Renato Gaúcho nunca se vendeu como técnico que prioriza organização tática. Sempre deixou claro que seu forte era recuperar individualidades e gerir o grupo.
Isso explica muito da falta de controle do Fla, especialmente no 2º tempo, mas não indica que Renato é um técnico ruim.
O papel de um treinador é tomar decisões para chegar num determinado objetivo: vencer o jogo. Essas decisões, no fim, sempre são de ordem tática (porque envolvem o jogo) e de gestão de grupo (porque envolvem as pessoas que estão lá dentro de campo).
Exemplo: quando o Renato recua o time no 2º tempo, com a vantagem no placar.
Essa decisão é tática. Ele quer chamar o adversário, mas defendendo bem, geralmente com Thiago Maia. Aí, explora a velocidade do Michael no contra-ataque. ge.globo.com/blogs/painel-t…
Ao mesmo tempo que é tática, é uma decisão que afeta na gestão de grupo. É o tipo de cenário que potencializa o Michael e o Vitinho. As entradas do Rodinei, querido pelo grupo inteiro, também foram uma forma de deixar todos confortáveis dentro de um cenário que sabem jogar.
Renato acredita muito que os jogadores têm liberdade de tomar decisões em campo, como se movimentar e trocar de posição. Isso fez o Flamengo ficar mais móvel. Ceni já acreditava em outra coisa, queria uma estrutura mais fixa, o que nem sempre deixava o Michael no melhor cenário.
Gestão de grupo não é uma coisa separada de tática. No fim, tudo se conversa.
O que aconteceu hoje é que o Barcelona mostrou coisas que Renato ainda não tinha vivenciado no Flamengo. E nem ele, nem seus jogadores, responderam plenamente a essas mudanças.
A começar pela forma como o Barcelona agrediu as costas de Arão e Andreas. A defesa do Flamengo, que joga em linha (algo que Renato manteve de Ceni) foi bastante exigida e em vários momentos se viu quebrada, com um zagueiro ou lateral fora do setor dos companheiros.
Não acho que isso tenha sido um risco calculado. Foi algo que o Fla não tinha vivido e, por vezes, errou. Mas Renato sabe que tem um grande goleiro e zagueiros que lá, no calor do jogo, podem resolver entre si essas falhas.
Do mesmo modo, os gols do Fla não saíram só por acaso. Teve dedo do Renato também. Deu pra ver um pouco do tipo de organização que ele coloca no time, que tá mais que explicado nesse texto. ge.globo.com/blogs/painel-t…
O gol nasce de uma "troca ofensiva" entre o Gabigol e o Vitinho (um foi buscar a bola e outro avança). Andreas e Everton Ribeiro também fazem essa troca (um avança, o outro tá mais recuado).
Tudo isso com a individualidade do Bruno Henrique, de se antecipar no segundo pau.
Então veja que individualidade e organização tática não são coisas excludentes.
Elas se conversam.
Estão interligadas.
Tem técnico que prioriza a tática. Tem quem priorize a individualidade. Sempre vai ter um pouco dos dois, porque não tem como separar.
No caso do Renato, ele já disse que o forte é a gestão de grupo.
Pro bem e pro mal.
Quando chegou no Grêmio e ajustou algumas coisas, como o modo de marcação, venceu Copa do Brasil e Libertadores.
Quando o time precisava de um novo modelo e novas soluções, começou a ir mal, como em 2018, 2019 e mais especificamente como em 2020. Na última temporada, Renato tentava fazer mais ou menos o que faz no Fla: toca bola até conseguir a vantagem, depois recua e contra-ataca.
Esse é o modo dele ver as coisas. Não acho um modo bom ou ruim, é apenas a escolha dele. O técnico que ele é. Renato tem qualidades e limitações, como qualquer outro técnico no mundo. Ver o todo é sempre melhor.
Galo foi melhor, sem conseguir de fato entrar na área. Palmeiras esbarrou nos conhecidos problemas de construção.
Jogo de Libertadores costuma ser mais truncado mesmo. Dito isso, Atlético-MG e Palmeiras poderiam ter mostrado mais com a bola, mas foram muito bem sem ela.
Cuca fez algo interessante hoje, que foi puxar o Allan para a esquerda para que Arana ficasse sempre aberto no corredor esquerdo.
Assim, Nacho e Zaracho tinham todo o espaço por dentro para circular e cadenciar até achar Hulk e Diego Costa em tabelas curtas, o forte do time.
