O problema do Palmeiras não é jogar em contra-ataque. Essa é uma escolha válida, que casa com o elenco, que rendeu títulos e por aí vai.
O problema, evidente contra Juventude e América-MG, é quando a proposta não encaixa.
Como lidar com um cenário diferente? Fio👇
Há muitos anos que o Palmeiras é um time mais reativo, que se defende bem e sai rápido. Técnico sai, técnico vem e a equipe continua assim porque é algo que o elenco pede.
Dudu, Rony, Patrick, Piqueréz, até Zé Rafael e Scarpa...são jogadores que gostam de atacar espaços.
O que é atacar um espaço? É correr em direção a um setor vazio com a intenção de receber um passe nas costas do defensor e num lugar à frente de onde o jogador está.
Para criar esse cenário, o Palmeiras se fecha e repete a imagem quando retoma a bola: acelera, toca no espaço.
Adivinha como o Palmeiras fez o gol? Assim. Como foi o gol contra o Atlético-MG? Assim. A maioria das finalizações do Palmeiras são desse jeito e tá tudo bem.
Dá pra perder e ganhar assim.
Um dos motivos do time não estar bem é a defesa.
Outro motivo é quando esses espaços nas costas não aparecem. Quando o adversário se retrai, coloca um monte de gente na defesa ou sobe a marcação como o América-MG faz.
É um cenário diferente. E sabe o que o Palmeiras faz?
Tenta agir como se estivesse com um monte de espaço.
Veja esse exemplo: para atacar, Abel gosta de formar uma linha de três normalmente com um lateral pelo lado e dois meias à frente. Contra o Juventude, Danilo e Zé Rafael. Contra o América, Patrick e F. Melo.
A ideia é aquela que sabemos: garantir a posse, ter amplitude, etc..
Sabemos a ideia. Vamos para a execução. Olha a linha de três aí, avançando com os dois volantes e o meia central (Scarpa contra Juventude, Veiga contra o América) encostando no setor da bola.
A intenção do movimento é criar linhas de passe ao companheiro. Tocar a bola, simples.
A bola é tocada, e olha o que o Scarpa e o Zé fazem: ao invés de buscarem um espaço mais livre para que a bola continue com o time, eles colocam o corpo para frente e...atacam um espaço.
Só que esse espaço tá todo marcado pelo Juventude. Não tem como a bola chegar.
Olha esse exemplo aqui contra o América: novamente, uma saída de três + dois volantes e um meia aproximando, IGUAL o outro lance. Essa saída em 3+2 é frequente com Abel, desde o primeiro jogo dele que o time faz isso.
Agora, olha o que o Patrick faz: ele corre para frente, como se estivesse atacando espaço, e levanta o braço, pedindo...só que a bola tá muito longe dele e tem meio time do América-MG fechando o gol.
É como se ele atacasse um espaço que ainda não existe.
Ao invés de correr para frente, Patrick, Scarpa e Zé, nos lances acima, poderiam buscar uma zona mais atrás ou mais próximo da bola. Assim, chamariam a marcação de um rival e, aí sim, abririam espaço para o Rony e o Dudu correrem.
No tatiquês, o Palmeiras é um time que peca pelo excesso de profundidade quando a defesa rival está toda montada.
E isso obriga defensores e todo mundo a forçar passes, lançamentos...o que aumenta as chances de erro...e aumenta a recuperação do rival. Cíclico.
Pega aqui, por exemplo. O lateral tem a bola e o Scarpa projeta o corpo pra frente e corre num espaço inútil, uma vez que o dono da bola tá marcado por dois e ele mesmo está marcado.
Não é melhor se aproximar com o corpo virado para a bola e obrigar o Juventude a sair de trás?
Solucionar esse problema não é algo fácil. Essa inteligência, essa leitura de quais espaços ocupar é muito rara, e o Palmeiras, apesar de ter um ótimo elenco, tem poucos jogadores com essa característica.
Veja bem: característica não é potencial.
Potencial todos têm no futuro. E todos podem ser treinados.
Característica é entregar agora, como se fluísse.
Falta essa peça no elenco.
Acho que falta também mais atenção do Abel com esse aspecto.
Esse movimento que vocês viram do De Paula é tão automático que é algo treinado. Abel treina seus jogadores para atacarem espaços o tempo inteiro porque ele é adepto de um jogo mais vertical.
É desse jeito que o Rony virou artilheiro da Libertadores e que o time cresceu de rendimento em seus meses iniciais. ge.globo.com/futebol/times/…
Abel tentou deixar o Palmeiras mais pausado com Veiga, que é inconstante ainda e muitas vezes não consegue fazer o time respirar com a bola. Boa parte da arrancada do início do Brasileirão se deve a essa versão do jogador. Lembra do jogo contra o Grêmio. ge.globo.com/blogs/painel-t…
Claro que tudo pode acontecer, mas hoje a realidade do Palmeiras é a Libertadores. E mesmo num jogo mais fechado, precisa saber trabalhar mais a bola em cenários onde os espaços são raros.
E esses cenários tendem a aumentar jogo após jogo. E na próxima temporada. E por aí vai...
