1. Acabou de sair o ensaio antropológico-literário do escritor Alberto Mussa: uma leitura imperdível! Há um elo inesperado entre este livro e o trabalho de @RCasara acerca dos impasses do Estado pós-democrático.
(Siga o fio.)
2. Na primeira página, Mussa esclarece a importância do estudo dos mitos que narram o “roubo do fogo”: não apenas são numerosos e se espalham por todos os continentes, como também, e sobretudo, relatam o surgimento da própria humanidade, na passagem decisiva do “cru ao cozido”.
3. Eis o dado mais fascinante: quase não há mitos do “fogo vendido” e a razão é a maior crítica ao mundo atual: o fogo roubado é sempre dado, compartilhado: dádiva, portanto! Não se pode colocar um preço no que nos faz humanos: doar ao outro o bem mais precioso: cultura, vida.
4. Se a dádiva do fogo nos tornou potencialmente humanos, sua realização plena supôs que o tabu do incesto levasse à exogamia nas relações de parentesco. Mais uma vez, a abertura ao outro é o elemento diferencial que permitiu ao homo sapiens dar um salto qualitativo inédito.
5. Oswald de Andrade intuiu essa relação na frase-programa do “Manifesto Antropófago”: “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago”.
Claro, oposto é lema do homo bolsonarus (Renato Lessa): “Só me interessa o que é meu. Lei do homo. Bolsonarus”.
6. Porém,
no final do ensaio, o paradoxo se anuncia: só há dádiva se houver exclusão prévia — no dado do possuidor inicial do fogo roubado. Paradoxo que convoca a teoria mimética, de René Girard, como lembrado por @BarrosOctavio .
(Em breve, um fio girardiano?)
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0. Recordamos por que o “Dia do Professor” é celebrado no dia 15 de outubro? Siga o fio!
1. Antonieta de Barros, professora, escritora e jornalista, a primeira mulher negra a ocupar um mandato parlamentar no Brasil, teve atuação destacada na vida cultural em Santa Catarina.
Como política, com cargo de deputada estadual, ela propôs o “Dia do Professor”, tornado lei estadual em 1948.
2. O feriado somente se tornou nacional em 14 de outubro de 1963, durante o governo de João Goulart. Como o texto da Lei N. 52.682 não menciona Antonieta de Barros, vale a recordação.
1. Por que os bolsonaristas amam odiar o Paulo Freire nunca lido? Freud explica — literalmente.
2. O “mal-estar na civilização” é aqui o conceito-chave. No pequeno texto de 1932, “Por que a guerra?”, carta endereçada a Albert Einstein, Freud sintetiza em 4 páginas todo um livro.
3. Síntese inigualável da “teoria dos instintos” em 4 páginas magistrais. São dois: instintos eróticos e instintos de agressão/destruição. Não se trata de atribuir “valores” positivos ou negativos, mas de entender que a vida se articula na necessária relação dos dois instintos.
4. Conflito é o motor da psicanálise freudiana: o sujeito luta consigo mesmo para equilibrar as pulsões instintuais e a impossibilidade social de realizar plenamente todos os seus desejos. Por isso, em alguma medida, somos todos potencialmente neuróticos, isto é, reprimidos.
1. É urgente entender o efeito devastador da midiosfera bolsonarista na criação do maior laboratório mundial de dissonância cognitiva: a realidade paralela Brasil. Esta “manchete” circula em vários grupos. O inglês absurdo é antes de tudo espelho da percepção distorcida do mundo!
2. Logo após o “anúncio” do The Washington Post, várias mensagens “apolíticas” (calma! não escrevi apocalípticas) esclarecem o fenômeno decisivo: a guerra cultural tornou-se uma forma de vida, modelo mesmo de sociabilidade. Militância mais engajada não há: é o próprio dia a dia
3. Contudo, o caos das centenas (nada menos!) de mensagens diárias é domesticado pelo sentido único, autêntico mantra: reeleição de bolsonaro. Eis o que enfrentamos: caso inédito de dissonância cognitiva envolvendo dezenas de milhões de pessoas, bonbardeadas pela midiosfera 24/7.
1. Vamos entender quem é Javier Milei? Sua inserção na mídia brasileira com "naturalidade", sem advertir o público leitor de suas reais propostas e, sobretudo, comportamento midiático, é um problema sério.
2. Milei é parte de um fenômeno continental: think tanks de direita e até
de extrema-direita têm financiado "intelectuais" e profissionais liberais (especialmente, economistas) que assumem o mesmo comportamento público: defesa de pautas ultraliberais e do estado mínimo; agressividade verbal incomum; xingamentos e palavrões. brasil.elpais.com/internacional/…
3. Nesse projeto, há outros nomes: Gloria Álvarez, da Guatemala, é a pop star do movimento; em 2015 já esteve no Roda Viva, e é pré-candidata à presidência; Axel Kaiser, no Chile. Todos com intensa presença midiática. No Brasil, um Rodrigo Constantino. opendemocracy.net/es/democraciaa…
1. Este fio é inspirado no podcast do @manobrown e sua disposição para dialogar. Vamos lá?
Eis um livro ideal para entrar em contato com a rica e extensa obra de Edward Said. Uma série de diálogos com o escritor e jornalista David Barsamian, que recapitula os temas definidores
do pensamento e da militância de Said.
2.O sumário deixa clara a vocação panorâmica do livro. Repare numa palavra-chave da trajetória de Said: “revisited” — às vezes, “reconsidered”. O pensador sempre soube reavaliar suas posições, sem receio de eventuais “patrulhas”.
3. Destaco um diálogo em torno de tema explosivo, “The Politics and Culture of Palestinian Exile”. A tensão cresce pergunta a pergunta, chegando a um ponto culminante numa questão difícil (no final da página). A resposta de Said sempre me comoveu intelectualmente — ainda hoje.
1. Podemos caracterizar o "método Leandro Narloch" de revisionismo? Sim! Fazê-lo é passo necessário para superar o efeito reacionário de sua escrita, polida na aparência, mas brutalíssima em sua essência.
2. Brilhante o artigo de @thiamparo sobre o texto de Leandro Narloch.
Thiago Amparo vai além e toca o dedo na ferida que bem pode gangrenar a própria democracia brasileira. Nesse sentido, a última frase de sua coluna já nasceu antológica:
3. Como evitá-lo? Veja o exemplo discutido por @thiamparo : Narloch parte de um dado concreto, mas que é sistematicamente descontextualizado e mesmo distorcido, de modo a apagar toda a história, substituída por meras anedotas, cuja finalidade é "suavizar" o passado escravocrata.