O aspecto mais absurdo deste arremedo, ou prenúncio, ou ameaça de crise política é o momento: estamos a vinte e poucos dias das europeias, com os partidos em plena campanha, e o Governo diz que se pode demitir a dez dias das eleições.
Posso estar enganado, mas acho que nunca se viu nada assim.
Seguramente que existem outras circunstâncias importantes, seguramente que ocorreram outras movimentações dos partidos com significados políticos relevantes.
Mas o facto de Costa ter sido absolutamente insensível à proximidade - à iminência - das eleições, é um aspecto de tal forma extravagante que não pode deixar de ser o elemento central de qualquer análise, por dependência e à luz do qual todos os outros têm de ser vistos.
Até para medir a importância relativa desses outros aspectos do imbróglio.
(Isto para além de mostrar aquilo que move António Costa, aquilo que sempre moveu a sua vida na bolha da política, e que é o exacto oposto do sentido de Estado)
Por exemplo, colocando de lado os desejos tácticos de Bloco, PCP, PSD e CDS, pensemos nos efeitos orçamentais que o que foi decidido no Parlamento tem efectivamente nas opções da actual governação, e mesmo nas opções da próxima:
será que a gravidade desses efeitos, que aliás poderão ser evitados quando no final do ano houver um novo parlamento, é compatível com este nível de dramatização - a demissão do governo, na véspera de uma eleições europeias? Não me parece, de todo.
Certo: os partidos deram um pretexto ao Governo; mas convenhamos que, para esta ameaça de demissão, neste momento, é um pretexto fraquinho.
Pelo que a interpretação mais evidente é que Costa quis que as europeias desaparecerem do radar. Ponto. O PS anda há meses a perder votos, há (havia?) até a possibilidade de perder as europeias, depois de uma campanha penosa e miserável, com um cabeça-de-lista fraquíssimo..
E um mau resultado não seria apenas isso, um mau resultado, porque permitiria (permitirá?) também uma mudança de percepção sobre a inevitabilidade da vitória do PS nas Legislativas.
Como sabemos, na História da política democrática, dominada pela sucessão de ciclos sucessivos de sentido contrário, há uma antiga lei de inércia: as percepções geram dinâmicas, e as dinâmicas geram resultados.
Por isso, sim, acho que Costa aproveitou um pretexto plausível, mas insuficiente, para dinamitar as europeias.
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