Falei que o @tradersclubbr tinha perdido quase 50% de valor desde o primeiro dia de negociação.
Fiz uma pergunta (retórica) de quem tinha errado no processo. Falaram que a análise foi rasa.
Então vamos lembrar de quando trabalhava no IB e falar como funciona o processo de IPO.
Um processo de IPO, desde o Kickoff até a liquidação, demora - EM MÉDIA - 4 meses.
Depois de fazer uma due diligence, preparar o prospecto, protocalar na CVM e começar o investor education, começa a parte do Valuation.
É aqui que quero falar.
A essa altura do campeonato, a empresa que abrirá capital já contratou um Bookrunner.
Bookrunner é o responsável para coordenar toda esse processo do IPO. Na verdade tem mais de um (joint bookrunner) e o líder que coordena.
Em geral as equipes são pequenas.
Você vai ter um VP, especialista na área. E um ou dois Associates (um cara com 2/3 anos de banco) que vão fazer o material para apresentar no Roadshow.
É ele quem vai tentar "vender a empresa". Aí vai mostrar as vantagens comparativas, etc e fazer o Valuation.
Como todos os modelos são errados, mas alguns são mais úteis que outros, o associate vai fazer vai fazer mais de um método.
Vai fazer DCF, mas também uma análise de múltiplos já que é bem intuitiva.
Em geral, coloca-se um gráfico chamado Football Field Chart com os Valuations.
Feito o Valuation que, em geral, demora uns 2 meses, você vai fazer a discussão de preço. É a última etapa. A construção do bookbuilding.
ECM (Equity Capital Markets) é quem cuida mais do bookbuilding.
Qual o desafio aqui? Precificar corretamente. Nem muito alto, nem baixo.
Você vai conversar com um monte de gente ao redor do mundo pra mostrar sua tese de investimento.
É um jogo de convencimento mesmo.
Imagine que o mercado seja Deus, tenha informação perfeita e saiba precificar corretamente. Ele estaria disposto a pagar 10 reais na ação.
Mas você - banco - não sabe disso.
Se você precifica muito baixo - a R$ 8, por exemplo - então, vai ter uma demanda absurda pelo papel.
Por isso saem aqueles IPOs de 5x a demanda do book.
Isso é ruim para o dono da empresa. Pois venderam algo a um preço muito mais barato que o mercado estava disposto a pagar.
O dono da empresa não ficaria muito feliz bom o Bookrunner pois deixou dinheiro na mesa.
O acionista que comprou pode ter ficado feliz. Pois a ação TENDERIA a valorizar bastante.
Mas o dono que vendeu não. Nem o Banco De Investimento, pois ele ganha um % da venda. E portanto ganhou menos do que poderia.
O oposto, então, é bom?
Imagine que o mercado ainda está disposto a pagar 10, mas você vendeu a R$ 12.
Então vai ter uma demanda fraca.
Mas se o bookrunner conseguiu emplacar o IPO, então o dono da empresa ficou felizão, porque colocou dinheiro no bolso.
O desafio de um IB, claro, é conseguir vender no valor mais alto possível. O dono e o IB ficarão feliz.
Mas não muito alto a ponto de ter um demanda muito fraca e não fechar o book nem ver a ação despencar nos meses seguintes.
E há VÁRIAS de ancorar esse book a um preço +alto.
Uma maneira muito simples, por exemplo, é chamar um investidor âncora, pesado. Imagine que o Warren Buffet diga que vai comprar um IPO X. Pronto, um monte de gente corre.
Outra é usar sua base de Pessoa Física. (Alguma semelhança aqui?)
Mas o mercado não briga. Precifica.
Eis então que o Traders Club fez seu IPO e perdeu quase 50% de valor desde então.
Isso é fato, não é opinião.
Isso quer dizer que a empresa não vale nada? Claro que não.
Isso quer dizer que a empresa não gerar valor e ver sua ação valorizando no longo prazo? Também não!
