Thread by @ditaduradiaadia

O golpe se concretizou em 2/4/64. Às 2h, uma sessão conjunta no Congresso foi aberta por Auro de Moura Andrade, presidente do Senado. A cerimônia durou menos de 1h. Havia 29 senadores e 183 deputados. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, foi empossado presidente da República.

Auro de Moura Andrade (UDN) na abertura da sessão: "Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a Nação é conhecedora, o governo da República".

Andrade leu um ofício de Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil de Jango. Darcy informou que o presidente "decidiu viajar para ao Rio Grande do Sul, onde se encontra à frente das tropas militares legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais e o seu ministério".

O deputado Sérgio Magalhães tentou argumentar com Andrade, houve um princípio de bate-boca, e o presidente do Senado argumentou que Jango "deixou a nação acéfala numa hora gravíssima da vida brasileira em que é mister que o chefe de Estado permaneça à frente do seu governo".

Diante de palmas, protestos e tumultos, Andrade anunciou: "Há sob a nossa responsabilidade a população do Brasil, o povo, a ordem. Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República e [...] declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli".

O golpe foi consumado na madrugada. Às 3h15 de 2/4/64, Mazzilli atravessou a Praça dos Três Poderes e subiu o Palácio do Planalto como presidente.

No Planalto, Darcy Ribeiro encontrou o general Nicolau Fico, que traiu Jango na última hora, e o chamou de "macaco traidor".

2/4/64, 11h45: Jango voou de Porto Alegre para São Borja. O general Assis Brasil afirmou que era "temerário" que o presidente deposto continuasse por ali, em sua fazenda conhecida. Tomaram um avião C-47 e se esconderam em um rancho à beira do Rio Uruguai, mas ainda no Brasil.

O clima piorava. No Recife, o dirigente do PCB Gregório Bezerra, 63 anos, foi amarrado seminu à traseira de um jipe e puxado pela cidade. Depois, foi espancado em uma praça por um oficial do Exército, com uma barra de ferro. As imagens foram exibidas pela TV Jornal do Commercio.

Tarde de 2/4/64: Jango escreveu uma carta pedindo asilo ao Uruguai. A mulher dele já estava a caminho de Montevidéu. O embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, alegou que um "informe confiável" garantia que Jango estava no avião, deixando o país sem autorização do Congresso.

Fake news de Gordon: Jango só sairia para o Uruguai em 4/4. Mas, por considerar que o presidente "deixou a presidência vaga", os EUA reconheceram Ranieri Mazzilli como presidente. O presidente dos EUA, Lyndon Johnson, enviou telegrama de felicitações.

Segundo Leonel Brizola, então deputado federal, foi o reconhecimento dos EUA o que fez João Goulart decidir se exilar no Uruguai.

O presidente Jango não queria assumir a responsabilidade de desencadear uma guerra civil.

Rio, 16h: começava a Marcha da Vitória, com mais de 800 mil pessoas, patrocinada por Magalhães Pinto (gov MG), Carlos Lacerda (gov RJ) e IPES para celebrar a deposição de Jango.

A ideia da marcha foi do frei Leovigildo Balestieri, vigário de Ipanema, e do general Golbery.

O dia 2/4/64 chegou ao fim com o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, parabenizado pelo subsecretário de Estado, George Ball: "Felicitações pelos nervos firmes e bons conselhos durante o período crítico, e pelos excelentes relatórios sob condições de grande confusão".