Bolsonaro está obviamente em desespero. E com sintomas físicos. A semana que vem será chave para sua sobrevivência política.E talvez só lhe reste a saída do golpe, o que é sempre arriscado em um momento de queda da popularidade. Listemos as três principais bombas (1/7):
1. O depoimento da viúva de Adriano da Nóbrega, o executor das milícias eliminado em uma ação suspeitíssima ano passado. Isso tem potencial de esclarecer detalhes da morte de Marielle e da ligação do clã Bolsonaro com a milícia (2/7);
2. A divulgação do áudio da reunião presencial entre os irmãos Miranda e Bolsonaro. Se isso não tem o potencial de destruir Bolsonaro diretamente -- e pode ter --, ao menos atinge aliados poderosos dele no Congresso além de Ricardo Barros (3/7);
3. A repercussão do dossiê de Roberto Dias na CPI, o que pode mapear a verdadeira guerra civil entre militares e indicados do Centrão por negociatas na saúde (4/7);
Parte disso pode ser coisa plantada para dissuadir? Sem dúvida. Mas também não quer dizer que vá dar certo. Vide Dominguetti. Foi lá para enganar e acabou revelando coisas relevantes (5/7).
Se isso tudo vem à tona, se um Lira for atingido no caminho por exemplo, Bolsonaro terá de dar o golpe em um cenário de desmoralização. Nunca vi isso dar certo. Mas isso também não quer dizer que gente inocente não vá morrer ou ser presa nos próximos meses (6/7).
Bolsonaro não é um ser convencional, no entanto. Ele pode até fugir se perder. O Alto Comando pode até sacrificar ele. Mas o natural será um resposta agressiva e estranha aos padrões da política brasileira às bombas da semana que vem. Não podemos baixar a cabeça (7/7).
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Em Cuba, Díaz-Canel precisará mais e mais se reportar ao público. Silenciou demais sobre o torniquete que fariam com Cuba durante a crise sanitária-- e deve sempre lembrar da lição de Fidel de nunca se quedar ao triunfalismo (1/5).
Cuba fez um trabalho notável de combate à Covid-19, criando vacinas e protegendo seu povo. Ainda, enviou batalhões de médicos ao mundo. Só esqueceu, no meio da confusão, de articular com seus parceiros um plano de abastecimento mais robusto e de dar o tom da situação real (2/5).
As reformas que Cuba iniciou antes da Pandemia gerariam dores do parto. E havia questões duvidosas sobre o novo câmbio adotado pela Ilha. Mas era necessário, à moda de Fidel em contraposição a certo triunfalismo do Leste Europeu, informar as massas sobre as más notícias (3/5).
PT segue como partido favorito no Brasil. O equilíbrio das forças política, insisto, é o mesmo desde 1989. A diferença é que não há na direita uma instituição como PT, o que se revela por figuras como Bolsonaro/Collor não terem tido partidos fortes. O que isso quer dizer (1/7)?
Primeiro que a direita nacional é pré-moderna, no sentido de não buscar construir uma representação partidária, mas se apoiar, diretamente, em redes fluídas de interesses de suas frações -- que sustentam, de tempos em tempos, um líder personalista (2/7).
O Neoliberalismo permitiu isso. Do Império para a República, a oligarquia brasileira se desmodernizou, saíram os liberais e conservadores, vieram a miríade de partidos republicanos. Depois, com Vargas, criar algo como a UDN se tornou imperativo (3/7).
Volta e meia surge uma questão sobre a China. Mas o fato é que existe uma certa confusão sobre o uso de capitalismo ou não. Deng Xiaoping, com razão, fala que uma economia de mercado não necessariamente é capitalista. Vamos lá (1/10).
O mercado é uma invenção romana. Ou das cidades do mundo antigo. Mas o termo que chega até nós é pelos romanos. O comércio, sob variadas formas é muito antigo. Um locus para o comércio, no entanto, é posterior e chega aqui via Roma mesmo (2/10).
Roma era capitalista então? Não. O capital é uma relação social particular. O capitalismo é sistema que está compreendido essas relações, é onde essas relações são estruturantes. No Brasil, p.ex., há economia solidária, mas o sistema deixa de ser capitalista por isso? Não (3/10).
O Brasil se aproxima do momento de decisão. Basicamente, Bolsonaro e os generais que lhe apoiam abriram as porteiras institucionais para "garantir" o Capitão. Por outro lado, a CPI avança, a popularidade dele cai e Lula avança, com um fortalecimento das esquerdas (1/7).
Bolsonaro busca ganhar tempo para que a pandemia, magicamente, vá embora e a tal alta das commodities venha lhe salvar, magicamente. Na dúvida, o governo conta com um cenário institucional que lhe permita, não importa como, ganhar (2/7).
O marco das 500 mil mortes e as manifestações contínuas, sem que o governo se mexa convergem na direção de uma radicalização -- que talvez o governo até queira, para poder reprimir (3/7).
Ainda sobre a China e EUA: se os EUA aceleram sua política expansionista, que lá é regra, basicamente, isso se converte em oferta de crédito para os consumidores americanos (e um grande ganho para o sistema financeiro local) (1/10).
O banco americano ganha mais. Mas o consumidor pode consumir. Isso acelera a produção nos EUA? Sim, mas os EUA se viciaram no privilégio exorbitante e vão lá absorver a oferta mais vantajosa (2/10).
Isso, paradoxalmente, não faz necessariamente a indústria americana crescer. O próprio sistema busca a oferta global, por uma demanda induzida por um sistema global de reciclagem de capitais (3/10).
"Fosse boxe o esporte em questão, o resultado da reunião de cerca de 3 horas e meia, até 5 horas no plano da Casa Branca, seria um empate técnico ou uma apertada vitória por pontos para o russo" -- se a Folha disse isso, Putin venceu por nocaute. Mas vamos lá (1/10).
Putin e Biden não foram se reunir esperando rigorosamente, nada. Então, chiste à parte, não houve luta, apenas estudo de lado a lado. Todo o resto caminhará pelo tabuleiro geopolítico, de luta econômica e militar (2/10).
A Europa foi dobrada por Biden, mas isso não quer dizer que os alemães vão abrir mão do Nordstream 2. A provocação americano-ucraniana não deu em nada. E é evidente que a Rússia não seria amadora a esse ponto (3/10).