MAS QUER DIZER QUE O PREÇO DA OFERTA FOI ERRADO! ALIÁS IPO É UM JOGO DE NARRATIVA.
O PRECO DE OFERTA FOI ERRADO! O PREÇO DE OFERTA FOI ERRADO! O PREÇO DE OFERTA FOI ERRADO!
Tanto é que um gráfico que os IBs sempre mostram é o desempenho das ações, pós IPO.
Porque se teve investidor institucional - muito mais inteligente que pessoa física do varejo - ele não quer entrar em algo pra perder 50% em 3 meses.
Então, vão ter que esconder esse IPO. Ou fazer malabarismo - coisa que IB faz muito - pra justificar que deu certo.
Sim, tem que comparar com coisas comparáveis. Não dá pra comparar só com Ibovespa. Tem que ser com Small Caps.
A empresa também errou, pois a aceitou aquele valuation. Pois claro, tinha incentivos pra passar pra mão dos outros ao maior valor possível.
A empresa pode subir e multiplicar por 5. Isso não exclui o fato de que O PREÇO DE OFERTA FOI ERRADO.
Claro que vão tentar defender.
Mas podem falar o que for. Ninguém vai me convencer de que perder 50% após um IPO não tem ninguém errado no processo.
Mas ninguém precisa concordar comigo. Essa é a beleza do mercado. Ele não briga, precifica. Quem me acha errado só comprar TRAD3.
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"Se você tem 10 milhões de reais, você é meio pobre!"
Essa foi a frase do vídeo do @FeCastanhari que viralizou. É uma frase completamente errada que ensina coisas erradas e sugere políticas públicas erradas...
O que ele deveria ter dito para não desinformar o brasileiro?
Basicamente ele diz que o #N° 1 do Brasil é o Eduardo Saverin com R$ 97 bilhões.
E continuar dizendo que Silvio Santos - que tem R$ 1,7 bilhão - está bem mais próximo de quem não tem nada do que do Saverin.
E por isso quem tem uma Land Rover - um carro de R$ 500 mil - é pobre.
Mas vamos usar um outro exemplo.
Imagine que você colocasse todos os brasileiros em uma fila gigante por ordem de renda. Dos mais ricos aos mais pobres.
No ponto mais ao norte do país - Oiapoque - você coloca os mais ricos. No outro extremo sul - Chuí - estarão os mais pobres.
Dia 8 de setembro. O BRASIL ACORDA EXATAMENTE IGUAL AO DIA 6.
A gasolina continua cara, temos milhares de desempregados, vamos ficando mais pobres.
Sabe por quê? Porque - DE NOVO - optamos por focar no irrelevante. Pedimos pautas que NADA AFETAM nossos VERDADEIROS PROBLEMAS. 1/
Pergunte a um brasileiro, o que mais o preocupa. A resposta será algo como:
- Nossa inflação está em 9%.
- Temos 14,8% milhões de desempregados (14,6% dos dos brasileiros).
- 27 milhões de brasileiros vivem na miséria.
- Gasolina já está R$ 7,00.
Nessa civilização os "direitos" dos trabalhadores eram defendidos a qualquer custo por políticos e sindicatos! Qualquer mudança que fosse "prejudicar" os trabalhadores era barrada!
Perto dali, havia outra civilização a Marketland.
Nessa civilização os sindicatos eram fracos. Os grupos de interesse e as sociedades de classe não conseguiam fazer lobbys.
Sempre que havia alguma mudança na lei ou alguma nova tecnologia, portanto, o projeto era aprovado sem muita resistência.
Na Lobbyland, qualquer mudança que gerasse desemprego sofria resistência. Por isso os Lobbylanders ainda utilizavam lampiões e tinham suas colheitas manuais.
Houve uma tentativa de instalar luz elétrica e tratores, mas como os setores empregavam muita mão de obra, não avançou.