A intenção da minha participação no @viracasacas era tentar explicar porque muitos que se intitulam "liberais" ou "libertários" adotam posturas mais próximas do conservadorismo extremo (ou mesmo do etnonacionalismo).
Um exemplo próximo de nós é a declaração do MBL, na figura de Renan Santos. “Com ou sem psdb. A aliança q pode lhe eleger está no pmdb dem evangélicos agro e mbl. Nosso trabalho será o de unir essa turma num projeto comum.” piaui.folha.uol.com.br/o-grupo-da-mao…
Uma estratégia que reúne um lobby forte em prol de plutocratas e pautas morais é típica de think-tanks norte-americanas como a Heritage. Exemplificada aquei para o caso dos embates em torno do direito ao aborto nos EUA.
Meu incômodo com esse tipo de agenda, no entanto, vai além da simples discordância de seu conteúdo. Hoje ela é apropriada por pessoas que identificam como "liberais", libertárias" ou "conservadoras" mas têm outras prioridades.
O sinal de alarme vem com a crescente infusão dos ideais de nativismo, autoritarismo e nacionalismo étnico. Vide a reação de setores influentes direita brasileira aos nacionalistas étnicos poloneses.
Identificações políticas, como a de "liberal clássico", são usadas atualmente para descrever Donald Trump (!?), ou como autoidentificação por Carl Benjamin (o tal Sargon of Akkad), que é um entusiasta da alt-right e um de seus influenciadores mais populares.
Por outro lado muitos que se dizem "libertários" (Molyneaux, Chris Cantwell, Hans Hoppe, e Lew Rockwell - que foi o presidente do Mises Institute) estão cada vez mais pautados por questões de "realismo de raça". Como mostra a gafe recente do Mises BR.
A publicação de um artigo no MisesB BR, falando que "diversidade" e "miscigenação" são problemas não foi somente um "erro editorial". É o sinal de como esse tipo de argumentação se tornou lugar comum em certos circuitos libertários. thedailybeast.com/the-insidious-…
No lado do conservadorismo há exemplos e exemplos desse tipo de pensamento, gente inclusive alçada à condição de estrelato nos EUA: Ann Coulter, Sebastian Gorka, Steve Bannon, Pat Buchanan e outros.
No Brasil, Olavo de Carvalho se tornou o "grande nome" do conservadorismo. No seu discurso estão chavões e mais chavões dessa nova direita (apologismo aos Confederados, patologização dos divergentes) incluindo o aval à figura de Alex Jones. 
Nos EUA essas guinada da direita é alvo de análise e crítica por vários nomes à direita, sejam conservadores ou estudiosos da história do conservadorismo (Rick Wilson, Tom Nicholls, Marybeth Glenn, Charles Sykes). esquire.com/news-politics/…
Há também uma disputa dentro do campo do libertarianismo, especialmente depois que Rockwell e Rothbard decidiram produzir uma coligação com a direita nativista e reacionária dos EUA. reason.com/blog/2011/12/2…
"Isso é localizado. Você está vilanizando a direita. Não citou tal a história de tal tradição política." Esse tipo de crítica é normal, esperada e conveniente: não cabe a mim salvar a tradição intelectual de ninguém. Debate honesto exige apontar fontes e corrigir erros.
O interesse por esses tópicos, inclusive, foi potencializado por pessoas das mais diferentes tradições políticas que tiveram a boa vontade de entrar em contato comigo, apontar problemas e discutir o que está acontecendo.
Também não se trata de erguer os espantalhos. Milo Yiannopoulos, cuja correspondência vazada mostrou que mantinha contato regular com neonazistas e nacionalistas étnicos, era o convidado de honra do CPAC (Conservative Political Action Conference).
theguardian.com/us-news/2017/f…
theguardian.com/us-news/2017/f…
Milo Yiannopoulos durante anos foi saudado como "uma estrela contra o politicamente correto". Chegou a ser convidado para falar no programa de Bill Maher, onde foi comparado a Cristopher Hitchens.
theguardian.com/commentisfree/…
theguardian.com/commentisfree/…
Há um número considerável de celebridades que se intitulam "liberais clássicas", "libertárias" ou "conservadoras" que usam sua enorme audiência para divulgar ideias extremas ou inverídicas (Dave Rubin, Alex Jones, Ann Coulter etc).
É possível ignorar o que está acontecendo agora, onde a educação política das pessoas passa pelo Youtube e por outras redes sociais, em prol dos "princípios" de tradições políticas? Não mesmo.
Falando em erros: errei no @viracasacas ao apontar que Thomas Sowell teria concordado com as teorias racialistas de Charles Murray. Me apontaram que não foi bem assim: j-bradford-delong.net/movable_type/2…
O texto no qual Sowell parecia ter concordado com a hipótese do Murray (sobre a relação entre raça e QI) foi escrito antes de sua resenha do livro. Aqui ele diz que a obra de Murray é "mal compreendida". townhall.com/columnists/tho…
Com o "realismo de raça" sendo defendido a torto e a direito como "ciência de verdade" no Youtube e em várias plataformas da direita, esse é um ponto ao qual vamos voltar várias vezes.
No Brasil, até onde eu vi, o único nome à direita a chamar atenção para essa questão foi Demétrio Magnoli.
www1.folha.uol.com.br/colunas/demetr…
www1.folha.uol.com.br/colunas/demetr…
Apesar de alguma lucidez, Demétrio até para falar dos deméritos da direita populista enfia Marx no meio (filho feio não tem pai).
www1.folha.uol.com.br/colunas/demetr…
www1.folha.uol.com.br/colunas/demetr…
