Um estudo realizado por pesquisadores do Japão🇯🇵 trazem alertas importantes sobre a sub-linhagem #BA2 da variante #Omicron . Os dados são ainda iniciais (estudos com modelos animais), e precisamos tomar cuidado com suas conclusões nesse momento
A #BA2 vem trazendo grande preocupação para o mundo, seja por seu aumento na transmissibilidade (comparado com sua "parente", a #BA1), e pela seu PARCIAL escape da resposta de anticorpos pelas vacinas. AINDA ASSIM, as vacinas seguem protegendo contra ela
As análises filodinâmicas sugerem que #BA1 surgiu primeiro, seguido por #BA2 e #BA3. Ainda, o preprint sugere que a notável diversificação de Omicron possa ter ocorrido na província de Gauteng🇿🇦
Dados anteriores relacionaram que quanto maior a taxa de vacinação em um local, menos frequente vemos mutações sobre variantes (como a Delta). É o alerta que a gente faz, todo dia, para regiões de baixa cobertura, tanto dentro, como fora do Brasil.
Como já sabíamos, a #BA2 apresenta um escape parcial da resposta de anticorpos. No estudo, os autores usaram pseudovírus para esse ensaio de neutralização, e confirmaram essa queda vista em outros trabalhos
Mas vamos aos detalhes:
🔹As amostras eram de vacinados com 2 doses. Para ChAdOx1 (AstraZeneca), a amostra foi coletada 10-25 dias após a 2ª dose. Para mRNA-1273 (Moderna), 4 semanas após a 2ª dose
🔹Com 3 doses, esses anticorpos aumentam muito 👇
O link acima é de um estudo com a AZ. Aqui, temos um estudo com vacinas de RNA, mostrando que a 3ª dose é capaz de aumentar os níveis de anticorpos neutralizantes contra a Omicron (em 22x, 1 mês após a 3ª dose)
O estudo aponta que a #BA2 mostrou uma grande resistência a 2 anticorpos monoclonais terapêuticos, Casirivimab e Imdevimab, e foi 35x mais resistente ao Sotrovimab, quando comparado ao vírus B.1.1 (dominante no início da pandemia)
O impacto maior foi para o Casirivimab e a combinação do Casirivimab com o Imdevimab. É importante destacar que já víamos um impacto de outras variantes sobre esses anticorpos monoclonais, como na Delta
Recentemente o @US_FDA autorizou um novo anticorpo monoclonal que tem ação sobre a variante Omicron, o Bebtelovimab (Eli Lilly). Somando com o Sotrovimab, temos alternativas terapêuticas dentro desse tópico para a Omicron, apesar de dispendiosas
Soros de recuperados de #BA1 COM VACINAÇÃO COMPLETA tiveram atividade neutralizante mai forte contra todas as variantes testadas do que os recuperados NÃO VACINADOS ou vacinados com 1 dose (vacinação incompleta/parcial)
Isso está de acordo com dados mostrados anteriormente, ressaltando a importância de recuperados em se vacinar de forma completa contra a COVID-19 para se beneficiar de uma resposta protetora, robusta e abrangente contra variantes
Em geral, os autores demonstram que a #BA2 é mais fusogênica e replicativa do que a #BA1 de forma dependente de TMPRSS2* (uma molécula importante para a entrada na célula)
Esses dados são de estudos in vitro (aqueles estudos em células) e podem nos dar uma idéia sobre a patogenicidade do vírus (processo de desenvolvimento da doença.
Dados sugerem que a #BA2 seria mais patogênica que a #BA1. A gente vê uma perda de peso importante no animal, e uma carga viral maior em regiões pulmonares, espalhando mais rápida e eficientemente nos tecidos pulmonares do que #BA1.
Quando a gente olha as características do tecido do trato respiratório dos animais infectados com a #BA2, a gente percebe um tecido com bronquite/bronquiolite, hemorragia, dano alveolar significativamente maiores do que aqueles infectados com a #BA1
Bueno, mas o que tudo isso sugere?
1⃣Sim, temos uma variante que tem impacto muito relevante na saúde global, e que sua circulação e doença causada NÃO PODE ser negligenciada.
2⃣Mesmo tendo escape parcial de anticorpos induzidos por vacina, AS VACINAS SEGUEM PROTEGENDO, principalmente com a doença. Todos da população-alvo devem receber a 3ª dose para reforçar essa proteção
3⃣O escape de anticorpos monoclonais é mais significativo, e farmacêuticas precisam se atentar a isso durante os estudos com essa terapia voltados para a #Omicron em especial #BA2
4⃣Recuperados devem se vacinar. Já temos um conjunto de dados demonstrando que recuperados (mas não vacinados) de Omicron podem ter uma proteção restrita à Omicron. Há risco maior de reinfecção em recuperados não vacinados do que em vacinados. Vacine-se!
5⃣ e 6⃣Temos uma variante que, até o presente momento com estudos em células e em animais (ou seja, PRECISAMOS da confirmação clínica), tem características que merecem nossa atenção. E é justamente por isso que a gente precisa conscientizar os não vacinados em se vacinar.
