Hentai para mulheres, a thread.

Sexo é natural de qualquer espécie, e sexo se torna algo merda pra mulher porque abusos sexuais são tão comuns que relacionar o ato sexual ao abuso é inevitável.
"Mulher não gostar tanto de sexo quanto homem" é uma construção social recorrente dos preceitos católicos instaurados no ocidente. A caça às bruxas da inquisição tinha por intenção enfraquecer culturas e religiões pagãs, que tinham a mulher como símbolo de força e liderança.
A gente vive até hoje na contradição opressora de que mulher falando de sexo, desejando sexo, se libertando pelo sexo e tratando isso com normalidade é algo absurdo, mas sexualizar e fetichizar o corpo feminino, principalmente o corpo étnico "exótico", é tratado como algo justo.
Ou seja, se a gente quer alguma coisa, aquilo tá errado, se é imposto a nós, tá tudo bem.
Essa relação tá totalmente ligada com a colonização, com invasão de terras nativas em todo ocidente, com a "supremacia branca" e o poder que o genocida tem nos cursos da história como herói.
O hentai/pornografia que os rapazes consomem é feito pra eles. É do ponto de vista deles, e sempre reforça uma posição de poder do homem, e uma posição de submissão da mulher. É isso que mantém hábitos antigos na sociedade e que intitula homens a tratar mulheres como inferiores.
Existe pouquíssimo conteúdo pornográfico feito por mulheres e para mulheres em comparação com a indústria que produz para homens. Mas sempre existiu produção erótica PARA MULHERES e isso é uma forma de resistência política e social e de manutenção da Saúde feminina!
O conteúdo pornográfico étnico e LGBTQ+ em pornografia para o público masculino costuma ser fetichista, violento e/ou racista/preconceituoso.

Enquanto em obras pornográficas para mulheres, existe um espaço consideravelmente maior pra trabalhar isso de forma mais respeitosa.
O Yaoi nasceu como fetiche, com personagens esteriotipados, com papéis definidos entre passivos e ativos, papel de gênero puro. Um representa o homem, o outro, a mulher. Mas o romance homossexual do yaoi abriu portas pra um melhor desenvolvimento desses personagens e romances.
O Yaoi é considerado Shoujo/josei, ou seja, feito para mulheres, então muitas obras não representam casais homossexuais reais, e sim fetiches, como fazem com casais lésbicos no gênero Yuri. Mas isso tem mudado muito, e as obras tem abraçado romances cada veza mais reais.
Os próprios josei "smut", que não enfatizam a genitália, mas expõe nudez e movimentação do ato sexual, tem se tornado excelentes exemplos de produções eróticas para o público feminino que não diminuem o valor da mulher em sociedade ou perante uma relação.
A causa étnica, no entanto, tem pouquíssimo espaço de respeito. O "exótico" dos nativos costuma ser fetichizado porque faz parte da conquista branca colonialista/imperialista/invasora. Então o sexo é sempre apresentado como forma de abuso pra enfatizar a dominância.
Nunca sequer encontrei material pornográfico feito por mulheres que tratasse de questões étnicas, mas já encontrei bons romances que abordam diversas culturas de uma forma linda, como "Miss Abbott and the doctor", de Maripaz Villar que tem em inglês e espanhol no app WEB TOON.
Estamos caminhando pra mudanças e libertações de questões históricas muito antigas em cada produção nova, em cada debate, em cada ato de resistência.

Falar sobre sexo sendo mulher, parece automaticamente abrir as portas do inferno pra receber convites e fotos indesejadas.
Eu consumo Hentai. Prefiro a pornografia escrita/ilustrada porque o domínio audiovisual ainda não tem espaço pra gente e não recebe muito bem a visão feminina da pornografia, que vem se mostrando mais respeitosa, igualitária, sensível e poética.
A literatura pornográfica pra mulheres no ocidente sempre foi muito forte também. Algumas viraram filme, como "50 tons de cinza", mas porque se encaixam melhor na normatividade da pornografia masculina (o que é também um reflexo da posição da mulher branca ocidental).
Por conta de todo esse contexto histórico, nós mulheres não somos incentivadas a conhecer nossos corpos nem o que nos dá prazer. Isso nos impede de ter independência sexual e nos coloca como objetos de prazer dos homens, que tem desde cedo muito mais liberdade e conhecimento.
Os caras não sabem onde fica o clitóris, mas a gente teve que descobrir sozinha escondido também, porque prazer não é visto como algo pra mulheres. Não temos direito a independência sexual e tem sempre que ter um homem de pau envolvido. Só que não, tá bem? Vamos nos poupar disso.
Dica da Moo-chan, a sexóloga feminista Otaku: conheçam o corpo de vocês, conversem com outras mulheres, leiam obras feitas pra vocês e que respeitem vocês. Nos independer sexualmente é um ato político e mesmo se vocês não se importarem com isso, é SAUDÁVEL, pra mente e pro corpo.
Fiz vídeos sobre hentai pro Bunka pop, eu roterizei vídeo sobre hentai, leio hentai todo dia e precisei ouvir homem fetichizando minha "pureza" como se eu não tivesse direito de sentir prazer sexual. Tenho 26 anos, sou uma mulher adulta, nada deveria ser mais comum e natural.
Dito TUDO ISSO, só reforço que:

Uma mulher consumir pornografia, uma mulher falar sobre isso abertamente de forma saudável como tenho tentado fazer aqui, não é atestado de permissão pros homens darem em cima, oferecerem nudes, mandarem nudes ou nos tratarem como objetos.
E por fim, a pedofilia está diretamente relacionada com a forma que os homens tratam as mulheres. Mulher tem que ser bonita e jovem, se não for, não presta, então erotizam traços infantis, psicologicos e físicos, e nos cobram isso sem perceber que pratica antiquada e nojenta é.
Não vou indicar obras aqui por enquanto porque quero que o twitter seja family friendly, mas quem quiser, me pede por DM e me diz que é maior de idade que eu passo uma lista. Não quero problemas com pais e mães, mesmo eu não tendo falado nada demais aqui.
Aliás, minha mãe me instruiu muito bem desde sempre com dicas e livros, mas eu tinha muita vergonha das mudanças na adolescência, então evitava falar sobre e pesquisar, mas tratar disso é importante pra gente se respeitar mais e nos fortalecermos.
Fim da thread, espero que alguém tenha aprendido alguma coisa. Se quiserem acrescentar fatos e experiências ou perguntar, fiquem a vontade, mas se for contestar fato histórico e vivência sem acrescentar nada novo nem útil, fica quieto mesmo porque não quero saber de opinião aqui.
P.S.: Falei pela minha perspectiva como ocidental, a perspectiva oriental e da produção erótica oriental tem outras questões históricas e outras problemáticas. Cada cultura tem suas características, então cada etnia têm necessidades e formas diferentes de lidar com o machismo.
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