçam o colonialismo.
Vale para socialistas que disfarçam o stalinismo.
Temos todos nossos esqueletos indefensáveis no armário.
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Não temos de ter compromisso com erros do passado.
O Brasil vai ter um trabalho duro de reerguer sua democracia em alicerces mais sólidos depois deste nosso pesadelo atual.
Temos também contas a ajustar com o nosso passado, com os inúmeros grupos que nossa sociedade oprime.
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É fundamental que a gente vá para a mesa conversar.
Todos os democratas.
E que tragamos credenciais impecavelmente democráticas.
Porque quem defende genocida de acordo com a cor da bandeira, me desculpem.
Democrata não é.
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Um problema é legal, por dois ângulos. Pela Constituição e pela LGPD.
Todos nossos direitos políticos — livre expressão, livre assembleia, livre manifestação — são garantidos com uma ressalva explícita. É vedado o anonimato.
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Há um motivo para isso.
A conversa sobre política na sociedade tem de ser aberta.
É assim que democracias sobrevivem.
É duro se opor à onda bolsonarista com cara aberta?
Acreditem. É.
Muita gente o faz.
Mas os direitos políticos no Brasil estão ancorados na identidade.
Se fala muito da censura, da tortura, dos assassinatos.
Não se fala o suficiente sobre a inépcia administrativa.
No governo, o que os números mostram é muito claro: os generais que cuidaram da gestão do país entre 1964 e 1985 eram incompetentes.
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Na década de 1960, quando o dólar estava baixo e os juros internacionais idem, escolheram pegar quanto dinheiro dava emprestado.
Com isso, na década seguinte, criaram alguma infraestrutura que se mostrou importante — Itaipu, Ponte Rio-Niterói.
Também jogaram muito dinheiro fora. A Transamazônica — obra caríssima da qual não sobrou nada. Usina Nuclear de Angra, que está lá de pé, mas nunca valeu nem perto do que se pagou.
Quando veio a crise do petróleo, os juros no mundo explodiram.
Disse que aparentemente não se ensina mais democracia nas escolas. Que jovens militantes de esquerda demais não reconhecem legitimidade na existência de uma direita.
Acho que vale clarear um pouco mais o que quis dizer.
Primeiro: não acho que o problema seja de professores.
Não foi uma alusão ao Escola sem Partido.
O problema é de currículo.
Minha impressão é de que o trauma da Ditadura fez com que nós abríssemos mão de certos ensinos importantes.
Um deles é o de sociedade, de cidadania.
Eu fui estudante no tempo da Ditadura, tive aula de Moral e Cívica e OSPB, disciplinas inventadas por Plínio Salgado, o fundador do fascismo brasileiro.
Aquelas coisas tinham de ter sido extirpadas do currículo, como foram.