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Ontem lá pra umas dez da noite eu resolvi sair pra buscar um lanche numa lanchonete que tem aqui perto e que também é pizzaria. 5 reais a taxa de entrega do ifood, valia a andada até lá.

Fiz meu pedido e o único lugar pra sentar era uma mesa em que já tinha um homem, negro.
Ele tava sentado sozinho e mexendo no celular com fone de ouvido, a cadeira ao invés de virada pra mesa tava virada pra frente. Sentei do lado oposto ao dele com a cadeira virada pra frente também porque ele tava tão compenetrado que não consegui interromper pra pedir licença.
Fiquei sentada lá e foram chegando mais pessoas na pizzaria e várias falavam com ele:

- Ó quem tá aqui
- Você por aqui
- Esse aí tá todo dia aqui!
Lá pro terceiro cara que falou "esse aí tá todo dia aqui sentado no mesmo lugar" ele virou pra mim - até esse momento a gente não tinha tido nenhuma interação - e falou:

- O que eles não sabem é que quem faz aqui essa pizza gostosa pra caraca é meu filho.
Eu sou sempre receosa de dar papo pra homem, ainda mais homem mais velho, mas naquele ali não senti nada de ruim então fui ser simpática. Mostrei surpresa por ser o filho dele, falei que adorava a pizza de lá. Aí ele disse:

- Você não me conhece não?

Neguei.
*Disclaimer no meio da história pra dizer que NÃO AUTORIZO a reprodução dessa thread em qualquer página de Instagram, Facebook ou rede social que seja*
Disse que não conhecia, ao que ele falou:

- Você não pega ônibus por aqui? Trabalho na linha tal.

Eu disse que não costumava pegar aquela linha, aí ele começou a me contar a história.
Disse que todo dia saía do trabalho cedo e ficava lá na pizzaria até a hora dela fechar, esperando o filho.

- Se eu não tivesse carro... Mas eu tenho... Melhor que eu levo ele pra casa. Mas não se engana não: é muito chato ficar aqui todo dia esperando, geralmente ele sai 2h.
Eu fiquei impressionada com o sacrifício, aí perguntei:

- Quantos anos seu filho tem?
- 18... Se ele fosse mais velho, com uns 22, eu até deixava ele ir sozinho...

Aí eu, do alto do meu privilégio, falei:

- Mas tá certo, a rua tá muito perigosa, essa hora tem muito assalto.
E aí simplesmente ele partiu meu coração dizendo:

- Não é de assaltante que eu quero proteger meu filho não, é da polícia mesmo.

A gente continuou conversando e tal mas o nó na garganta foi tanto que nem comi o lanche direito depois.
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