Flamengo e Palmeiras, a final dos times que dominam o Brasil. Os últimos campeões da Libertadores do Brasileirão.

Ganhar e perder é do jogo, Gabigol e Breno Lopes que o digam. Mas chegar sempre não é acaso. É fruto da ruptura administrativa que os dois clubes fazem há oito anos.
O Flamengo passou anos brigando contra rebaixamento quando Bandeira de Mello assumiu o clube no fim de 2012. Sua meta era sanar uma dívida de quase R$ 800 milhões e evitar processos trabalhistas e salários atrasados.
A situação do Palmeiras era ainda pior. Rebaixado para a Série B, contava com apenas 18 jogadores no elenco quando Paulo Nobre assumiu a presidência. Além das altas dívidas, a receita do clube era muito pequena, a ponto de não conseguir contratar jogadores.
Nobre e Bandeira compraram brigas com a torcida.

Um diminuiu investimentos no futebol, a ponto de ter revelações do Ituano como principais contratações. O outro vendeu Barcos para fazer elenco na disputa de uma segunda divisão.
O que ambos queriam era romper um processo que, até então, era natural no Brasil: gasta o que tem e não tem pra vencer. Se jogador não dar certo, empresta e continua pagando salário. Contrata e demite técnico, paga a multa depois. E vai acumulando dívida, sofrendo processo.
Nobre e Bandeira foram um dos primeiros a ver um clube com ares de empresa, fazendo o que é meio óbvio: contas e salários em dia, mais faturamento que dívida, separação do dinheiro do futebol do administrativo, infra-estrutura de ponta para trabalhar.
Tudo isso, veja bem, não tinha o objetivo de GANHAR. Mas sim de COMPETIR.

Nobre e Bandeira deram diversas entrevistas dizendo que o objetivo deles era fazer o clube chegar SEMPRE em finais, entrar todo ano disputando tudo. E para isso acontecer, era preciso ter finança em dia.
Essa noção de chegar sempre, ao invés de gastar muito e chegar só num ano, era muito diferente no Brasil. A

té então, era comum um clube fazer parceria com uma empresa, contratar um monte e brigar pra não cair no outro ano. Corinthians e MSI, Eurico Miranda e por aí vai.
Na real, a ideia de passar um ou dois anos se reconstruindo, "aceitando" não ganhar e ver o rival melhor pra disputar tudo lá na frente era algo inimaginável. Torcedores de Palmeiras e Flamengo podiam até entender, mas nunca compraram verdadeiramente a ideia.

Os frutos tão aí.
Palmeiras e Flamengo possuem os dois maiores faturamentos do Brasil desde 2016.

Desde lá, venceram: quatro Brasileiros, uma Copa do Brasil, seis estaduais, duas Libertadores...

E irão decidir mais uma Libertadores.

Chegar sempre. Constância.
Lembre-se: ganhar e perder é do jogo. Depende de detalhes, como as defesas do Diego Alves, o penal perdido pelo Hulk, o Dudu chegar na hora certa e o bruno Henrique ser tão bom assim.

Depende daquela cabeçada do Breno Lopes. Do estado de graça do Gabigol.
Mas competir sempre depende de estrutura. De salário em dia, funções bem definidas na gestão do futebol, contratações que fazem sentido (lembra do pacotão do Juvenal em 2011, bizarro), estrutura boa pra trabalhar...

Coisas que, na bolha do futebol, nem sempre são básicas.
Vejo o Flamengo, pelo que mostra em campo e tem no banco, como favorito pela decisão. Mas o Palmeiras é copeiro, e tudo pode acontecer.

Méritos enormes dos dois de chegarem tantas vezes no topo.

E agora se encontrarem numa das maiores finais de Libertadores da história.
O fio ampliado lá no @geglobo
bit.ly/3AVvNs8

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29 Sep
Um dos grandes problemas do Brasil é confundir análise com gosto pessoal.

Time bom ou ruim não depende de beleza, mas sim da execução de uma ideia de jogo.

O Palmeiras do Abel tá longe de ser "bonito". Mas executa fielmente sua proposta. Deve sim, ser elogiado por isso.🧵👇
Desde que chegou ao Palmeiras, Abel se caracterizou como um treinador adaptável. Ele prefere estudar o adversário, identificar pontos fortes e neutralizá-los para não sofrer gols. É o lema da "baliza zero".

Essa é uma escolha, que para muita gente, produz um futebol mais feio.
Só que essa escolha é válida, benéfica, boa ou qualquer adjetivo que você quiser colocar, desde que bem executada.