E acelerar a vacinação naqueles que podem se vacinar. Se estivermos diante de uma variante que clinicamente pode se mostrar menos leve do que entendíamos, pessoas não vacinadas estão num risco maior do que entendemos
Portanto, cuidado com manchetes que possam acabar simplificando muito esses dados, é importante que a gente entenda o que isso quer dizer, no cenário atual. Precisamos de equidade/ampliação na cobertura vacinal e conscientização quanto as medidas de proteção.
Na figura acima, vemos que os países com um verde mais forte apresentam uma cobertura vacinal maior para o esquema inicial completo da vacinação. Observem quantos lugares no mundo temos locais com cores muito claras (indo de verde claro, amarelo a branco)
Isso é um problema
E considerar a COVID-19 endêmica atualmente, seja no lugar que for, é perigoso e não é inofensivo. Escrevo sobre isso para o Blog Ciência Fundamental (obrigada pela oportunidade @iserrapilheira !) aqui: www1.folha.uol.com.br/blogs/ciencia-…
Portanto, é a máxima que eu costumo falar e repetir por aqui:
🔹Não podemos nos render a qualquer tipo de desespero, precisamos entender as coisas, por mais feia e pior que a realidade possa ser. É a forma mais fiel que temos para conseguir mudá-la assertivamente
Publicado na @NEJM o artigo do Paxlovid, medicamento desenvolvido pela Pfizer e já aprovado pelo @US_FDA orientado para o tratamento de COVID-19 leve a moderada em adultos e crianças (+12 anos) com risco de progressão pra doença grave
Vem de fio 🧶👇
O Paxlovid combina duas moléculas:
🔹Nirmatrelvir (anti-viral com ação inibitória sobre uma enzima necessária para a replicação viral)
🔹Ritonavir (que desacelera a eliminação do nirmatrelvir para ajudá-lo a permanecer mais no corpo)
ATENÇÃO: Vírus MUITO parecido com o SARS-CoV-2 circula em morcegos🦇de cavernas no norte do Laos🇱🇦, sendo capaz de se ligar eficientemente ao ACE2 humano (e sua entrada na célula é inibida por anticorpos contra o SARS-CoV-2)
Mais evidências pra evolução natural 👇🧶
Encontrar o reservatório animal do SARS-CoV-2 (ou qual animal abrigaria esse vírus e poderia transmitir para outros) não é uma tarefa fácil. Diversos fatores também estão intimamente relacionados com o risco de "pulos" do vírus entre uma espécie para outra
Vírus de RNA são muito adaptativos, e nossa proximidade com espécies que abrigam esses vírus taz riscos. Cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde podem ocorrer "pulos", incluindo o norte da Índia, Nepal, Mianmar e boa parte do Sudeste Asiático
Hoje foi divulgado (em uma conferência) o caso de uma paciente sem sinais detectáveis de HIV em testes extensivos desde que interrompeu o tratamento antirretroviral em Out/20 após um transplante de células-tronco com uma mutação genética que bloqueia a invasão do HIV 👇🧶
Os detalhes de seu caso foram apresentados terça-feira na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas. Com certeza é algo surpreendente e muito animador, mas vamos entender um pouco melhor, com o que foi divulgado até o momento, o que aconteceu
A paciente recebeu um transplante para tratar a leucemia mieloide aguda (câncer que leva a geração desenfreada de células imaturas na medula óssea), bem como o HIV, com o qual ela foi diagnosticada 4 anos antes de desenvolver a leucemia. drauziovarella.uol.com.br/cancer/tudo-o-…
Estudo recente da África do Sul🇿🇦:
🔹Não vacinados e recuperados de #Omicron➡️proteção somente contra Omicron
🔹Vacinados e recuperados de #Omicron➡️proteção contra Omicron, Delta, Beta, C.12 e D614G!
É algo que falamos já tem um tempo aqui: a resposta via infecção pode não ser abrangente para outras variantes de preocupação (VOCs), tendo risco para reinfecção. Em recuperados, mas não vacinados, dependendo da VOC, vemos reduções em reduções de 20 a 43x no título de anticorpos
Isso ressalta alguns pontos sobre adquirir uma imunidade somente via infecção:
🔹Pode desencadear respostas variáveis entre indivíduos
🔹Não é abrangente para todas as VOCs
🔹Traz todos os riscos da doença e suas possíveis sequelas
Segundo dados do Ministério da Saúde de Israel🇮🇱, uma 4ª dose em idosos (60+ anos):
🔹triplicou a proteção contra a doença grave
🔹dobrou a proteção contra a infecção
Segundo a reportagem, os números são baseados em 400.000 israelenses que receberam a 4ª dose e 600.000 que receberam 3 doses, com o MS enfatizando que a metodologia é semelhante a artigos anteriores que os especialistas publicaram no @NEJM
Infelizmente, muitos desses dados de Israel tem ganhado manchetes ruins. Não tem muito tempo que comentei a notícia de um dado desse mesmo grupo. Temos que ter cuidado em não confundir dados de anticorpos com a generalização de dados de proteção.