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Master persuader mesmo é a Marie Kondo.
Ela tem uns bons conselhos misturado com aquela dosezinha de mistificação necessária para aparecer na Oprah e vender milhões de cópias para os americanos.
Não estou querendo criticar os americanos (tenho o maior respeito pelo país -- vivi um tempo lá e adorei). Mas me parece inegável que o excesso de dinheiro às vezes tem uns efeitos colaterais. Fica fácil acumular coisas sem pensar na utilidade e no senso estético.
Esse negócio de agradecer às coisas, de sentir alegria com os objetos, etc., é meio bobagem, mas é também um bom truque para convencer as pessoas a pensarem um pouco mais nas suas decisões. É um pouco de "mambo-jambo" em serviço a uma boa causa.
O caso brasileiro é bem diferente, no entanto. A desigualdade extrema causa efeitos bizarros na cultura. A ausência de senso prático e estético é ainda maior, mas no Braza os objetos adquirem também a função de sinalizar status.
Aí fulano começa a trocar de computador para mostrar que está bem de vida, sem saber utilizá-lo. Ou compra camisa caríssima de marca sem perceber que não está bem ajustada no corpo ou que o estilo não é apropriado para adulto (bem mais comum entre os homens-br, obviamente).
Não sei se uma Marie Kondo ajudará tanto os brasileiros. Uma parte enorme da população talvez tenha é coisa de menos (ou várias coisas de baixa qualidade) -- dado que todo mundo estoura as poupanças e o crédito quando possuem a oportunidade de passar por Miami.
Esse negócio de ir jogando fora tudo que não "dá alegria" não é bem uma superação do consumismo. É só um consumismo mais inteligente. Você joga fora o que é de baixa qualidade e sobra espaço para comprar coisa de mais qualidade.
Se o sujeito está com a grana apertada, ter alegria com objetos é um luxo. O cara precisa é se cercar de coisas úteis e baratas o suficiente para evitar a falência. E pensar mais em sucesso real do que em status social.

(Mas eu sei que falar é fácil. A pressão do meio é forte.)
Mas, enfim, acho que tudo que incentiva responsabilidade, organização e decisões conscientes é uma coisa boa. Talvez a Marie Kondo seja uma gateway drug para o Peterson.
Prova de que a Marie Kondo é uma master persuader é o jeito que ela dá gritinhos de empolgação quando chega na casa das pessoas. Certeza que ela fez iso para se adaptar à mora atual.
Continuando quase em associação-livre. Nunca entendo quem gasta dinheiro para sinalizar status. Tudo que você sinalizou é que você TINHA dinheiro antes de gastar. Ou seja, você está sinalizando que é tão inseguro que está disposto a PERDER dinheiro para ter aprovação.
Mil vezes melhor é ter apenas coisas que você usa e deixar o resto do dinheiro na poupança, para poder dormir tranquilo mesmo se surgir alguma emergência e tomar riscos sabendo que você tem uma rede de segurança. Status é um objetivo besta.
Uma ideia boa que eu peguei do Taleb é a noção de ruína. Os conselhos de finanças pessoais sempre falam para você tentar maximizar sua taxa de retorno. Isso é uma bobagem. A maioria da população só tem um trocado de reservas. Ter 0.7% de retorno em vez de 0.5% não faz diferença.
Seu primeiro objetivo é evitar a ruína, isto é, ficar sem recursos para continuar funcionando. Seu segundo objetivo é aumentar sua produtividade pessoal -- tomar riscos e realizar coisas interessantes. Se o dinheiro parado na poupança ajudar esses dois objetivos, está valendo.
A Marie Kondo entra no terceiro objetivo (que é beeem anterior a estudar investimento). Antes de pensar em aplicações, as pessoas precisam aprender a administrar sua casa, seus objetos, seu tempo, suas relações e seu nível de energia. Aí é que está sua verdadeira riqueza.
Se tudo isso estiver funcionando bem, talvez você comece a ter um surplus significativo -- o que depende muito da situação da economia, da profissão que você escolheu, etc. Aí é o caso de ir pensar em investir. E, no caso, talvez o principal investimento seja mudar de trajetória.
Apenas bem depois disso é que entra a administração do seu capital, quando suas reservas forem equivalente a alguns salários anuais. Você não é um capitalista se não pode viver do seu capital. E nem todo mundo vai virar capitalista. Depende de fatores que não podemos controlar.
E não deveríamos ficar muito preocupados com isso também. Em vez de atingir um determinado status ou patamar de consumo, o principal é pensar no próprio sentido da vida. Qual é sua missão? Coisas e dinheiro são só instrumentos para isso.
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