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@miltonjung A doutora em política educacional e comentarista da CBN, Ilona Becskehazy, afirmou que ''os olavistas produziram o melhor plano de alfabetização que este país já viu” e que ”ainda temos que ver a implementação, mas o plano é impecável”. @Ilonabecskehazy
Estamos vivendo tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, em nosso país, especialmente se considerarmos a educação pública.
Os resultados são catastróficos. Houve queda no desempenho em matemática.
Na redação foi pior ainda.
Vamos caminhando para o fundo do poço.
Ou seja, são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares.
O que se pode esperar dessa geração?
Como se vê, há problemas em todas as frentes.
A educação básica cresceu em números, é certo, mas não corresponde às expectativas no que tange qualidade.
Enquanto se discute o sexo dos anjos, os resultados concretos estão aí, diante de todos, mostrando que há um longo caminho a ser percorrido.
Os cursos de formação de professores padecem de um abissal anacronismo. Como pretender, assim, uma educação de qualidade?
Outra insensatez é a incompetência para enfrentar o drama do magistério. Os professores são malformados e pessimamente remunerados.
O curioso é que pouco se fala na formação e no aperfeiçoamento dos professores, em todo esse processo. Temos quase 3 milhões deles, no Brasil inteiro, mas é sabido que a qualidade do que se ministra nos cursos de magistério deixa muita a desejar.
Temos que melhorar os cursos de preparação dos professores, na dupla condição de conteúdos mais adequados e uma presente interatividade, palavra que pode enriquecer, e muito, o que se passa hoje em sala de aula.
Para acabar com essa vergonha, só uma ampla reforma.
Toda vez que se aborda um plano de governo, em que nível, surge a expressão qualidade do ensino. Uma tristeza! Verifica-se que tudo é de uma lentidão irritante.
É lamentável o estado do Ensino Fundamental neste País.
Ademais, os professores não recebem formação adequada para enfrentar os novos desafios de uma educação que se transforma a todo instante por força da heterogeneidade da clientela, não raro sem hadness para a aprendizagem formal; ...
...pelas rápidas mudanças tecnológicas; ...
pela impropriedade curricular e pelos descaminhos dos processos didáticos inadequados e, o que é pior,pela desqualificação social e salarial do magistério, submetido à pobreza crescente, tanto do ponto vista econômico quanto do aperfeiçoamento profissional,cada vez mais precário.
Enquanto isso, o analfabetismo cresce, em vez de decrescer, seja pelos milhões acumulados de seres humanos que nunca pisaram numa sala de aula, seja por outros milhões que deixam a escola sem nada aprender, como é o ...
...caso dos analfabetos funcionais, essa nova praga que ameaça comprometer o futuro da nação.
Isso significa que a maioria desses jovens chega ao final do curso sem saber ler e escrever ou fazer as quatro operações aritméticas, o que é tão mais grave quanto se sabe que ler, escrever e calcular são os pré-requisitos básicos da vida cultural e da sobrevivência.
Infelizmente, o descaso com o nosso idioma é notório. Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância.
Nos últimos tempos, surgiu uma estranha doença entre nossos jovens: DE (Déficit de Escrita).
Ocorreu-nos proclamar da volta da caligrafia às nossas escolas.Nos bons tempos, ela era praticamente obrigatória,com os educandos levados a preencher as linhas paralelas com letras,sílabas e palavras que, como consequência,nos traziam o conforto de uma adequada expressão escrita.
Aos poucos, o hábito foi sendo superado e, para muitos, o exercício da caligrafia era a comprovação da obsolescência dos nossos métodos. Nada mais triste do que essa falsa visão de modernidade, hoje agravada pela fúria do acesso aos computadores de qualquer maneira.
O Brasil dá mais ênfase ao topo, o ensino superior, do que à base, o ensino fundamental.
O resultado é outra manifestação de instabilidade: a qualidade do ensino superior vem sendo puxada para baixo por causa da má qualidade do ensino médio; e este também vem perdendo qualidade por causa da piora no ensino fundamental.
