Thread by @allansimon91

Qual é a solução mágica para quem reclama do crescimento de empresas como DAZN? A Copa Sul-Americana, por exemplo, flopou após um leilão que nenhum canal quis bancar. Libertadores e Champions no Facebook também eram licitações abertas. Prevaleceu o mercado, né?

Concordo que o futebol fica proibitivo quando tem conteúdos exclusivos na internet. Nosso sistema no Brasil é horrível, velocidade lamentável, e a própria inclusão digital não é satisfatória. Passamos por algo parecido quando o esporte em massa migrou pra TV paga nos anos 90.

Mas já pararam para refletir que isso tudo é mercado, e que o mercado não liga para democratização de acesso? Mercado quer lucro. E o de TV paga viu prejuízos que faziam competições não valerem mais a pena. Ninguém transmite nada por caridade. Transmite pra fazer dinheiro.

Quando eu peço aqui mais espaço para o futebol feminino é porque sei que custos são mais baixos (transmitir a UCL feminina, por ex, é comprar os direitos e botar uma equipe no estúdio pra narrar e comentar daqui mesmo, só). Mas os direitos de transmissão em geral estão caros.

Essa inflação no mercado foi ótima para clubes e federações, mas matou as empresas menores de TV. Ou acham que a Band, Record, SBT, etc, não gostariam de ter futebol brasileiro nas programações? Mas como faz pra pagar 1,5 bilhão por ano, no mínimo, pelo Brasileirão?

Esse processo foi acontecendo com a TV paga. Cada vez mais foi ficando impossível bancar os custos. Vieram gigantes de tecnologia e preencheram esse espaço. A Copa Sul-Americana não foi tomada de ninguém pelo DAZN. O DAZN foi lá e resgatou a competição que ninguém pode pagar.

Eu sou o primeiro a defender democratização de acesso. Mas não vejo saída pra fazer isso. É mercado purinho. Livre concorrência, muito mais que na década passada. Mas a lição fica: livre concorrência NÃO significa que você poderá ter mais acesso pagando menos.

Num país de 13 milhões de desempregados, economia estagnada e empresariado reticente quanto a investimentos, qualquer um que tenha coragem vem com dinheiro de fora e leva tudo mesmo. Mas esse mesmo país tem população sem condições de pagar mais de 200 reais só em streamings.

A questão é: quantas pessoas são necessárias para esse setor do mercado se garantir? Serviços de streaming tem custos menores, não precisa manter grade de 24h no ar, etc. Não depende tanto de anunciantes como um canal de televisão. E chegamos a ele, o mercado publicitário.

Os índices de audiência do esporte são bons, superiores à maioria da programação comum das emissoras. Mas audiência sozinha não enche barriga de ninguém. Quanto já não vi de veículos que crescem sua audiência e não conseguem ampliar faturamento para acompanhar os custos?

Se o mercado publicitário também trava, já que economia em crise é motivo pra diminuir gastos com propaganda, não rolam os acordos comerciais necessários para bancar essa conta. Fora os tais aparelhos piratas. Prejudicam as emissoras, mas não os anunciantes. Tá tudo bom pra eles.

Você pode ter o aparelho desbloqueador de canais e se orgulhar de não dar dinheiro para as emissoras. Não vou nem julgar o aspecto moral. Vou falar do aspecto prático: você segue vendo as propagandas, os anunciantes pagam por um público x e atingem muito mais pessoas.

Mas as TVs vão tendo prejuízo, prejuízo e prejuízo. Resultado final: são obrigadas a abrir mão dos torneios. Que ninguém compra. Aí vem o DAZN e compra. Opa, chegamos ao começo da thread. O DAZN não tirou nada de ninguém. Sul-Americana, Italiano e Francês estavam abandonados.