Vou viajar: como faço com os antirretrovirais? ✈️ 🗺 🧳
O principal foco da minha consulta com uma pessoa vivendo com HIV é torná-la independente, de processos, entraves e também - de mim.
Fazer com que ela se sinta apta e livre para trabalhar, amar, aventurar-se, transar e viajar. Inclusive para outros países.
Amo/sou. 🇲🇽 🇦🇷 🇪🇸
Mas sempre vem à tona: como vou fazer com o medicamento? A farmácia libera pra quanto tempo? Precisa do quê?
- Viagens pelo Brasil
Liberação em trânsito:
Cada pessoa está vinculada à uma UDM (Unidade Dispensadora de Medicamentos), mas pode fazer retiradas em outras, inclusive de outros estados, por motivos de viagens ou imprevistos.
São permitidas duas dispensações em trânsito por ano.
Basta levar o receituário SICLOM, receita simples e documento de identificação.
Também é possível que alguém retire o medicamento para você e envie pelo correio, contanto que ela esteja cadastrada para isso na farmácia em seu nome.
- Viagens para fora do Brasil
Uma normativa de 2018 permite a dispensação de antirretrovirais por até 180 dias para viagens internacionais.
Para isso você vai precisar
1 - Comunicar a sua unidade com antecedência (pelo menos 30 dias) para que ela se planeje e te entregue o documento específico para solicitação;
2 - Relatório do infectologista atestando bom estado de saúde, controle de carga viral e CD4 e qual esquema utiliza;
3 - Formulário do Siclom de validade 180 dias.
4 - Comprovante da viagem: passagens.
Sempre oriento os pacientes a levarem receita em inglês, junto dos frascos de comprimidos.
E a checar se os países de destino não possuem leis sorofóbicas que impedem a imigração ou até mesmo circulação de pessoas vivendo com HIV. É vergonhoso, mas é a realidade.
Para verificar isso, utilize o site hivtravel.org , que traz informações preciosas sobre restrições de país por país.
No mais, sempre consulte seu infectologista e ligue na sua farmácia para ser orientade.
É nossa responsabilidade garantir que você tenha condições de levar uma vida plena, divertida e repleta de experiências.
Obs: Para PrEP nada disso vale. É outro assunto e as normativas que eu citei não contemplam.
Fatos sobre a variante ‘agressiva’ de HIV, descrita na Nature deste mês, para encerrar a polêmica:
1 - Ela não é nova. Apenas o nome e o mapeamento genético dela que são. Mas estima-se que ela está na região da Holanda e países vizinhos desde a década de 90.
2 - Ela é considerada mais virulenta porque produz cargas virais 3,5 a 5,5 vezes maiores e evolui mais rápido para Aids (em média com 2 anos, quando seriam 7-8). Mas só se a pessoa não se tratar.
3 - O nosso arsenal de antirretrovirais funciona muito bem contra ela. Ela não escapa do remédio e nem fica resistente à ele facilmente.
E também é prevenida com uso de preservativo, PrEP e PEP.
Se você teve uma lesão genital que apareceu, sumiu sozinha e depois evoluiu com gânglios dolorosos na virilha que vêm aumentando, você pode estar com linfogranuloma venéreo.
Uma IST que vejo sempre no consultório, mas nem todo mundo lembra. Pode gerar até elefantíase genital.
Também pode gerar infecção no reto (proctite), e na vagina, evoluindo com linfonodos retroperitoniais, fístulas e sangramentos.
O tratamento é por pelo menos 21 dias e pode precisar de drenagem com agulha grossa dos bubões (aglomerados de gânglios).
A causadora é a clamídia, mas com seus subtipos L1, L2 e L3 de diagnóstico através de sorologia e PCR.
Mas quase sempre o diagnóstico é só com o exame físico.
É uma infecção que eu amo diagnosticar e tratar - pois o paciente melhora muito e rápido.
Nova variante de HIV, embora bem mais agressiva, deve gerar conscientização sobre o poder de mutação dos vírus, não pânico.
Ela existe há décadas e os medicamentos funcionam. Leia.
Uma variante altamente transmissível e agressiva do HIV circula na Holanda há décadas, segundo publicação deste fevereiro na revista Nature. Ela não é nova, está lá desde a década de 90, mas pelos esforços de contenção da epidemia ela não se espalhou tanto.
Segundo o estudo, que analisou 109 pessoas infectadas com a variante, as cargas virais são de 3,5 a 5,5 vezes maiores nas pessoas com este vírus. E quanto maior uma carga viral, maior a chance de transmitir e maior a chance de adoecer - sem tratamento.
Uma pessoa tratando HIV com carga viral indetectável não transmite HIV por nenhuma prática sexual: seja oral, anal ou vaginal.
Mesmo se sangrar. Mesmo se ejacular. Mesmo se houver outra IST junto.
Profissional que não reconhece isso é negacionista também. E antiético.
‘Há um amplo desconhecimento e descrença em relação à conclusão baseada em evidências de que as pessoas que têm uma carga viral de HIV sustentada indetectável não podem transmitir o HIV sexualmente - isto é, indetectável = intransmissível(I= I).
O medo antigo e equivocado sobre a transmissão do HIV persiste; conseqüentemente, o mesmo acontece com o policiamento da expressão sexual e a penalização do prazer enfrentado pelas pessoas com HIV.
Tô tratando vários casos de sífilis por semana. Vocês sabiam que nas primeiras 24h após tratamento o paciente pode ter uma reação febril e de mal-estar?
Chama-se reação de Jarisch-Herxheimer (JHR), que geralmente é autolimitada, mas em alguns casos pode ser grave. Entenda:
Estou atendendo casos de sífilis diariamente no consultório e quero deixar essa dica para a população em geral e para meus pacientes.
A reação de Jarisch-Herxheimer (JHR) é uma reação inflamatória aguda, autolimitada e febril que geralmente ocorre nas primeiras 24 horas após o
paciente receber tratamento para qualquer infecção por espiroquetas, incluindo sífilis. Essa reação ocorre em aproximadamente 10 a 35 por cento dos casos. É visto mais comumente após o tratamento da sífilis inicial (cancro duro e secundarismo sifilítico).
Mesmo que o sexo dure 3 min ele pode sim trazer consequências para toda uma vida.
Entender que genitais pertencem a corpos e corpos pertencem a indivíduos, transforma a maneira como enxergamos a sexualidade.
Não que tudo precise ser tão sério.
Mas pessoas não são descartáveis.
Teoricamente, não existe sexo seguro, no que concerne às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), pois sempre há um risco inerente de algo acontecer. Na medicina, optamos por falar então de sexo protegido.
Mas será que sexo é apenas isto? Cercar-se de todas as formas para evitar ISTs, gestações não planejadas e aproveitar alguns minutos de prazer?
Eu, particularmente, acredito no sexo consciente e sem culpa, no sexo transparente e corresponsável. Que dê o