Thread by @Savagefiction

Quando a história é escrita apenas por quem sobrevive a ela, corremos o risco de transformar verdadeiros genocidas em heróis. O Brasil é cheio de personalidades exaltadas. O mais famoso dele, patrono do exército que moldou o pensamento da instituição é o assassino Duque de Caxias

No final de 1838 a população pobre do Maranhão sofria na mão de ricos e policiais que deveriam manter a ordem. O sentimento era de abuso e repressão por parte das oligarquias da província, certo dia Manuel Francisco dos Anjos, o "Balaio" viu policiais estuprarem suas 2 filhas

Não bastasse, era costume do exército prender pobres indesejados como recrutamento forçado, (que foi amplamente utilizado na guerra do Paraguai). A prisão do irmão do vaqueiro Raimundo Gomes somou forças para a explosão popular, alcançando 12 mil homens contra o governo

Mesmo sem estratégia, uma organização rural e desarticulada, os balaios venceram alguns confrontos. Atacaram fazendas e foram crescendo em números e moral, não demorou para tomarem Caxias. Após essas vitórias entra na história o coronel Luís Alves de Lima e Silva

Ele foi enviado pelo imperador, como Presidente e Comandante das Armas da Província. Cavalaria, Canhões e armas de fogo foram organizados contra a guerrilha que utilizava foices, facões e algumas armas de fogo que conseguiam.

A violência do ataque era para evitar que a revolta desse exemplos
Histórias sobre a independência do Haiti em 1804 deixaram outros impérios com medo A maior parte da população do Maranhão era de pretos e mestiços (caboclos, cafuzos…) Fosse de brancos o desfecho seria diferente

Mas como não era, mais de 10 mil pessoas foram massacradas na "política da pacificação". Luís Alves se tornou barão e depois Duque. Quis celebrar a vitória na escolha do título, se tornou Duque de Caxias e os humildes se tornaram bandidos em uma horda nos livros de história

"Hoje historiadores já escrevem sobre essa nova versão. A versão dos vencidos, dos balaios como verdadeiros heróis na batalha contra os opressores", disse o pesquisador Wibson Carvalho.

g1.globo.com/ma/maranhao/no…

Mais tarde Duque de Caxias demonstrou novamente sua face genocida, no massacre de porongos. (já fiz uma thread sobre). Dois corpos de lanceiros formados por negros capturados, se dispuseram a lutar pelos farrapos. Após anos, desgastados travaram um acordo

Nesse acordo, alguns farrapos seriam ressarcidos pelos gastos com a guerra e a paz seria restaurada com o império. Foi quando surgiu o conflito do que fazer com os 700 negros que receberam promessas de liberdade. Luis Alves “Caxias” articulou, então, um plano traiçoeiro

Levaram os lanceiros para um acampamento desarmados em Porongos, enviando tropas para uma chacina: "No conflito poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda pode ser útil no futuro".

Seria uma fantasia esperar que homens brancos ligados a coroa européia sejam desprovidos do racismo, dos preconceitos e de todas falhas de caráter da época. Mas também não se pode mais aceitá-lo como herói puro e de virtudes incorruptíveis

Ignorar a monstruosidade, é um desrespeito com quem descende dos negros de porongos, dos balaios do Maranhão e significa estar ainda conectado com os mesmos valores que levaram ele a ignorar a vida de quem é diferente. Nossa história precisa de novos e verdadeiros heróis