Bem, aproveitando que eu já destranquei o tuinto pra militar, vou elaborar um pouco sobre como funciona a cortina de fumaça da nova extrema-direita numa breve thread:
Antes de mais nada, eu não sou cientista político, nem jornalista, nem expert na área. O que eu tenho de credenciais pra oferecer é o fato de ter acompanhado bem de perto o twitter de expoentes da esquerda dos EUA desde a eleição do Trump, dois anos atrás.
Pra quem não sabe, o Bolsonaro explicitamente e publicamente copiou o modelo do Trump durante a campanha dele, e tudo indica que seguirá também à risca o modelo de "gestão" (se é que pode ser chamado assim) do Commander-in-Cheeto lá
Eu acompanhei o desenrolar dos primeiros dias da presidência do Trump e como a esquerda lá tentou se reorganizar depois do choque e as formas que eles buscaram de recuperar a relevância depois que o tabuleiro político tradicional deles foi obliterado
No início, eles usaram todas as cartas possíveis. Qualquer abertura que o Trump desse para críticas era esmiuçada, derrubada nos tribunais, tinha gritaria na mídia... absolutamente nenhuma bola passava. O foco era atacar a administração por todos os lados e em todas as brechas
Mas com o tempo, foi ficando claro que as merdas que mais rápido repercutiam eram as relativamente pequenas e ficavam semanas inteiras no foco dos noticiários... por outro lado, os absurdos mais cabulosos nunca ganhavam a mesma tração e aconteciam todos ao mesmo tempo
De forma que parecia não dar tempo de repercutir uma bosta porque logo vinha outra, e outra, e outra. Era exaustivo até se manter revoltado.
Então eles perceberam que a administração Trump tinha basicamente dois tipos de polêmica: ou era uma grande maldade, ou uma grande imbecilidade. E as que ganhavam repercussão geral eram exclusivamente as imbecidades
Vejam bem, Trump é uma celebridade sem qualquer mérito, uma espécie de celebridade que só existe nos EUA, e antes de entrar pra política ele viveu anos sendo notícia dos setores de entretenimento e sociedade.
O fato é que ele tem uma habilidade natural de gerar fofoca, e fofoca é uma notícia de fácil consumo. E o que acontecia era que as notícias sobre a administração Trump que tinham maior impacto eram as que soavam como uma fofoca de celebridades.
Basicamente, a esquerda de lá percebeu que a mídia focava muito em notícias sobre alguém na administração Trump sendo imbecil, e pouco nas notícias sobre as crueldades cometidas por eles
Pior, uma vez lançadas, essas fofocas de salão dominavam completamente os noticiários e de fato ofuscavam as notícias revoltantes. No fim, em vez de aumentar a rejeição ao presidente deles, acabaram subsidiando a noção de que ele era um completo idiota
Só que o público adora um idiota, e principalmente, é muito mais difícil colar o rótulo de totalitarista cruel e algoz de direitos humanos em cima de um idiota, porque a conta não fecha. Idiotas são de certa forma amáveis, e sempre inofensivos
Nisso já estava feita a merda. A população, que deveria ter passado a considerar o Trump um cretino que tranca crianças em campos de concentração, passou a considerá-lo um incompetente caricato e em última análise inofensivo
Aí veio a eleição legislativa do ano passado e só as minorias que sentiram as maldades do Trump na pele se mobilizaram pra votar contra. O número de v abstenções continuou alto e os Democratas só conseguiram maioria na câmara e o senado continuou republicano
Moral da história: resistam fortemente à tentação de fazer montinho em cima de coisas absolutamente idiotas que vierem do governo do Bozo. Foquem nos retrocessos. A pior coisa que pode nos acontecer agora é o eleitor do Bozo achar que ele é um bosta.
Não que ele não seja, mas transformá-lo numa charge política viva vai jogar contra a gente. Vai normalizar o abjeto. Vamos aproveitar que temos 2 anos de experiência alheia disponível para absorver e não escorregar nas mesmas cascas de banana, no mínimo
