A nota das Forças Armadas contra a CPI da Covid é completamente descabida, é uma ameaça ao Senado da República que não tem espaço numa democracia.
Forças Armadas não devem se manifestar politicamente. Ponto.
Mas há nuances que precisamos levar em consideração.
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Houve Golpes de Estado com envolvimento militar em 1889, 1891, 1930, 1937, 1945, 1955 e 1964. Só um fracassou.
O Brasil tem pleno direito de olhar para as Forças Armadas com uma profunda desconfiança de suas convicções democráticas.
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São os militares que precisam provar que mudaram, não o contrário.
Com gestos como o do ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Bôas, que ameaçou o STF, ou com esta nota, o que os militares fazem é reforçar a impressão de que ainda entenderam seu papel numa democracia.
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Só que há outros gestos igualmente relevantes.
O do general Santos Cruz que, tendo sido ministro palaciano, foi rapidamente demitido por não flexibilizar em sua conduta.
O do ex-comandante Pujol, que pôs o cargo à disposição para proteger o Exército do presidente.
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Meu argumento aqui é o seguinte: estamos falando de uma instituição que tanto jornalistas quanto cientistas políticos têm dificuldade de ler. É muito opaca.
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Tenho dificuldade de comprar a tese de que há um ‘partido militar’ que atua de forma organizada e disciplinada para ocupar o poder.
Por um motivo simples: os sinais externos são de que há um conflito interno. Há gente que quer poder. E há gente que quer distanciar o Planalto.
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Isto posto, Jair Bolsonaro chegou ao governo sem ter um movimento político. Portanto, não tinha quadros.
É diferente de um PT, um PSDB, mesmo PMDB ou DEM.
Um partido desses chega ao governo e tem seus especialistas em educação, saúde, economia etc.
Bolsonaro não tinha.
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Preencheu os cargos com as Forças Armadas.
A corrupção começa aí.
Primeiro porque um país precisa de suas FFAAs. Quando se tira oficiais delas, vc as esvazia.
Mas comandantes, mesmo que tenham vontade de dizer não, sempre terão dificuldades de recusar desejos presidenciais.
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O militar que vai para um cargo no Executivo ganha um adicional ao salário.
É legal. Mas é também um incentivo para que vá ficando, vá agindo mais e mais politicamente para se manter no cargo.
Ou seja. Vc politiza quem devia pensar como militar. É uma forma de corromper.
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Só que, aí, piora.
Dentro do Executivo, onde há uma cultura de peculato, oportunidades aparecem.
O que estamos começando a ver, com esses incontáveis coronéis envolvidos em negociatas, é isso.
Desvio escancarado de dinheiro público.
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Houve muita corrupção na Ditadura Militar.
Mas havia também um garrote no Congresso e censura à imprensa.
Hoje o Congresso atua e a imprensa publica.
Muitos generais queriam estar no governo e acreditaram ou acreditam que têm papel na governança do país.
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Estão errados. Mas acreditam. Faz parte da cultura militar brasileira, que é uma cultura de República das bananas.
Querem acreditar no contrário. Mas democracias de verdade não costumam ter militares da ativa se metendo nas coisas do Estado.
EUA, França, Alemanha...
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Nem todos os generais vêem assim.
Mas o fato é que jamais foi dito não a Bolsonaro e, na ambiguidade, este se tornou um governo de militares.
E militares se corrompem quando têm poder. Como qualquer outro grupo.
O Exército está no meio da lama.
Notas com ameaças só pioram.
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Fui chamado de ‘neoliberal’, ‘fascista’ e ‘minion’ por defender a privatização dos Correios.
Se ‘neoliberal’ quer dizer thatcherista, obcecado por uma fantasia de Estado mínimo, não sou.
Fascista? É só mostra de que gente demais não leva o termo com a seriedade que devia.
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Não sou economista. Não sou especialista em logística.
E não acho que preciso ser.
Isso tem a ver com visões de mundo, de papel do Estado, e é importante termos esta conversa.
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Das três repúblicas com eleição para presidente, esta Nova República foi a melhor. De longe. Estabilizamos a moeda e demos poder de consumo a um sem número de brasileiros.
Ainda assim, a gente tem de constatar que o Estado brasileiro fracassou no importante.
O problema de Jair Bolsonaro não é que ele é de direita.
O problema é que, sendo presidente, ignora ciência no meio de uma pandemia.
Não comprou vacinas porque lidera um governo onde inteligência e método de gestão são vistas com desconfiança.
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O problema de Jair Bolsonaro é que ele é um poço de preconceitos: contra mulheres, LGBTQ+, negros, indígenas.
Seu problema é que, sendo ignorante, não percebeu ainda que a Amazônia é o bilhete premiado de entrada do Brasil no século 21. Inclusive economicamente.
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Ele é autoritário. Não deseja um sistema com divisões entre três poderes independentes que se vigiam e se contrapõem uns aos outros — quer mandar em tudo.
É bárbaro. Defende que polícia deve ter poder de execução sumária bastando para isso a opinião do policial na hora.
Um problema é legal, por dois ângulos. Pela Constituição e pela LGPD.
Todos nossos direitos políticos — livre expressão, livre assembleia, livre manifestação — são garantidos com uma ressalva explícita. É vedado o anonimato.
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Há um motivo para isso.
A conversa sobre política na sociedade tem de ser aberta.
É assim que democracias sobrevivem.
É duro se opor à onda bolsonarista com cara aberta?
Acreditem. É.
Muita gente o faz.
Mas os direitos políticos no Brasil estão ancorados na identidade.