Vale retornarmos a história maluca dos mais de cem marechais.
De ontem para hoje, temos respostas mas persiste uma dúvida — uma dúvida grave.
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Quando um militar passa à reserva, não sobe mais um posto — como ocorria — mas para aqueles que entraram no serviço até 2001 persiste o direito de ganhar proventos do posto imediatamente acima.
Os quatro estrelas, portanto, os generais de Exército ganham o salário de marechal
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É por isso que o ‘cargo’ que aparece no Portal da Transparência do governo federal aparece listando todos como marechal.
É um erro. Mas não se refere a sua posição hierárquica e sim ao salário — ou soldo — que recebem.
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Até aí é feio, mas não há incorreção.
Isso não explica, porém, os proventos das duas filhas do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
As duas dividem em dois, mensalmente, o valor de R$ 30 mil. Que é o que recebe um marechal.
Ustra, já morto, aparece como ‘marechal’.
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Ustra foi o maior torturador do Exército brasileiro durante a Ditadura Militar.
Mesmo que se compre a versão do Exército, de que o combate aos grupos da esquerda armada eram uma guerra, ainda assim o Brasil é signatário da Convenção de Genebra.
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Tortura, portanto, não é apenas indigno.
Infringir dor de forma sádica a um ser humano indefeso.
Tortura é um crime contra a humanidade e, também, um dos mais graves crimes de guerra.
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Nem utilizando a desculpa furada habitual dos militares — a de que havia uma guerra — a tortura deixa de ser o que é.
É indigno. É sádico. É coisa de canalhas. Em qualquer democracia o oficial que tortura é visto como pária em Forças Armadas.
Nas que prezam sua honra, claro.
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Ustra, não custa dizer, não é apenas acusado de tortura.
Que torturou dezenas, talvez mais, foi já comprovado na Justiça e ele foi condenado.
A sentença só não foi executada por conta da Lei de Anistia.
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Entre os que identificaram Ustra como responsável por este crime asqueroso no nível do estupro está um dos pais do Plano Real, o economista Pérsio Arida.
Pois Ustra passou à reserva como coronel.
Precisaria galgar quatro níveis hierárquicos para chegar a marechal.
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Por que suas filhas recebem uma pensão equivalente à do maior, e mais honroso, posto do Exército brasileiro?
Não há justificativa possível.
Mas, se a informação no Portal da Transparência está correta, alguém tomou a decisão de ‘promovê-lo’.
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Vera Rosa é uma das decanas da cobertura política de Brasília. Apuração dela, e todo mundo em BSB sabe disso, não tem barriga. Ela assina com a Andreza Matais, que é diretora da sucursal. Juntou as duas numa só reportagem com este peso?
Aconteceu.
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Ou seja: Braga Netto e os três comandantes das Forças Armadas foram ao presidente da Câmara dos Deputados e o ameaçaram de golpe de Estado perante testemunhas.
E aí?
Aí Arthur Lira não deu o que eles queriam e eles não fizeram nada.
A nota das Forças Armadas contra a CPI da Covid é completamente descabida, é uma ameaça ao Senado da República que não tem espaço numa democracia.
Forças Armadas não devem se manifestar politicamente. Ponto.
Mas há nuances que precisamos levar em consideração.
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Houve Golpes de Estado com envolvimento militar em 1889, 1891, 1930, 1937, 1945, 1955 e 1964. Só um fracassou.
O Brasil tem pleno direito de olhar para as Forças Armadas com uma profunda desconfiança de suas convicções democráticas.
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São os militares que precisam provar que mudaram, não o contrário.
Com gestos como o do ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Bôas, que ameaçou o STF, ou com esta nota, o que os militares fazem é reforçar a impressão de que ainda entenderam seu papel numa democracia.
Fui chamado de ‘neoliberal’, ‘fascista’ e ‘minion’ por defender a privatização dos Correios.
Se ‘neoliberal’ quer dizer thatcherista, obcecado por uma fantasia de Estado mínimo, não sou.
Fascista? É só mostra de que gente demais não leva o termo com a seriedade que devia.
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Não sou economista. Não sou especialista em logística.
E não acho que preciso ser.
Isso tem a ver com visões de mundo, de papel do Estado, e é importante termos esta conversa.
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Das três repúblicas com eleição para presidente, esta Nova República foi a melhor. De longe. Estabilizamos a moeda e demos poder de consumo a um sem número de brasileiros.
Ainda assim, a gente tem de constatar que o Estado brasileiro fracassou no importante.
O problema de Jair Bolsonaro não é que ele é de direita.
O problema é que, sendo presidente, ignora ciência no meio de uma pandemia.
Não comprou vacinas porque lidera um governo onde inteligência e método de gestão são vistas com desconfiança.
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O problema de Jair Bolsonaro é que ele é um poço de preconceitos: contra mulheres, LGBTQ+, negros, indígenas.
Seu problema é que, sendo ignorante, não percebeu ainda que a Amazônia é o bilhete premiado de entrada do Brasil no século 21. Inclusive economicamente.
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Ele é autoritário. Não deseja um sistema com divisões entre três poderes independentes que se vigiam e se contrapõem uns aos outros — quer mandar em tudo.
É bárbaro. Defende que polícia deve ter poder de execução sumária bastando para isso a opinião do policial na hora.
Um problema é legal, por dois ângulos. Pela Constituição e pela LGPD.
Todos nossos direitos políticos — livre expressão, livre assembleia, livre manifestação — são garantidos com uma ressalva explícita. É vedado o anonimato.
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Há um motivo para isso.
A conversa sobre política na sociedade tem de ser aberta.
É assim que democracias sobrevivem.
É duro se opor à onda bolsonarista com cara aberta?
Acreditem. É.
Muita gente o faz.
Mas os direitos políticos no Brasil estão ancorados na identidade.