A diferença entre o padrão de mobilidade feminino e o masculino é complexa e não abrange apenas as viagens encadeadas que as mulheres fazem durante o dia.
Para visualizá-lo e entender as idiossincrasias, é preciso conceber que existe uma profunda e enraizada diferença social baseada no gênero e, consequentemente, nas construções históricas e culturais em torno dessa relação.
Com a divisão sexual do trabalho, a herança herdada pelas mulheres foi arbitrariamente estipulada.
Ainda hoje, o debate sobre economia do cuidado, bem como seus impactos na organização dos espaços públicos e privados, não coloca em relevo os problemas e necessidades específicos de gênero.
Mesmo atualmente, quase que invariavelmente, todo o trabalho do cuidado social e familiar fica com as mulheres, cuja produção dos deslocamentos envolve a prole, como levar filhos à escola ou à creche, fazer compras para casa, levar os pais ou os sogros ao médico.
Dessa forma, o padrão feminino de mobilidade possui especificidades, que dizem respeito à similaridade no seu modo de movimentação. Além da diferença nos modos de deslocamento, as mulheres precisam lidar com situações que o outro gênero não lida da mesma forma: o medo.
Medo de se locomover, medo de esperar sozinha no ponto de ônibus, medo de estar sozinha com um motorista de aplicativo na madrugada, dentre outros.
Muitas mulheres não vão deixar de se deslocar por isso, mas certamente este é um fator que impacta a ponto de ser capaz de alterar o caminho que elas percorrem rotineiramente.
A depender do horário, ao invés de subir uma ladeira que dá acesso mais rápido a sua moradia, é bem comum que as mulheres optem por seguir por outra rua, ampliando assim a distância em função da segurança; ou prefiram pegar um ônibus a mais ao invés de caminhar um certo trecho.
Por isso, é preciso incluir um questionamento: se os padrões de mobilidade são atravessados por questões de gênero, como isso pode afetar as mulheres no seu dia a dia, sendo um agregador de estresse, drenando consideravelmente a nossa saúde, o bem-estar e a qualidade de vida?
Sendo assim, o planejamento de transporte tem a atribuição de contemplar estas usuárias, para elas poderem se deslocar com qualidade, de forma segura e inclusiva, pelos diversos espaços da cidade.

#urbanismo #mulheres #mobilidadeurbana #insegurança #diferençadegênero
Texto escrito por Alessandra Almeida e Aline Prado, publicado originalmente no site: obmobsalvador.org/post/o-planeja…

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