Thread by @apyus

Eu já me convenci que "o problema" é que o brasileiro gosta de se iludir.

Citarei exemplos.

Com muita calma, já consegui explicar que um erro é olharmos para o salário como um ganho mensal. É anual. O ciclo do mercado se fecha quando um ano se completa. O que recebemos todo mês são parcelas deste salário anual...

Como nenhuma loja iria preferir vender algo em 13 parcelas quando poderia vender em 12 parcelas, faz pouco sentido recebermos 13 salários quando poderíamos receber 12 salários e todo mês investirmos 1/12 do que ganhamos.

O que faria com que, em dezembro, essa economia resultasse numa poupança maior que o tal 13º salário que ela tanto comemorava.

Com calma até maior, a pessoa respondeu que não queria saber. Que interessava a ela a sensação de que, ao final do ano, recebia todo um salário sem precisar trabalhar por ele.

É a mesma coisa com lanche e despacho de bagagem em voo. Se o governo obriga as companhias aéreas a darem "de graça" os serviços, todos os passageiros passam a arcar pelo serviço, mesmo os que não despacham a bagagem, nem lancham.

Mas o brasileiro não quer saber. Ele quer acreditar que está comendo de graça no céu. E que não pagou nada para mandar 23 quilos de bagagem na esteira. E está nem aí se isso encarece a vida de quem não faz uso disso. Ou se encarece a própria vida em outros voos.

Vale também para o "estacionamento gratuito" em Shopping. Eu acompanhei um caso. Ao final do ano, o estacionamento "gratuito" custou R$ 8 milhões ao shopping. Esse valor foi repassado aos 300 lojistas. Que repassaram aos valores dos produtos comprados pelos clientes.

Ao fim, todos os clientes do shopping pagavam pelo estacionamento. Mas só uma minoria dos clientes se deslocava para lá de carro. Era basicamente um programa de transferência de renda do pobre para o rico.

Mas o brasileiro prefere arcar com isso e ter a sensação de que está levando vantagem, de que nada paga pelo estacionamento, sem se importar se isso prejudicava os mais pobres. Tinha até vereador querendo proibir cobrança de estacionamento.

Noutra oportunidade, conversava com um dono de posto de gasolina. E perguntei se ele mudaria para autoatendimento se a lei permitisse. A gasolina era 3 e pouco na época. Ele comentou que conseguiria baixar o preço em quase um real e viraria o posto mais concorrido da cidade.

Quando eu tinha carro, o posto mais concorrido da cidade fazia promoção vendendo gasolina uns 20 centavos mais barato. MAS, na vigência da promoção, só aceitava pagamento em dinheiro.

Nitidamente, conseguia subtrair do preço o valor que pagava às operadoras de cartão de crédito. Mas temos leis que obrigam o preço à vista ser o mesmo do crédito. Ou seja... Arcamos com a operadora do cartão mesmo quando pagamos em dinheiro.

O brasileiro não se importa com isso. Ele quer ter a sensação de que vai pagar daqui a 40 dias o mesmo valor de agora. E por isso há parlamentar que atenda esse desejo.

Como se trata de um problema cultural, não tem jeito. É aceitar e trabalhar para ajudar a pagar o estacionamento do moço, a bagagem da madame, o frentista daquela senhora e o cartão de crédito daquele senhor. É isso ou ir embora do Brasil.