Ainda pensando em como a performance da Michelle Bolsonaro fazendo discurso em Libras ontem foi um exemplo perfeito da face benevolente do autoritarismo. A mulher branca e rica que pratica atos de suposta inclusão ao mesmo tempo em que sustenta políticas opressoras e genocidas.
claro, no projeto de supremacia branca (vamos dar nome aos bois?) isso não é nada novo; as mulheres brancas sempre estiveram profundamente envolvidas nisso. Mas como mtas vezes a violência praticada por mulheres brancas contra pessoas não-brancas (inclusive outras mulheres)+
tem mtas vezes expressões diferentes daquela praticada pelos homens brancos (porém não menos nociva), acaba sendo bem menos dissecada. Um dos maiores exemplos é, claro, a violência praticada por mulheres brancas dentro do âmbito doméstico – antes contra 'amas' e 'criadas', hj+
contra domésticas. É uma violência que não teve fim, centrada em hierarquias de raça e classe. É a continuação do projeto colonial, em que embora mulheres brancas não tenham of mesmo poder de homens brancos, se aproveitam de sua branquitude para explorar pessoas não-brancas.
assim, aqui eu falei essencialmente de classe e raça, mas o projeto colonial é um projeto amplo de definição de corpos 'válidos' e 'humanos', em que desvios da norma branca, cis, hetero, etc (inclusive considerando como esses conceitos mudam ao longo do tempo) são punidos. +
Corpos q não se encaixam nisso são definidos como menos-ou-não humanos, de maneira a justificar sua exploração e violência em benefício do status quo colonial. É um projeto inerentemente capacitista tb, especialmente considerando como o colonialismo fornece a base p/ capitalismo+
Agora, se vcs repararem lá atrás eu chamo a Michelle Bolsonaro de branca. Uma das mais repetidas 'defesas' do clã às acusações de racismo contra o Tinhoso foi dizer que o pai da Michelle seria conhecido como "Paulo Negão" & família é nordestina, logo ele não poderia ser racista +
enquanto procurava fotos do tal pai da Michelle nas internets (sem sucesso, não achei nem umazinha), me deparei com este vídeo em que o Eduardo Laranjaro descreve a madrasta como sendo "m*lata" (me desculpem, dá ânsia só de digitar isso). Aqui:
ainda preciso refletir mais sobre isso, mas esse discurso deles tem me parecido ir além do Gilberto Freyre de "todos temos sangue negro/indígena, logo não tem racismo no Brasil". Lembram q falei lá atrás q conceitos de raça mudam? Me parece q existe uma movimentação da concepção+
de raça em direção a um modelo mais parecido com o dos EUA no discurso deles – one-drop rule e afins. Assim, como eu disse ainda não é uma idéia mto formada, mais me parece uma estratégia para legitimizar ainda mais o discurso deles em relação a minorias, especialmente frente+
à visibilidade q o movimento negro, indígena e asiático ganharam no Brasil nos últimos anos. Enfim, vou trabalhar agora q preciso começar a instalação de um trabalho amanhã (sobre colonialismo e tecnologias contraceptivas, inclusive)!
em tempo, o governo Bolsonaro já está desmontando o Secadi, órgão que – vejam bem – cuida incluside de políticas de educação para a população surda. www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/…