O objetivo do Ensino Fundamental Brasileiro é a formação básica do cidadão. Para isso, segundo o artigo 32º da LDBEN 9394/96, é necessário:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
Leitura:
No mundo inteiro, o Brasil ocupa uma das posições mais negativas em matéria de analfabetismo.
Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. Criar o hábito (ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores.
A conclusão é óbvia: sem leitura, como escrever adequadamente?
O sucesso da cartilha ‘Caminho Suave’. ‘Eles (o governo, o MEC e o Guia do Livro Didático, o Conselho Nacional de Educação, as secretarias de Educação etc.) estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas.
Veja hoje o caso dos ciclos. Professores e professoras que há décadas têm na reprovação seu principal recurso de disciplina foram, de uma hora para outra, proibidos de usá-la.
Mesmo com a proibição e à margem do Currículo Escolar, avós, pais, parentes, amigos e professores, indicam a cartilha ‘Caminho Suave’, na alfabetização de seus entes queridos.
Branca Alves de Lima concebeu, em meados do século passado, a cartilha ‘Caminho Suave’. Mais de 48 milhões dos brasileiros adultos de hoje foram alfabetizados por ela.
Cálculo:
O domínio de qualquer assunto – ou habilidade – requer doses gigantescas de informação, doses maciças de prática e, no caso de habilidades cognitivas superiores, boa capacidade de relacionar informações e de generalizar.
A tabuada não é exceção – depois da ideia de quantidade, expressa pelos números, ela é a pedra fundamental do conhecimento matemático.
Memorizar a tabuada é um pré-requisito importante e, em se tratando de pequenos números, mais eficiente do que recorrer a um dispositivo eletrônico para saber se 2 + 2 = 4.
Além disso, como em qualquer outra situação, a memorização de fatos e procedimentos alivia a pressão sobre a memória – quando já sabemos a tabuada podemos prestar atenção no raciocínio.
Sem ela a criança corre o risco de uma “sobrecarga cognitiva” - e aí ela não consegue fazer nem a conta nem pensar no problema a resolver.
Considerando-se a língua como matéria-prima das interações sociais, verifica-se que, entre os signos, o linguístico (ou verbal) ocupa espaço privilegiado.
A despeito de sua complexidade, é o signo linguístico que se impõe como domínio obrigatório e, em geral, impele o indivíduo a buscar a escola: espaço onde se aprende a ler, escrever e contar.
Qualquer um pode descobrir pela auto-observação que existem várias espécies de leitura, em algumas das quais não chegamos a compreender o que é lido.
Quando estou lendo provas com a intenção de prestar atenção especial às imagens visuais das letras e de outros sinais tipográficos, o sentido do que leio me escapa tão inteiramente, que tenho de ler todas as provas novamente de maneira especial, se quiser corrigir o estilo.
Quando, por outro lado, leio um livro que me interessa, um romance, por exemplo, desprezo todos os erros de impressão; e pode acontecer que os nomes das personagens deixem apenas uma impressão confusa em minha mente - ...
...uma recordação, talvez, de que são longos ou curtos, ou contêm alguma letra inusitada, como um ‘x’ ou um ‘z’.
Quando tenho de ler em voz alta, e tenho de prestar particular atenção às imagens sonoras de minhas palavras e aos intervalos entre elas mais uma vez corro o perigo de me preocupar muito pouco com o significado das palavras e logo que me fatigo leio de tal maneira que, ...
...embora outras pessoas ainda possam compreender o que estou lendo, eu próprio não sei mais o que leio.
Aprendemos a falar a língua de outras pessoas esforçando-nos por tornar a imagem sonora produzida por nós tão igual quanto possível à que deu lugar à nossa inervação da fala. Aprendemos dessa forma a “repetir” - dizer à imitação de outra pessoa.
