Nova variante de HIV, embora bem mais agressiva, deve gerar conscientização sobre o poder de mutação dos vírus, não pânico.
Ela existe há décadas e os medicamentos funcionam. Leia.
Uma variante altamente transmissível e agressiva do HIV circula na Holanda há décadas, segundo publicação deste fevereiro na revista Nature. Ela não é nova, está lá desde a década de 90, mas pelos esforços de contenção da epidemia ela não se espalhou tanto.
Segundo o estudo, que analisou 109 pessoas infectadas com a variante, as cargas virais são de 3,5 a 5,5 vezes maiores nas pessoas com este vírus. E quanto maior uma carga viral, maior a chance de transmitir e maior a chance de adoecer - sem tratamento.
A variante (VB) também parece levar a uma redução maior nas células T CD4, de modo que as pessoas infectadas correm o risco de evoluir para AIDS muito mais rapidamente.
É momento de conscientização, não de alarmismo.
As mutações encontradas na nova variante não a tornam resistente aos medicamentos para o HIV existentes e nem à PrEP (Profilaxia Pré-Exposição).
As descobertas servem como um lembrete de que os vírus nem sempre evoluem para se
tornarem menos virulentos ao longo do tempo. Vide o que está acontecendo com a COVID-19 no momento e sua variante Ômicron, com os milhões de novos casos.
O HIV é um vírus que muta muito rapidamente – cada pessoa tem um HIV diferente e às vezes a mesma pessoa pode ter mais de um.
Por isso sempre falo aqui sobre a importância da adesão e do tratamento precoce.
Os pesquisadores estimam que, sem tratamento, as pessoas infectadas com essa variante desenvolveriam AIDS dentro de 2 a 3 anos após o diagnóstico,
em comparação com 6 a 7 anos para as pessoas infectadas com outras cepas de HIV.
A mensagem é clara, precisamos garantir o acesso a testagem, diagnóstico e tratamento para todas pessoas vivendo com HIV no Brasil e no mundo.
E continuar incentivando estratégias de prevenção combinada (preservativo, PrEP, PEP, vacinas) que contemplem a diversidade e a complexidade da nossa população.
Fale sobre HIV, mas fale com propriedade e sem alarmismo.
Fatos sobre a variante ‘agressiva’ de HIV, descrita na Nature deste mês, para encerrar a polêmica:
1 - Ela não é nova. Apenas o nome e o mapeamento genético dela que são. Mas estima-se que ela está na região da Holanda e países vizinhos desde a década de 90.
2 - Ela é considerada mais virulenta porque produz cargas virais 3,5 a 5,5 vezes maiores e evolui mais rápido para Aids (em média com 2 anos, quando seriam 7-8). Mas só se a pessoa não se tratar.
3 - O nosso arsenal de antirretrovirais funciona muito bem contra ela. Ela não escapa do remédio e nem fica resistente à ele facilmente.
E também é prevenida com uso de preservativo, PrEP e PEP.
Se você teve uma lesão genital que apareceu, sumiu sozinha e depois evoluiu com gânglios dolorosos na virilha que vêm aumentando, você pode estar com linfogranuloma venéreo.
Uma IST que vejo sempre no consultório, mas nem todo mundo lembra. Pode gerar até elefantíase genital.
Também pode gerar infecção no reto (proctite), e na vagina, evoluindo com linfonodos retroperitoniais, fístulas e sangramentos.
O tratamento é por pelo menos 21 dias e pode precisar de drenagem com agulha grossa dos bubões (aglomerados de gânglios).
A causadora é a clamídia, mas com seus subtipos L1, L2 e L3 de diagnóstico através de sorologia e PCR.
Mas quase sempre o diagnóstico é só com o exame físico.
É uma infecção que eu amo diagnosticar e tratar - pois o paciente melhora muito e rápido.
Uma pessoa tratando HIV com carga viral indetectável não transmite HIV por nenhuma prática sexual: seja oral, anal ou vaginal.
Mesmo se sangrar. Mesmo se ejacular. Mesmo se houver outra IST junto.
Profissional que não reconhece isso é negacionista também. E antiético.
‘Há um amplo desconhecimento e descrença em relação à conclusão baseada em evidências de que as pessoas que têm uma carga viral de HIV sustentada indetectável não podem transmitir o HIV sexualmente - isto é, indetectável = intransmissível(I= I).
O medo antigo e equivocado sobre a transmissão do HIV persiste; conseqüentemente, o mesmo acontece com o policiamento da expressão sexual e a penalização do prazer enfrentado pelas pessoas com HIV.
Tô tratando vários casos de sífilis por semana. Vocês sabiam que nas primeiras 24h após tratamento o paciente pode ter uma reação febril e de mal-estar?
Chama-se reação de Jarisch-Herxheimer (JHR), que geralmente é autolimitada, mas em alguns casos pode ser grave. Entenda:
Estou atendendo casos de sífilis diariamente no consultório e quero deixar essa dica para a população em geral e para meus pacientes.
A reação de Jarisch-Herxheimer (JHR) é uma reação inflamatória aguda, autolimitada e febril que geralmente ocorre nas primeiras 24 horas após o
paciente receber tratamento para qualquer infecção por espiroquetas, incluindo sífilis. Essa reação ocorre em aproximadamente 10 a 35 por cento dos casos. É visto mais comumente após o tratamento da sífilis inicial (cancro duro e secundarismo sifilítico).
Mesmo que o sexo dure 3 min ele pode sim trazer consequências para toda uma vida.
Entender que genitais pertencem a corpos e corpos pertencem a indivíduos, transforma a maneira como enxergamos a sexualidade.
Não que tudo precise ser tão sério.
Mas pessoas não são descartáveis.
Teoricamente, não existe sexo seguro, no que concerne às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), pois sempre há um risco inerente de algo acontecer. Na medicina, optamos por falar então de sexo protegido.
Mas será que sexo é apenas isto? Cercar-se de todas as formas para evitar ISTs, gestações não planejadas e aproveitar alguns minutos de prazer?
Eu, particularmente, acredito no sexo consciente e sem culpa, no sexo transparente e corresponsável. Que dê o