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Ale Santos @Savagefiction
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Até a última gota de sangue, negros resistiram para alcançar a liberdade em um sistema, que celebra até hoje seus assassinos. As vozes na senzala e fora dela nunca esqueceram seus verdadeiros heróis, hoje vamos lembrar de dois líderes no RJ: Manoel Congo e Marianna Crioula
O início da história de Manoel não tem data registrada, ele nasceu no Congo mas foi escravizado para viver na cidade que recebeu o título de maior produtora de café do mundo, Vassouras no RJ. Seu dono era um oficial militar Manuel Francisco Xavier.
Manoel tinha um ofício elevado como escravo, era ferreiro. Naquela época criou-se em vassouras uma sociedade para ensinar essa habilidade a alguns escravos. Em algumas sociedades africanas era um trabalho destinado aos reis e outros nobres.
Em 1840 Vassouras tinha cerca de 20 mil habitantes onde mais de 14 mil viviam nas senzalas. A sombra das revoltas de Palmares, Haiti e mais recente dos Malês roubava o sono dos escravagistas, mas quem sofria mesmo eram os pretos que recebiam punições para não sair do eixo
Do lado dos pretos a indignação era constante, quase como um barril de pólvora que explodiu exatamente em 5 de novembro de 1838, quando um capataz da fazenda Freguesia matou o escravo Camilo Sapateiro a tiros sem nenhum motivo além da frieza de sua alma. O clima de ódio cresceu
Por volta da meia-noite o primeiro grupo de revoltosos arrombaram as portas das senzalas e deram cobertura para algumas mucamas, as escravas de companhia que viviam nas Casas Grandes.
O romance entre escravos era proibido e nem havia como acontecer, a proporção de mulheres escravas era pequena e elas ficavam isoladas, estupradas pelos brancos donos de fazendas ou seus filhos. Apenas algumas procriavam para produzirem novos escravos
Manoel Congo foi identificado como Rei daquele grupo ao lado da Rainha Marianna Crioula (como os racistas ensinaram os negros a chamar outros negros nascidos no Brasil). Ela era costureira e mucama da esposa do capitão-mor Manuel Francisco Xavier
Antes do dia nascer a rebelião se alastrou para as fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre e logo havia cerca de 400 homens e mulheres negras livres na mata da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara, provavelmente planejando um Quilombo
O episódio dessa fuga em massa causou pânico nos fazendeiros e alertou as autoridades militares da época. O coronel Lacerda Vernek descreveu o primeiro encontro da guarda com o grupo em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro.
Aquela revolta não resistiu ao ataque. Um dos líderes militares que atuou na ação era Luís Alves de Lima, futuro duque de Caxias - esse adorava encarcerar e assassinar negros. Claro que os fazendeiros não queria ter grandes perdas, logo só 16 negros foram julgados
Manuel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga.
Enquanto era arrastada, Marianna gritou que preferia morrer a voltar para a escravidão, as pessoas tentaram linchá-la por isso. Todas as mulheres foram absolvidas em um pedido da mulher de Manuel Francisco Xavier, para que não perdesse suas propriedades.
Apesar disso Marianna foi obrigada a assistir a morte de Manoel, que cumpriu sua “pena de morte para sempre” no dia 4 de setembro de 1839. Enforcado e enterrado como indigente. Outros 7 homens receberam 650 açoites, 50 por dia…
Se ainda sobrevivessem, passariam 3 anos com um gonzo de ferro ao pescoço. Os fazendeiros da região tomaram medidas rígidas para que outras rebeliões não acontecessem, então. Mantinham suas armas sempre prontas para matar qualquer fagulha de resistência
Em 01 de junho de 2010, os deputados e vereadores do Estado do Rio de Janeiro, decretam por unanimidade que Manuel Congo e Marianna Crioula recebam o título de heróis do Estado do Rio de Janeiro. Ainda há um memorial em Vassouras celebrando a sua luta.
mapadecultura.rj.gov.br/manchete/memor…
E nós podemos olhar para o passado, reconhecer quem estava realmente lutando pela liberdade e assumir nosso pedaço na construção de um futuro melhor para o povo negro #Ubuntu
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