A resposta de Abel foi colocar Rony pela direita, acompanhando o lateral para que a linha de defesa ficasse estruturada e criasse superioridade em Hulk e Diego Costa.
Felipe Melo entrou para proteger a entrada da área e permitir que os meias subissem para pressionar alto.
Curiosa a ideia de que Abel não tira o que o elenco do Palmeiras "pode" dar.
Um elenco que já deu Libertadores e Copa do Brasil, com jogos muito superiores a River e Grêmio, e ainda foi muito melhor que o rival São Paulo...
É o mesmo elenco que não é aproveitado pelo técnico?
Com Luxemburgo, reclamava-se muito do elenco do Palmeiras.
Abel pegou um elenco PIOR (sem Ramires e Dudu), e sem tempo de treino, elevou o nível de desempenho e resultado do time.
É um trabalho indiscutível de tão bom. E como qualquer trabalho no mundo, longe de ser perfeito.
O problema, hoje, é a dificuldade contra times mais fechados. Algo que vinha muito antes do Abel e que tem como origem a própria característica do elenco, cheio de jogadores que rendem com espaço (Dudu, Rony, etc) e poucos pensadores de trás.
Louis Van Gaal está muito próximo de comandar a seleção da Holanda pelos próximos 18 meses, visando a classificação para a Copa do Mundo de 2022.
Breve fio sobre um dos mais importantes treinadores da história do futebol 🧶👇
Van Gaal se caracterizou como um construtor de equipes. O técnico que demitia e contratava mesmo a contragosto de muitos e dava chances para novos nomes da base.
Ele é o treinador holandês com mais títulos conquistados a nível internacional e sempre foi considerado um meio-termo entre a filosofia quase utópica de Cruyff (de quem era desafeto) e o pragmatismo que teve Leo Beenhakker, tri-campeão espanhol com o Real Madrid, como expoente.
A forma pela qual Rogério Ceni foi demitido do Flamengo é grave, desrespeitosa.
Quando entendermos que os medalhões, as dívidas e a falta de inovação no futebol brasileiro começa em diretorias amadoras como a do Flamengo, que o problema tá na gestão, aí a coisa melhora...
Toda hora, te vendem e fazem você acreditar que o problema do seu time é o técnico. Que ele isso, que ele aquilo. A conclusão lógica, que todo mundo toma, é simples: "troca".
Mas o problema, na maioria das vezes, não é ele. É a diretoria. Gente que você não sabe nem o nome.
Não adianta cobrar que o técnico do seu time seja "moderno e atualizado", como tentam te vender que soluciona, se ele não tem o mínimo respaldo da diretoria ou não está inserido num planejamento maior.
A quarta eliminação do Palmeiras numa disputa de pênaltis em 2021 é sinal de uma dificuldade cada vez mais aparente: criar contra defesas fechadas.
Pode parecer que o problema está no elenco.
Não é isso. O desafio é mais difícil: mudar o modelo para novos desafios. Vem no fio👇
Primeiro de tudo: criar jogo é um mecanismo coletivo. Não depende de um camisa 10 com poderes mágicos, como diz o imaginário popular.
É um engrenagem que envolve movimentos sem a bola para tirar o adversário do lugar e abrir espaço para alguém, como o volante ou o camisa 9.
Abel Ferreira opta por criar espaço a partir de um jogo direto. Veja bem: não é chutão, não é bagunça, é direto. Rápido, sem firula, com passes para frente e agilidade pra chegar ao gol.
Esse jogo direto tem dois mecanismos claros: a saída de três e infiltrações dos atacantes.
Apertem os cintos: o Jogo de Posição irá dominar novamente o debate esportivo com a chegada de Miguel Ángel Ramírez no Internacional.
Mas afinal, que raios é isso?
Antes de tudo: Jogo de Posição é uma filosofia. Um jeito diferente de ver futebol. Segue o fio pra entender! 👇
Conhecimento é algo vivo e em constante transformação.
Então é muito natural que o Jogo de Posição (vamos abreviar pra JdP) cause tantas confusões e enganos, como "o time fica estático", "os jogadores ficam robotizados" e outros discursos saudosistas e negacionistas.
O nome dessa filosofia não ajuda: a gente relaciona a posição ao campo.
Então se vemos dois laterais abertos esperando a bola, pronto: é Jogo de Posição! Isso aconteceu muito com o Bruno Henrique na passagem de Dome pelo Fla.