Aprendemos a soletrar ligando as imagens visuais das letras a novas imagens sonoras, as quais, por seu lado, devem nos lembrar os sons verbais que já conhecemos. Imediatamente “repetimos” a imagem sonora que denota a letra, de modo que também se observa que as letras são ...
...determinadas por duas imagens sonoras que coincidem, e duas apresentações motoras que se correspondem.
Aprendemos a ler ligando, de acordo com certas regras, a sucessão de apresentações motoras da palavra que recebemos quando enunciamos letras isoladas, de modo a fazer surgir novas apresentações motoras da palavra.
Assim que dizemos em voz alta essas novas apresentações da palavra, descobrimos por suas imagens sonoras que as duas imagens motoras e imagens sonoras que recebemos dessa forma, de há muito nos são familiares e idênticas às imagens empregadas no falar.
Associamos então o significado ligado aos sons verbais primários às imagens sonoras adquiridas pela soletração.
Agora lemos com compreensão.
Aprendemos a escrever reproduzindo as imagens visuais das letras por meio de imagens da mão, até que essas mesmas imagens visuais ou outras semelhantes apareçam.
Em geral, as imagens da escrita são apenas semelhantes às imagens da leitura e associadas a elas, visto que o que aprendemos a ler é impresso e o que aprendemos a escrever é manuscrito.
Escrever vem a ser um processo comparativamente simples e que não está tão sujeito à perturbação quanto a leitura.
Enquanto não tivermos desenvolvido muito nossa capacidade de fala, essa segunda imagem sonora não precisa ser a mesma que a primeira, mas apenas associada a ela. Nessa fase do desenvolvimento da fala - a da primeira infância -, usamos uma linguagem que nós mesmos construímos.
Aprendemos comunicando, e comunicamos aprendendo. Mesmo sem querer, comunicamos (por meio da linguagem corporal, por exemplo). Mesmo sem querer, aprendemos, todas as vezes que participamos de uma cadeia sígnica. Estamos no mundo nos comunicando e aprendendo.
Os objetos à nossa volta e dentro de nós produzem diálogo constante, constante processamento, constante produção de signos. Quando vamos ao cinema, aprendemos alguma coisa em nossa leitura do filme. Se o conteúdo apreendido é eticamente interessante, é outra questão.
Se assistirmos um acidente, um fato trágico, ao conversarmos nos bar, na Igreja, no olhar vitrines. Estamos sempre aprendendo.
A diferença com o conhecimento proposto pela instituição escola, ou pela universidade,é que a universidade procura conduzir o caminho de aprendizado,com objetivos claramente pedagógicos. Ir ao cinema pode parecer mais agradável, pois vamos quando queremos,o que é importantíssimo:
...o afeto inicia qualquer relação de aprendizado – o que não me afeta, não atinge minha mente, não formará signo. Ir à universidade pode parecer obrigação, mas ali o sujeito é exposto a conteúdos de uma área que escolheu para estudar e para agir profissionalmente.
É fundamental que haja algum afeto.
Em famoso pensamento de Peirce, temos o entendimento de que o pensamento não está em nós, nós é que estamos em pensamento. Não reagimos mecanicamente às situações, de forma sempre igual.
Estamos sempre em movimento, criando novos signos, aprendendo.
O importantíssimo é ter em mente: há comunicação, há aprendizado. Se há ação do signo, mentes elaborando conteúdos, há aprendizado, há diálogo.
Um grande desafio contemporâneo a quem trabalha com educação é o formato multimeios da comunicação. O código hegemônico não é apenas verbal, tampouco apenas imagem. É sim o cruzamento, a junção de diversas linguagens.
Finalizando: No ensino público: faltam 400 mil professores no ensino básico (fundamental e médio) no País. A maior carência é para as disciplinas de matemática, química, física e biologia. Há escolas que nem as têm na grade. Boa noite!
Democratização do ensino não é baixar o nível de ensino na escola (igualando a todos na ignorância), mas levar o bom ensino a todos, para que cada um chegue aonde quer e pode chegar.
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