Não basta ser só habilidoso ou bom de bola para jogar futebol.
O alto nível exige mais coisas, como concentração, inteligência e algo que Gérson peca há tempos, como a péssima atuação contra a Venezuela mostrou: dominar o momento após perder a bola. Breve fio 👇
Um dos pilares da seleção com Tite é o que ele chama de "perde-pressiona": nos segundos após o time perder a bola, TODO mundo tem que fazer algo para evitar que o adversário progrida em campo.
Perdeu a bola? Então pressiona, encurta, faz falta...mas não deixa os caras irem.
O tipo de ação exigida do jogador depende de sua função. Defensores voltam para compor a linha de quatro, enquanto atacantes e principalmente meio-campistas precisam saltar, encurtar, enfim, fazer força pra evitar que quem roubou a bola tenha conforto para sair jogando.
Flamengo e Palmeiras, a final dos times que dominam o Brasil. Os últimos campeões da Libertadores do Brasileirão.
Ganhar e perder é do jogo, Gabigol e Breno Lopes que o digam. Mas chegar sempre não é acaso. É fruto da ruptura administrativa que os dois clubes fazem há oito anos.
O Flamengo passou anos brigando contra rebaixamento quando Bandeira de Mello assumiu o clube no fim de 2012. Sua meta era sanar uma dívida de quase R$ 800 milhões e evitar processos trabalhistas e salários atrasados.
A situação do Palmeiras era ainda pior. Rebaixado para a Série B, contava com apenas 18 jogadores no elenco quando Paulo Nobre assumiu a presidência. Além das altas dívidas, a receita do clube era muito pequena, a ponto de não conseguir contratar jogadores.
Um dos grandes problemas do Brasil é confundir análise com gosto pessoal.
Time bom ou ruim não depende de beleza, mas sim da execução de uma ideia de jogo.
O Palmeiras do Abel tá longe de ser "bonito". Mas executa fielmente sua proposta. Deve sim, ser elogiado por isso.🧵👇
Desde que chegou ao Palmeiras, Abel se caracterizou como um treinador adaptável. Ele prefere estudar o adversário, identificar pontos fortes e neutralizá-los para não sofrer gols. É o lema da "baliza zero".
Essa é uma escolha, que para muita gente, produz um futebol mais feio.
Só que essa escolha é válida, benéfica, boa ou qualquer adjetivo que você quiser colocar, desde que bem executada.
Tem regra impedindo isso? Não.
Tem regra falando que não pode jogar assim? Não.
Então pode atuar dessa maneira.
Não tem problema algum.
Renato Gaúcho nunca se vendeu como técnico que prioriza organização tática. Sempre deixou claro que seu forte era recuperar individualidades e gerir o grupo.
Isso explica muito da falta de controle do Fla, especialmente no 2º tempo, mas não indica que Renato é um técnico ruim.
O papel de um treinador é tomar decisões para chegar num determinado objetivo: vencer o jogo. Essas decisões, no fim, sempre são de ordem tática (porque envolvem o jogo) e de gestão de grupo (porque envolvem as pessoas que estão lá dentro de campo).
Exemplo: quando o Renato recua o time no 2º tempo, com a vantagem no placar.
Essa decisão é tática. Ele quer chamar o adversário, mas defendendo bem, geralmente com Thiago Maia. Aí, explora a velocidade do Michael no contra-ataque. ge.globo.com/blogs/painel-t…
Galo foi melhor, sem conseguir de fato entrar na área. Palmeiras esbarrou nos conhecidos problemas de construção.
Jogo de Libertadores costuma ser mais truncado mesmo. Dito isso, Atlético-MG e Palmeiras poderiam ter mostrado mais com a bola, mas foram muito bem sem ela.
Cuca fez algo interessante hoje, que foi puxar o Allan para a esquerda para que Arana ficasse sempre aberto no corredor esquerdo.
Assim, Nacho e Zaracho tinham todo o espaço por dentro para circular e cadenciar até achar Hulk e Diego Costa em tabelas curtas, o forte do time.
A resposta de Abel foi colocar Rony pela direita, acompanhando o lateral para que a linha de defesa ficasse estruturada e criasse superioridade em Hulk e Diego Costa.
Felipe Melo entrou para proteger a entrada da área e permitir que os meias subissem para pressionar alto.
Curiosa a ideia de que Abel não tira o que o elenco do Palmeiras "pode" dar.
Um elenco que já deu Libertadores e Copa do Brasil, com jogos muito superiores a River e Grêmio, e ainda foi muito melhor que o rival São Paulo...
É o mesmo elenco que não é aproveitado pelo técnico?
Com Luxemburgo, reclamava-se muito do elenco do Palmeiras.
Abel pegou um elenco PIOR (sem Ramires e Dudu), e sem tempo de treino, elevou o nível de desempenho e resultado do time.
É um trabalho indiscutível de tão bom. E como qualquer trabalho no mundo, longe de ser perfeito.
O problema, hoje, é a dificuldade contra times mais fechados. Algo que vinha muito antes do Abel e que tem como origem a própria característica do elenco, cheio de jogadores que rendem com espaço (Dudu, Rony, etc) e poucos pensadores de trás.