Thread by @vquaiato

Ontem o @o_gabsferreira fez as afirmações abaixo. E eu discordo (ao menos em partes delas). Não somente no mercado de tecnologia, mas principalmente nele (onde estou inserido atualmente). Respeito bastante o Gabs, a ideia aqui é oferecer outro ponto à discussão ;)

Segue a thread

https://twitter.com/o_gabsferreira/status/1112700629846290434

Primeiro: eu não acredito que exista algo como "ser bom tecnicamente", assim no vácuo. Ser bom exige contexto: para o que? para quem? para resolver qual problema?

Não considero que uma única pessoa deva se preparar para estar pronta para resolver todo e qualquer problema.

Pensar desta forma gera muita ansiedade, faz com que as pessoas (em tecnologia) vivam essa constante ansiedade por aprender e estudar, negligenciando completamente outros aspectos de suas vidas (família, amigas, descanso, lazer, etc).

Então: ser bom exige um contexto específico.

Aprender e estudar pode ser bacana. Tudo depende do seu contexto profissional e pessoal. Depende de suas metas de vida e crescimento.

Ser boa não quer dizer "conhecer todos os frameworks javascript do mercado". Em alguns contextos é justamente o contrário. Contexto importa!

Depois @o_gabsferreira diz:

> Você pode ser a pessoa mais foda do mundo em tecnologia e não evoluir na carreira como gostaria.

Sim, isso pode acontecer. E pode acontecer por diversas e diferentes razões. Algumas podem estar sob seu controle, e (muitas) outras não.

Embora poucas pessoas falem sobre e/ou admitam isso, sorte é um fator muito importante, ainda que tenhamos muita qualidade técnica. Por ex: mesmo que estudemos muito, uma empresa que recebe 100, 200, 400 CVs por mês, talvez nunca veja o nosso. E esse é apenas um exemplos.

Evoluir na carreira depende em partes de nós, e em partes de vários outros fatores que não controlamos. E de verdade: nem sempre estudar diminui o fator sorte ou melhora nossas chances.

Novamente: acredito que essa afirmação também gera muita ansiedade e pressão desnecessárias.

O que é sucesso? É bem pessoal. Aprendi que sucesso é contextual e temporal. Esse conceito muda ao longo de nossa jornada profissional, e muitas vezes muda quando estamos dentro ou desejando entrar em uma empresa.

Minhas definições de sucesso já mudaram algumas vezes neste ano!

Percebi também que minhas definições de sucesso mudaram ao longo da minha vida. Quando eu era mais novo pensava de um jeito e queria algumas coisas. A vida mudou, coisas aconteceram, e passei a considerar outras coisas como (importantes para atingir o que considero) sucesso.

Por fim, ele termina com a seguinte afirmação (que ao meu ver é a mais preocupante):

> A combinação de técnica + soft skills é matadora e vai te fazer crescer :)

Acho essa afirmação perigosa. Primeiro pois, no geral, as pessoas não definem o que é "soft skill". E novamente: isso depende de contexto.

Muitas vezes as pessoas querem dizer apenas "não seja um babaca", mas isso não é soft skill.

É perfeitamente possível ser uma boa profissional e ser uma pessoa introvertida. A capacidade/habilidade/possibilidade de nos expressarmos externamente não define o quão bons nós somos. E muitas pessoas introvertidas são estigmatizadas como "sem soft skills".

A afirmação de que "devemos ter soft skills", causa ansiedade para várias pessoas. As coloca em situações que elas muitas vezes não querem, e isso é brutalmente ruim.

Nem todas as pessoas querem estar em posição de liderança, negociação, gerenciamento de conflitos. Nem todas as pessoas querem ser "talkative" (conversadoras).

E sabem o que? Tudo bem! Mesmo! Vocês serão profissionais incríveis caso queiram "apenas codar".

Como comentei, no entanto, ser babaca é uma outra coisa. O problema é que ser babaca mina uma série de "soft skills".

Não sei vocês, mas eu conheço menos pessoas babacas do que pessoas babacas. A maioria das pessoas que conheço possuem soft skills (en.wikipedia.org/wiki/Soft_skil…)

Tudo isso pra dizer que, na minha experiência (como programador e pessoa introvertida) é melhor dizer:

> Desenvolva-se tecnicamente para o seu contexto e objetivos, e junto disso não seja babaca.

Isso gera menos pressão, e é um conselho mais completo e menos ambíguo.