Não basta ser só habilidoso ou bom de bola para jogar futebol.

O alto nível exige mais coisas, como concentração, inteligência e algo que Gérson peca há tempos, como a péssima atuação contra a Venezuela mostrou: dominar o momento após perder a bola. Breve fio 👇
Um dos pilares da seleção com Tite é o que ele chama de "perde-pressiona": nos segundos após o time perder a bola, TODO mundo tem que fazer algo para evitar que o adversário progrida em campo.

Perdeu a bola? Então pressiona, encurta, faz falta...mas não deixa os caras irem.
O tipo de ação exigida do jogador depende de sua função. Defensores voltam para compor a linha de quatro, enquanto atacantes e principalmente meio-campistas precisam saltar, encurtar, enfim, fazer força pra evitar que quem roubou a bola tenha conforto para sair jogando.
Muito da boa atuação da Venezuela no 1º tempo veio da letargia do meio-campo do Brasil nesse momento.

Algo que passou pelos momentos em que Gérson largou a pressão, ou até saltou e foi encurtar, mas não cumpriu o objetivo da ação: evitar a progressão, o famoso "matar" a jogada.
Exemplo: a Venezuela tem oito jogadores em seu campo e recuperou a bola.

A primeira linha de marcação do Brasil, composta pelos atacantes, foi superada pela velocidade da saída da Venezuela.

Então a jogada passa ao meio-campo, que "salta" e vai encurtar.
Se saltou (ou seja, saiu do lugar), então tem que evitar a progressão. Como fazer isso?

- Se o adversário for tocar, bota o corpo na frente e fecha o ângulo do passe. Ou flexiona as pernas pra interceptar.
- Se o adversário for conduzir, tenta roubar a bola
- Ou faz a falta
Gérson pecou em absolutamente tudo. Mesmo quando estava perto, ele deixava o adversário conduzir a bola e não conseguia fechar o passe. Aqui, ele e Fabinho deixam o portador da bola carregar por quatro segundos e ainda permitem um giro, que vai encontrar o Soteldo lá na frente.
Entendeu o porquê do Soteldo ter recebido tantos passes e de ter levado tanto perigo? Ele recebia sempre na cara da defesa do Brasil, e é claro que em algum momento ia dar ruim como foi no gol.
Fabinho e Gérson foram mal demais nesse momento após o time perder a bola. Fabinho, com função de proteger a área, não podia saltar tanto. Coube a Gérson ser esse cara que iniciava a pressão, o líder desse momento.

Algo que ele não respondeu, e não é de hoje. Não só na Seleção.
As consequências de ter um meio-campista que não domina esse momento são imensas. Pega aqui: Brasil perde a bola, Venezuela sai rápido e a defesa, a linha de quatro, tá lá atrás. Só resta o Gérson para pressionar a bola e evitar o passe.
Se esse jogador que lidera a pressão não faz isso, o adversário tem a chance de se organizar e ainda ocupar espaços que vão sobrar, como o Soteldo e outro companheiro fazem. Em segundos, a Venezuela consegue se posicionar com várias vantagens na defesa do Brasil.
Gérson pode adicionar em chegada e passe, mas desde os tempos de Flamengo que peca demais nesses momentos de perda de posse.

Em jogos contra retrancas, compensa mais ter alguém que retoma e faz o time ficar mais com a bola.

Por isso o Tite, com razão, preferiu o Fred.
Fred pode não ter a chegada do Gérson, mas contra uma Venezuela ou o cenário que o Brasil vai enfrentar contra europeus na Copa, consegue melhorar a retomada de bola e faz a equipe passar mais tempo no ataque e menos tempo em transição.

Douglas Luiz e Bruno Guimarães também.
Pode soar estranho que um jogador com características mais "defensivas" melhore o ataque da Seleção, mas essa é a dinâmica do jogo: momentos interligados.

Não é uma questão de qualidade, de quem é melhor ou pior.

É uma questão de encaixe de time.
Gérson teve várias chances, e esse problema que mostrou é o mesmo que fez Sampaoli o tirar do time titular do Olympique. Algo notado desde sempre, e que o afasta do alto nível.

Uma vaga que parece em aberto e vira mais um problema para Tite após uma atuação bem abaixo.
O fio, com mais detalhes, lá no @geglobo
bit.ly/3uXBhAG

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7 Oct
O problema do Palmeiras não é jogar em contra-ataque. Essa é uma escolha válida, que casa com o elenco, que rendeu títulos e por aí vai.

O problema, evidente contra Juventude e América-MG, é quando a proposta não encaixa.

Como lidar com um cenário diferente? Fio👇
Há muitos anos que o Palmeiras é um time mais reativo, que se defende bem e sai rápido. Técnico sai, técnico vem e a equipe continua assim porque é algo que o elenco pede.

Dudu, Rony, Patrick, Piqueréz, até Zé Rafael e Scarpa...são jogadores que gostam de atacar espaços.
O que é atacar um espaço? É correr em direção a um setor vazio com a intenção de receber um passe nas costas do defensor e num lugar à frente de onde o jogador está.

Para criar esse cenário, o Palmeiras se fecha e repete a imagem quando retoma a bola: acelera, toca no espaço.
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30 Sep
Flamengo e Palmeiras, a final dos times que dominam o Brasil. Os últimos campeões da Libertadores do Brasileirão.

Ganhar e perder é do jogo, Gabigol e Breno Lopes que o digam. Mas chegar sempre não é acaso. É fruto da ruptura administrativa que os dois clubes fazem há oito anos.
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29 Sep
Um dos grandes problemas do Brasil é confundir análise com gosto pessoal.

Time bom ou ruim não depende de beleza, mas sim da execução de uma ideia de jogo.

O Palmeiras do Abel tá longe de ser "bonito". Mas executa fielmente sua proposta. Deve sim, ser elogiado por isso.🧵👇
Desde que chegou ao Palmeiras, Abel se caracterizou como um treinador adaptável. Ele prefere estudar o adversário, identificar pontos fortes e neutralizá-los para não sofrer gols. É o lema da "baliza zero".

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Tem regra impedindo isso? Não.
Tem regra falando que não pode jogar assim? Não.

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Não tem problema algum.
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23 Sep
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Exemplo: quando o Renato recua o time no 2º tempo, com a vantagem no placar.

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22 Sep
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24 Aug
Curiosa a ideia de que Abel não tira o que o elenco do Palmeiras "pode" dar.

Um elenco que já deu Libertadores e Copa do Brasil, com jogos muito superiores a River e Grêmio, e ainda foi muito melhor que o rival São Paulo...

É o mesmo elenco que não é aproveitado pelo técnico?
Com Luxemburgo, reclamava-se muito do elenco do Palmeiras.

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É um trabalho indiscutível de tão bom. E como qualquer trabalho no mundo, longe de ser perfeito.
O problema, hoje, é a dificuldade contra times mais fechados. Algo que vinha muito antes do Abel e que tem como origem a própria característica do elenco, cheio de jogadores que rendem com espaço (Dudu, Rony, etc) e poucos pensadores de trás.

Desde Moisés que falta essa peça.
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