Um congresso on-line com várias autoridades discutindo diferentes aspectos da Medicina. Esse é o Sanarcon 2021. E vai acontecer esse sábado, 18 de setembro.
Vou elencar aqui algumas razões para você, médico ou estudante, não perder esse congresso de altíssimo nível. Segue o fio.
A querida Natalia Pasternak (@TaschnerNatalia) vai falar sobre "Ciência no cotidiano", tema que dá nome a um dos seus livros.
Ela vai trazer razões pelas quais nós devemos ser críticos e educados quando analisamos evidências científicas.
Seguindo a mesma linha, Luis Correia (@LuisCLCorreia), uma verdadeira inspiração para mim e muitos outros médicos, falará sobre a "Incerteza na Medicina".
Esse é um tema da maior importância, visto que nossa ciência é uma arte de probabilidades e não há como fugir disso.
Renato Mello (@renatogbm) apresentará a todos a Iniciativa Choosing Wisely (@ChooseWiselyBR), que tem tido importante papel na pandemia e fora dela, trazendo mais racionalidade à prática médica, evitando gastos e danos desnecessários aos pacientes.
Renato Sabbatini é um expoente no tema Inteligência Artificial e vai trazer uma palestra "pé no chão": o que podemos esperar e quais os desafios da implementação desse modelo na Medicina. Caio Nunes (@Caionunes_sanar) estará nessa mesa.
Mariana Varella (@marivarella) vai falar sobre quais os desafios da comunicação em ciência no Brasil. Um ótimo tema não apenas pra quem é da área da saúde.
Como o congresso é de graça, se esse tema te interessa, aparece lá!
Meu amigo Álvaro Costa, infectologista, vai trazer um tema super atual: os desafios da vacina para o HIV.
Eu vou trazer um tema muito importante: como interpretar artigos científicos?
Veja bem: um dos pilares da profissão médica é trazer tratamentos eficazes aos nossos pacientes. Mas o que define que um tratamento é realmente eficaz?
E tem mais: o congresso lançou um programa de divulgação premiada. Se você cumprir todos os passos dessa promoção, você ganha (SEM SORTEIO), o maior lançamento da história da Sanar, o Manual de Medicina Baseada em Evidências.
Se já tem as cerejinhas, aproveita pra dar de presente
Pra saber mais sobre esse congresso que já é um sucesso, pela autoridade que trazemos nessa edição, entra no link:
Em Medicina, existe uma limitação poucas vezes confessada em consultório (porque isso quase que invariavelmente se traduz em demonstração de fraqueza): é que esse é um ofício de incerteza.
Nesse fio, eu discorro sobre a natureza probabilística da Medicina.
A Medicina é uma ciência da incerteza porque:
1. Trabalhamos com incerteza na interpretação de exames 2. Trabalhamos com incerteza na interpretação da resposta dos pacientes às terapias
Vou explicar ambos.
1. Incerteza na interpretação de exames:
Nas mãos de um médico minimamente bem formado, a interpretação de um exame não é “positivo x negativo”, mas “verdadeiro x falso positivo, verdadeiro x falso negativo”.
Só isso já acrescenta uma camada de dificuldade maior à profissão.
Sensibilidade e especificidade não são úteis para o médico.
Sensibilidade e especificidade não são úteis para o médico.
Sensibilidade e especificidade não são úteis para o médico.
O médico que só trabalha com esses valores está despreparado para exercer raciocínio clínico.
Vamos a uma enquete em que isso se provará verdade:
1. Sabendo que a especificidade do ECG para diagnosticar oclusões coronárias agudas é 97%, qual a probabilidade de uma pessoa aleatória ter supra de ST e não ter infarto?
A resposta correta a essa pergunta é “impossível saber” por conta de um simples fato:
- Sensibilidade e especificidade partem de um dado que o clínico, na maioria das vezes, não sabe:
- Para o clínico, sensibilidade e especificidade (essas duas informações apenas, e nada mais):
Ainda para a minha bolha:
- A maioria dos médicos:
E por último:
- O ensino médico, em geral, deixa claro o problema nessa questão e ensina método bayesiano probabilístico de interpretação de exames, dando ao aluno condições de perceber que está aprendendo algo insuficiente.
Imagine que você é convidado a participar como voluntário em um estudo científico sobre uma nova droga e, por alguma razão (em geral, fama ou dinheiro) os pesquisadores têm interesse em fazer esse remédio “dar certo”.
Um fio sobre o viés de alocação e sobre pensamento crítico.
Se fala aos quatro ventos que o padrão ouro da ciência é o estudo duplo-cego, randomizado, placebo-controlado.
O que não se fala é que não basta esse estudo existir que automaticamente deve ser aceito pela comunidade médica.
Ele precisa passar por avaliações metodológicas
Ser duplo-cego e randomizado significa que nem a equipe médica nem os pacientes sabem a que braço do estudo o paciente será alocado. Isso é feito para evitar subjetividades no processo, como a que eu citei no primeiro tweet.
Agora eu pergunto: você acredita em tudo que falam?
Uma das frases mais distorcidas por médicos leigos e charlatões é a máxima “a clínica é soberana”.
Essa frase deve guiar as atitudes de todos os médicos diariamente. E não é compreendida por muitos.
O que significa, então? Segue o fio.
1. Que a clínica é superior à cirurgia.
Não, cara pálida. (Para quem não é médico: existe uma implicância boba entre as duas especialidades).
Cirurgiões, obstetras, veterinários… todo mundo que lida com diagnósticos e tratamentos deve ser subordinado à clínica.
2. Que a clínica é superior à Medicina Baseada em Evidências.
Frases do tipo “quem sabe mais é quem tratou 300 pacientes ou quem tá sentado numa mesa avaliando estudos?” levam a crer que a ~atividade clínica~ é superior às evidências.
Também não é assim.