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Nasce, no limiar do Século XX, a Semiótica. Ao longo de quarenta anos, um homem, numa assombrosa quietude, havia construído, paciente e criteriosamente, uma ciência, que se tornou um legado para a Humanidade.
Este filósofo, chamado Charles Sanders Peirce, até poucas horas antes de sua morte, lutava, na verdade, pela criação da Lógica, com o estatuto da ciência.
Sua vida, no entanto, foi uma travessia dialógica consigo mesmo, pois nenhuma Universidade sequer o considerou como lógico e tampouco filósofo.
Não é de se espantar, porém, que só um ser humano capaz de lançar-se numa aventura bem sucedida, rumo ao conhecimento pleno de 2500 anos de cultura filosófica, fosse capaz de conduzir-nos à criação de uma filosofia científica da linguagem: a Semiótica.
Charles Sanders Peirce não foi um homem de seu próprio tempo, mais foi o homem que desvendou a amplidão científica para todos os tempos.
CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914)

Para este pensador, um signo:

“é aquilo que representa alguma coisa para alguém, sob determinado prisma”.
A coisa representada denomina-a objeto.
Em famoso pensamento de Peirce, temos o entendimento de que o pensamento não está em nós, nós é que estamos em pensamento.
Não reagimos mecanicamente às situações, de forma sempre igual.
Estamos sempre em movimento, criando novos signos, aprendendo.
CHARLES SANDERS PEIRCE, pensador norte-americano, instituidor do pragmatismo como método de conhecimento,manteve relações intelectuais com todos os filósofos importantes de seu momento histórico – dentre eles: William James,Henry James,John Dewey, Gottlob Frege, Bertrand Russell.
Não realizou carreira universitária, e seus textos foram publicados esparsamente, reunidos pós-morte.

A posição pragmática (espécie de versão neopositivista mais avançada) consiste no método para a determinação de significados, concebidos como produtos factíveis.
O pragmatismo não se propõe, com Peirce, como filosofia. Seu estamento é de recurso para o pensamento filosófico, instrumento para o que-fazer filosofante.

Algumas constantes na metodologia peirceana.
Sua estrutura de raciocínio e demonstração apoia-se sempre em relações triádicas. Nisso, deriva direta sugestão da dialética hegeliana (tese, antítese, síntese).
Todo significado parte de uma hipótese, a que se segue uma operação – que vai até uma experimentação (ou mesmo um resultado).
O objeto é conhecido e diferenciado pelas consequências práticas que acarreta e pelos fatos em que resulta.
A concepção de um objeto equivale à concepção de como funciona ou do que pode realizar. Tal a proposição pragmática, da metodologia de C. S. Peirce.

