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A crise do subprime surge como uma oportunidade para Lula abandonar os compromissos com a austeridade assumidos na Carta ao Povo Brasileiro. A nova matriz econômica traz resultados já no curto prazo. Popularidade de Lula dispara. Dilma se elege.
Lula entrega a Dilma um governo todo costurado com o PMDB. E uma aproximação do PT com Kassab permite ao PSD desidratar o DEM, que cai a sétima ou oitava força da República.
Mas Lula se descobre com câncer. E sai de cena para tratar da saúde. Dilma ganha, então, uma autonomia inédita. E passa a tratar o PMDB como uma oposição dentro da própria base.
No que tenta repetir a dobradinha com Kassab e recriar o PL, desta vez mirando o partido do vice, Eduardo Cunha percebe a jogada. E começa a montar dentro do partido um grupo de oposição a Dilma.
Nesse meio tempo, João Santana elege o prefeito de São Paulo. E Dilma comete o erro de usar a cidade como ferramenta do Palácio do Planalto.
Para bater metas inflacionárias, toca o que chama de “contabilidade criativa”, pedindo a Haddad para adiar para maio o aumento das passagens de ônibus que tradicionalmente ocorria em janeiro, com o movimento estudantil em férias.
Em maio, Haddad aumenta em 20 centavos o preço das passagens. O Movimento Passe Livre não está mais de férias e passa a protagonizar protestos violentos contra o aumento. Grita contra a prefeitura, mas mira a reação da Polícia Militar, comandada pelo governo tucano.
Quando imagens de um policial sangrando ganha as manchetes, a imprensa cobra atitude da polícia, que morde a isca e ao vivo na TV passa a responder com truculência muito maior.
Por todo junho de 2013, o país inteiro é tomado por protestos que diziam não ser só pelos vinte centavos. E que um gigante havia acordado.
De fato havia acordado. Se chamava “direita”. Que até então vivia de ativismo de sofá, mas finalmente descobria o caminho da rua.
A popularidade de Dilma despenca. Em desespero, o governo tenta reverter o estrago com seguidas pedaladas fiscais.
Numa agenda positiva, sanciona, entre outras leis, a da delação premiada. Era tudo o que a Lava Jato queria para, em março de 2014, vir a público.
Naqueles meses, falava-se em “Movimento Volta, Lula”. Marcelo Odebrecht depois confessaria que gastara R$ 7 milhões com a ideia. Mas Lula seria traído por Dilma, que anunciaria a disputa pela reeleição após uma reunião a sós com o ex-presidente — que não escondeu a insatisfação.
Na reta final da eleição, a Lava Jato chega à capa da Veja dizendo que Lula e Dilma sabiam do que rolava no Petrolão. Dilma se reelege, mas no dia seguinte já rola um primeiro protesto pelo impeachment.
O Brasil aguardava com ansiedade os nomes com foro privilegiado investigados pela Lava Jato. Nesse meio tempo, Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara.
A expetativa de Dilma era Janot encontrar algo contra Aécio. Não encontrou. O Planalto então vaza detalhes sobre Renan Calheiros e Cunha para o Jornal Nacional. Dilma perdia o Congresso ali.
Sentindo nas redes sociais que os protestos ganhavam corpo, aproveitou o dia das mulheres para um pronunciamento na TV. Foi quando rolou um primeiro panelaço. Dias depois, milhões na rua exigiam impeachment.
Meses depois, Delcidio do Amaral contaria num Roda Viva que o plano de Dilma era deixar a Lava Jato chegar em Lula. Para Dilma chegar em 2018 com o discurso de que não tolerava corrupção nem mesmo no PT, fazendo o sucessor sem necessidade de acordo com o PMDB.
Mas Marcelo Odebrecht a encontrou no México. E a contou que sabiam da “conta Suíça”. Era um alerta com cheiro de ameaça. Dilma entendeu o recado quando Marcelo foi preso. E passou a trabalhar para conseguir tirá-lo da cadeia.
Noutro flanco, segundo o próprio Cunha, oferecia cinco ministros do STF para ajudá-lo contra a Lava Jato.
O plano de Cunha era negar o impeachment e deixar que um recurso no plenário o forçasse a aceitar. Mas o STF legislou e decidiu que só cabia a Cunha essa decisão. Era tudo o que Cunha e Dilma queriam para negociarem um com o outro.
A imprensa dava como certo que Cunha se safaria no conselho de ética e engavetaria o impeachment de Dilma. Mas Rui Falcão, aliado de Lula, deu a ordem para a bancada não cumprir o acordo. Cunha se deu mal. Em retaliação, aceitou o impeachment de Dilma.
Só então, Dilma e Lula param de se sabotar. Quando vem a condução coercitiva de Lula e um novo protesto recorde, a reação de Dilma e protegê-lo da Justiça na Casa Civil. Numa canetada, Gilmar Mendes desfaz aquela insanidade.
Vem o impeachment. As pedaladas fiscais sacadas por Dilma em resposta aos protestos de junho de 2013 viram o grande crime de responsabilidade a justificar-lhe a queda.
Jair Bolsonaro homenageia um torturador e faz chacota com a tortura sofrida por Dilma. Cunha pede para que Deus tenha misericórdia desta nação. Deus finge que não escuta.
Um mês depois, o Senado referenda a decisão. Ao final de agosto, Temer passa de interino a presidente em definitivo.
Se bem lembro, foi assim que aconteceu.
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