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Marlos Ápyus @apyus
, 17 tweets, 3 min read Read on Twitter
Não vale recorrer ao Google. Você já ouviu falar no Caso Para-Sar?
Eu também teria respondido "não". Este meu tweet, inclusive, foi apenas a 29ª citação ao caso em toda a história do Twitter. E é impressionante que algo que tamanha gravidade seja de conhecimento de tão poucos.
Lia uns arquivos da Folha quando me deparei com a frase: "o caso Para-Sar é emblemático da anarquia crescente nas Forças Armadas".

Anarquia.

Ouvi o termo estes dias. E reclamei dele. Então achei que cabia ir ao Google.
PARA vem de "paraquedistas". SAR vem de "search and rescue". É um esquadrão de paraquedistas da Força Aérea Brasileira usado em operações especiais. E eles foram convocados para, em abril de 1968, se infiltrarem em manifestações estudantis no Rio de Janeiro.
O capitão Sérgio Carvalho tentou denunciar a ilegalidade da missão, mas foi ignorado. Dois meses depois, foi convocado para uma reunião com o brigadeiro João Paulo Burnier. Nessa reunião, seria apresentado ao seguinte plano:
– Causar um pequeno número de mortes em explosões no Sears, Citibank e embaixada dos Estados Unidos

– Explodir a Represa de Ribeirão das Lajes para deixar a população sem água

– Causar um enorme número de mortes – por volta de 10 mil – explodindo o Gasômetro de São Cristóvão...
– Sequestrar e assassinar quarenta atores políticos, como Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek e Dom Hélder Câmara

– Jogar a culpa de tudo na esquerda justificando assim um endurecimento do regime militar contra opositores
Numa segunda reunião, já com a presença de 40 membros do PARA-SAR, Burnier explica ao esquadrão que, mesmo em tempos de paz, deveriam "cumprir missões de morte". E que as ordens não deveriam ser questionadas, mas simplesmente cumpridas.
Contudo, o capitão Sérgio Carvalho disse que aquilo era "imoral, inadmissível a um militar de carreira" e, após o acirramentos de ânimos, deixou a reunião para fazer a devida denúncia ao ministro da Aeronáutica.
Sérgio preparou um relatório com todo o ocorrido. E 37 testemunhas concordaram que o texto era fiel aos acontecimentos. Mas Burnier preparou uma investigação própria que findaria rasgando os testemunhos.
Sérgio foi transferido para Recife. Mais adiante, foi condenado a 25 dias cadeia por desmentir o superior.

O caso foi denunciado pelo MDB em outubro de 1968. O Correio da Manhã fez uma reportagem sobre, mas o autor findaria preso.
Todo este episódio faz parte do contexto que leva à assinatura do AI-5. Segundo a Folha, até agosto de 1968, explodiram 29 bombas em São Paulo, mas, um tanto diferente do que se imagina hoje, 14 delas tinham origem em grupos radicais de direita.
O estopim, contudo, teriam sido as acusações de prática de tortura explicitadas pelo deputado Márcio Moreira Alves contra o Exército. O governo quis processá-lo, a Câmara não autorizou, dois meses depois, veio o quinto Ato Institucional.
"Naquela noite, ficaram instituídos o recesso do Congresso por tempo indeterminado, a suspensão do habeas corpus em caso de crimes políticos e o recrudescimento da censura aos meios de comunicação. A oposição legal perdia a voz."
Estou trazendo esta versão da história porque há toda uma molecada se empolgando com uma versão viciada dos acontecimentos. Que é contada em contraponto a outra versão viciada dos acontecimentos.
De minha parte, acho difícil que haja os heróis cantado por ambos os lados. Mas temos ainda algum resquício de democracia em nossas mãos. E deveríamos valorizar isso.
PS.: Achando necessário corrigir algum detalhe do que aqui narrei, sinta-se livre para comentar. Claro, com um mínimo de educação, por favor. É um assunto sério.
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