Tem regra impedindo isso? Não.
Tem regra falando que não pode jogar assim? Não.

Então pode atuar dessa maneira.
Não tem problema algum.
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23 Sep
Renato Gaúcho nunca se vendeu como técnico que prioriza organização tática. Sempre deixou claro que seu forte era recuperar individualidades e gerir o grupo.

Isso explica muito da falta de controle do Fla, especialmente no 2º tempo, mas não indica que Renato é um técnico ruim.
O papel de um treinador é tomar decisões para chegar num determinado objetivo: vencer o jogo. Essas decisões, no fim, sempre são de ordem tática (porque envolvem o jogo) e de gestão de grupo (porque envolvem as pessoas que estão lá dentro de campo).
Exemplo: quando o Renato recua o time no 2º tempo, com a vantagem no placar.

Essa decisão é tática. Ele quer chamar o adversário, mas defendendo bem, geralmente com Thiago Maia. Aí, explora a velocidade do Michael no contra-ataque. ge.globo.com/blogs/painel-t…
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22 Sep
Galo foi melhor, sem conseguir de fato entrar na área. Palmeiras esbarrou nos conhecidos problemas de construção.

Jogo de Libertadores costuma ser mais truncado mesmo. Dito isso, Atlético-MG e Palmeiras poderiam ter mostrado mais com a bola, mas foram muito bem sem ela.
Cuca fez algo interessante hoje, que foi puxar o Allan para a esquerda para que Arana ficasse sempre aberto no corredor esquerdo.

Assim, Nacho e Zaracho tinham todo o espaço por dentro para circular e cadenciar até achar Hulk e Diego Costa em tabelas curtas, o forte do time.
A resposta de Abel foi colocar Rony pela direita, acompanhando o lateral para que a linha de defesa ficasse estruturada e criasse superioridade em Hulk e Diego Costa.

Felipe Melo entrou para proteger a entrada da área e permitir que os meias subissem para pressionar alto.
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24 Aug
Curiosa a ideia de que Abel não tira o que o elenco do Palmeiras "pode" dar.

Um elenco que já deu Libertadores e Copa do Brasil, com jogos muito superiores a River e Grêmio, e ainda foi muito melhor que o rival São Paulo...

É o mesmo elenco que não é aproveitado pelo técnico?
Com Luxemburgo, reclamava-se muito do elenco do Palmeiras.

Abel pegou um elenco PIOR (sem Ramires e Dudu), e sem tempo de treino, elevou o nível de desempenho e resultado do time.

É um trabalho indiscutível de tão bom. E como qualquer trabalho no mundo, longe de ser perfeito.
O problema, hoje, é a dificuldade contra times mais fechados. Algo que vinha muito antes do Abel e que tem como origem a própria característica do elenco, cheio de jogadores que rendem com espaço (Dudu, Rony, etc) e poucos pensadores de trás.

Desde Moisés que falta essa peça.
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21 Jul
Louis Van Gaal está muito próximo de comandar a seleção da Holanda pelos próximos 18 meses, visando a classificação para a Copa do Mundo de 2022.

Breve fio sobre um dos mais importantes treinadores da história do futebol 🧶👇 Image
Van Gaal se caracterizou como um construtor de equipes. O técnico que demitia e contratava mesmo a contragosto de muitos e dava chances para novos nomes da base.

O Ajax é o principal trabalho de construção e aprimoramento de jogadores.
ge.globo.com/blogs/especial…
Ele é o treinador holandês com mais títulos conquistados a nível internacional e sempre foi considerado um meio-termo entre a filosofia quase utópica de Cruyff (de quem era desafeto) e o pragmatismo que teve Leo Beenhakker, tri-campeão espanhol com o Real Madrid, como expoente. Image
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10 Jul
A forma pela qual Rogério Ceni foi demitido do Flamengo é grave, desrespeitosa.

Quando entendermos que os medalhões, as dívidas e a falta de inovação no futebol brasileiro começa em diretorias amadoras como a do Flamengo, que o problema tá na gestão, aí a coisa melhora...
Toda hora, te vendem e fazem você acreditar que o problema do seu time é o técnico. Que ele isso, que ele aquilo. A conclusão lógica, que todo mundo toma, é simples: "troca".

Mas o problema, na maioria das vezes, não é ele. É a diretoria. Gente que você não sabe nem o nome.
Não adianta cobrar que o técnico do seu time seja "moderno e atualizado", como tentam te vender que soluciona, se ele não tem o mínimo respaldo da diretoria ou não está inserido num planejamento maior.

Exemplo: Thiago Nunes no Grêmio e Corinthians.
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