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A homenagem a MC Reaça e a foto com Neymar demonstram algo que Ta-Nehisi Coates capturou muito bem ao chamar Trump de “primeiro presidente branco dos EUA”: a função tanto de Bolsonaro quanto de Trump não é simplesmente de continuidade com a história dos dois países.
Sua função é antes restaurar uma ordem simbólica comprometida pelo fato de seus limites invisíveis terem sido rompidos. A ruptura torna estes limites visíveis e, assim, põem sua normalidade em questão. Um presidente operário expõe o classismo como norma, >>
uma presidenta mulher expõe o machismo como norma, um presidente negro expõe a branquitude como norma.
Depois disso, não basta seguir como se nada tivesse acontecido: é preciso compensar em dobro para reafirmar a ordem rompida (que é tb uma forma de negar que a ruptura aconteceu)
Depois disso, não basta seguir como se nada tivesse acontecido: é preciso compensar em dobro para reafirmar a ordem rompida (que é tb uma forma de negar que a ruptura aconteceu)
O contraste com Temer é claro: ali tratava-se de continuar tudo como antes, fingindo que nada tinha acontecido. Com Bolsonaro, é o retorno do recalcado, a ordem simbólica se reafirmando para aqueles que a desejam e, para os outros, se apresentando, no limite, como domínio bruto:
“não importa se você acredita ou não, essa ordem é eficaz, no fim das contas, porque quem manda somos nós”. É como se Bolsonaro constantemente dissesse: “vai ter macho no poder sim! vai ter branco no poder sim!” Uma mensagem com sentidos diferentes para a base e os “inimigos”.
Ou seja: nenhum “absurdo” desses é realmente absurdo; o que ele está lá para fazer é isso. A regra é simples: se você acha algo que Bolsonaro faz absurdo, é porque você não pertence ao público alvo — ou pertence àquele público alvo para quem a msg é “eu faço pq eu posso”.
