Era domingo, e eu almoçava com a minha família em um restaurante quando o garçom que nos servia se aproximou de mim.

Aqui eu preciso avisar: tenho ótima memória para rostos.

Cruzo na rua com pessoas que vi pela última vez há 30 ou 40 anos e as reconheço instantaneamente.
Mas tenho dificuldade anormal com nomes.

Costumo esquecer os nomes das pessoas poucos segundos depois de ser apresentado a elas.

Isso se tornou fonte de angústia e de situações embaraçosas sem fim.
Como vivo com a cabeça nas nuvens, também geralmente esqueço de perguntar o nome das pessoas com que estou falando.

O fato é que eu não sabia ainda que o nome do rapaz que se aproximou de mim era Rogério.

Ao chegar perto de mim ele disse:
“Desculpe perguntar, mas o senhor faz uns vídeos?”

Eu levei um susto. Quando me perguntam isso, nunca sei o que vem depois.

“Faço sim”, admiti, meio envergonhado.

“Já vi muitos vídeos seus”, ele disse, mencionando o nome de um canal da internet que reproduzia meu material.
E chegando mais perto e falando um pouco mais baixo:

“Concordo com tudo o que senhor diz”.

“As coisas têm que mudar, não é?”. Acho que foi essa a resposta que eu dei.

“Tem que mudar tudo”, Rogério respondeu, “é um absurdo a situação em que vivemos”.
Ele me contou a história de um outro garçom, colega de trabalho no restaurante – “aquele ali”, ele me apontou.

O colega tinha uma motocicleta caindo aos pedaços, que era o seu transporte para o trabalho.
Há poucos dias, chegando no subúrbio distante em que morava, o colega havia sido rendido por dois criminosos armados – “vagabundos”, como os descreveu Rogério – que roubaram, a moto.

“Agora”, disse Rogério, “ele toma duas conduções para vir trabalhar”.
Não existe pauta mais importante no Brasil de hoje do que a luta contra a criminalidade e a impunidade.

Não existe pauta mais cara à esquerda do que a proteção de criminosos.

Todos precisam ficar sabendo disso.

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14 Jul
Trago outra história incrível. Mas é verdade.

Fui fazer uma apresentação em Campinas, em junho de 2018.

Sobre segurança pública, meu assunto preferido.

Vocês sabem: conto as histórias de vítimas, explico que crime é escolha e que não existe “ressocialização”.
Não é o Estado que convence o bandido a se regenerar. É o criminoso que decide mudar de vida.

Então.

Acabou a palestra e desci do palco.

O técnico que cuidava do som me chamou em um canto.

“Isso o que o senhor falou aconteceu comigo”, ele disse.

Isso o quê?, perguntei.
Ele - Marcos - me contou.

“Meu irmão roubou uma moto”, disse ele. “Quando descobrimos, fomos falar com a vítima”.

Ele falava baixo, emocionado.

“Somos gente decente. Pegamos um empréstimo para comprar uma moto nova para o rapaz que fora roubado”.
Read 5 tweets
14 Jul
Muita gente não sabe que “progressismo” é apenas mais uma tentativa de mudar o nome daquilo que era, anteriormente, conhecido como comunismo ou socialismo.

David Horowitz conta que, na sua juventude, viu os comunistas americanos passarem a se chamar de “progressistas”.
Era muito mais fofo e aceitável socialmente. Afinal, quem pode ser contra o “progresso”?

“Progressimo” é o comunismo gourmet, pronto para ser consumido no Leblon e nos Jardins.

Essa não é a única vitória de marketing da esquerda. De forma alguma.
Quer conhecer outra expressão inventada pelos vermelhinhos, e que faz sucesso até hoje?


Então.

A ascensão do liberalismo expôs os erros absurdos das políticas intervencionistas pregadas pela esquerda.
Read 4 tweets
13 Jul
Tem muita gente dizendo besteira sobre a questão das eleições e do sistema de votação.

Vamos esclarecer explicando bem devagar:
O voto manual, em papel (modelo antigo) permitia fraudes locais, mas não fraudes sistêmicas.

O voto eletrônico sem auditoria externa, a princípio evita a fraude local, mas facilita enormemente a fraude sistêmica.

Como assim?
A fraude local na votação em papel ocorria quanto a pessoa encarregada de contar os votos, adulterava as cédulas ou contava os votos de forma errada. Ela alterava o resultado ali, naquela seção, mas não tinha nenhuma possibilidade de fraudar a totalização nacional dos votos.
Read 10 tweets
11 Jul
Um dos fenômenos mais impressionantes dos últimos anos são as pessoas públicas que mudaram 100% suas posições e convicções políticas - para pior.
É gente que subiu comigo em carros de som nas manifestações anti-PT, que angariou seguidores defendendo a liberdade, e hoje anda de mãos dadas com o que há de mais atrasado na extrema-esquerda.

A pergunta é: por que?
Não pode ser por desconhecimento, ingenuidade ou desinformação.

Eu não reivindico o monopólio da verdade nem da virtude (isso é coisa da esquerda), mas é IMPOSSÍVEL aceitar tamanha maleabilidade moral.
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10 Jul
Voltamos da praia e Maria quer colo. Não está cansada. Só quer colo. Maria está grande, eu a ajeito de um lado, as cadeiras de praia do outro. A tardinha cai no Rio de Janeiro.

“Papai”, Maria me chama, quando chegamos na esquina: “Olha só que engraçado”.
Eu presto atenção. Ela me explica:

“A boneca está no meu colo, eu estou no seu colo”.

Ela abre o sorriso: “e você está no colo do chão !”

“Todo mundo está no colo do chão. todas as pessoas, em todos os lugares”.
É verdade minha pequena, estamos todos no colo do chão, no colo da Terra.

Eu olho ao redor as pessoas indo e voltando da praia, turistas, moradores, ambulantes. As ondas quebram na praia levantando espuma. Surfistas passam distraídos, roupas de borracha, pranchas do lado, em paz
Read 5 tweets
10 Jul
Aconteceu há mais de um ano. Eu andava dormindo mal. Peguei uma gripe e adormeci no final da tarde, na cama do João, que ainda estava na escola.
Caí em um sono desorganizado e agitado. Em um certo momento, senti o toque de um lençol caindo sobre mim. Alguém me cobre, ajeita meu travesseiro. Eu resisto a despertar. Deve ser a Josefa, que trabalha conosco. Estranho. Ela nunca fez isso.

Voltei pro meu sono.
Quando acordei, saí pela casa, corpo ainda doído da gripe. “João chegou”, Josefa me diz na cozinha. “Está na sala, viu o senhor dormindo e não quis incomodar”.

Na sala, João assiste TV mastigando alguma coisa.

“Filho”, eu pergunto, “foi você que me cobriu?”
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