Três são os elementos lógicos que permitem a decifração dos fenômenos, ou sua conceituação:
PRIMEIRIDADE;
SECUNDIDADE;
TERCEIRIDADE;
Esse sistema triádico identifica as categorias lógicas para C. S. Peirce.
PRIMEIRIDADE é uma qualidade sensitiva, ou sensação percebida (um orgasmo, um soluço, por exemplo). Resume-se na ideia daquilo que independe de algo mais.
A primeiridade caracteriza os fenômenos singulares, idiossincráticos, excludentes.
Os sentimentos ou as qualidades puras incluem-se na categoria das primeiridades.
SECUNDIDADE é reação, resposta. Existindo um duplo termo, nas quais uma coisa acontece à outra. O nome de uma coisa ou fato é uma relação de duplo termo.
Assim, a percepção sensível que permite conhecer os eventos ou sua mudança (troca de estado, troca de posição, referencial) – constitui-se na categoria lógica da segundidade.
TERCEIRIDADE é representação. A ideia que se faz de um terceiro, entre um segundo e um primeiro; uma ponte entre dois termos ou elementos. A terceiridade predomina na generalidade, na continuidade que permite, por exemplo, a elaboração de leis.
Toda lei depende de um referencial (primeiro e segundo), de que ela é o terceiro. O signo, segundo Peirce, é a ideia mais simples da terceiridade.
SIGNO – segundo Charles Sanders Peirce, é aquilo que representa alguma coisa para alguém, sob determinado prisma.
A coisa representada denomina-a objeto.
O primeiro signo denomina-se REPRESENTAMEN. Cria na mente da pessoa, o qual é direcionado como emissão, um signo equivalente a si próprio.
A flor que existe no mundo independe de minha vontade. A palavra flor (ou flower, ou fleur, ou fiore) é um signo gerado pelo primeiro signo que é a flor.
Esse outro signo, mais desenvolvido que o representamen, denomina-o Peirce interpretante.
Decorre nova relação triádica – signo / objeto / interpretante, como abaixo:
Entre signo-interpretante e interpretante-objeto, as relações são causais. Já entre signo e objeto não há relação de pertinência, porque arbitrária.
O signo não pertence ao objeto, o objeto não pertence ao signo.
Decorre que o interpretante passa a funcionar como a chave da relação (inexistente) signo e objeto. As três entidades formam a relação triádica do signo.
Peirce configura a palavra signo numa acepção muito larga e elástica. Pode ser uma palavra, uma ação, um pensamento ou qualquer coisa que admita um interpretante, com o qual mantém uma relação de duplo termo.
A partir de um interpretante, e por causa dele, torna-se possível um signo.
Nem interpretante, nem signo, estão contidos na primeiridade ou na segundidade. Como categoria lógica, ambos incluem-se na terceiridade.
Peirce concebe os signos em três divisões amplas: ÍCONE, ÍNDICE e SÍMBOLO.
A partir da exemplificação abaixo, a indução dos conceitos.
Assim:
a)impressão digital na carteira de identidade (ÍCONE);
b)impressão digital do ladrão (ÍNDICE) ou a impressão digital;
c)impressão digital, como símbolo de campanha a favor da alfabetização (SÍMBOLO).
ÍCONE é um signo que é uma imagem. Caracteriza-se por uma associação de semelhança, independe do objeto que lhe deu origem, quer se trata de coisa real ou inexistente.
ÍNDICE é um signo que é um indicador. Relaciona-se efetivamente com o objeto, por contiguidade. Aquilo que desperta a atenção num objeto, num fato, é seu índice. Permite, por via de consequência, a contiguidade entre duas experiências ou duas porções de uma mesma experiência.
SÍMBOLO é o signo que é uma abstração de um concreto. Refere-se ao objeto que denota em virtude de uma lei, e, portanto, é arbitrário e convencionado. A possível conexão entre significado e significante não depende da presença (ou ausência) de alguma similitude.
Enquanto o índice define contiguidade, o símbolo, não. Fundamental no signo que é um símbolo incide em seu caráter definitivamente convencional.
Essa é a divisão triádica dos signos, segundo Peirce.
O signo apresenta , ainda três subcategorias básicas. A partir dessa nova proposição triádica, C. S. Peirce concebe que todo o signo, em si próprio, pode ser:
a) mera qualidade;
b) existência concreta;
c) lei geral.
QUALI-SIGNO é todo signo que é uma qualidade. Como tal, semanticamente, um determinante. O azul é um determinante (qualidade) de cor.
SIN-SIGNO é todo o signo que é uma coisa existente, um acontecimento real. Em princípio, envolve vários quali-signos (ou permite vários determinantes).
O vermelho é soma dos quali-signos de vermelho (que é uma cor, que é sinal de proibição, que é sinal de alerta, que é sinal de perigo). O vermelho é o signo de si próprio (sin-signo), somatório de todos os quali-signos de vermelho. Uma palavra, como tal é seu sin-signo.
LEGI-SIGNO é o signo que é uma lei. O vermelho como pare, na codificação visual das leis de trânsito, é um legi-signo. Contudo, inexiste legi-signo sem sin-signos prévios. O vermelho existe antes como sin-signo, antes de ser uma lei de trânsito.
Fonte: Nelson Valente @Escritor4 e José Antônio Orlando @semioticas
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