Thread by @FariaLimaElevat

O Condado da Faria Lima

Mais um dia no condado da Faria Lima, lugar em que cada travessa apresenta cenários diferentes do cotidiano paulistano.

A avenida começa na Largo da Batata, hoje polo dos geração millennial-hipster e vai até a Hélio Pelegrini, próximo ao triângulo das Vilas, região em que, conforme a lenda urbana, está enterrado o pergaminho perdido com a data exata para o Ibovespa 200 mil pontos.

No seu miolo, com o simbólico ponto em frente ao BTG e BBA, o S do Setúbal marca o tráfego dos executivos, que hoje usam utilizam bicicletas elétricas para se locomover e os estagiários usam bicicletas laranjas e amarelas, com suas bebidas gluten e sugar free.

O bull market traz uma série de novos escritórios, com novas gestoras sendo abertas todos os dias, relembrando a época das paleterias! O valor do m² nunca esteve tão alto, forçando os escritórios para lugares inéditos, como próximo do odorento Rio Pinheiros.

Os transeuntes da avenida fazem parte de uma nova espécie da fauna paulista, misturando o clássico workaholic com cinéfilos cults, entregando sua jovem energia vital para o Deus Mercado.

Claro, há ainda os vikings do mercado, que sobreviveram aos pits da BM&F e demais loucuras do pregão (não sem sequelas), e que hoje têm a vital função de catequizar os novos estagiários.

O Deus Mercado rege os ânimos da região. Dias como “Ibovespa 100k” serão eternamente lembrados pelas esquinas daquela avenida, com cânticos e brados forjados para a ocasião e que ecoaram por toda a eternidade.

Há também dias como “Joesley Day”, em que os frequentadores da avenida regrediram ao estado de natureza hobbessiano, de todos contra todos. Esses dias sombrios também serão lembrados.

Outro detalhe importante é que tudo, absolutamente tudo, é passível de gourmetização e precisar vir embalado com algum conceito e nome estrangeiro. As cervejas, por exemplo, não podem falar português.

Alguma língua latina é até tolerável, mas o desejável é que as cervejas tenham notas e temperos nórdicos, para que o farialimaboy, em seu mocassim, se sinta privilegiado.

E os restaurantes da região? Bem, os restaurantes refletem a gastronomia do mundo todo, com todos os requintes e frescuras possíveis, sendo local para depósito de bônus ou grandes acertos no mercado.

Por outro lado, há uma certa curiosidade em relação as padocas da região: os frequentadores do condado até arriscam tomar seus desjejum nesses estabelecimentos, mas não ousam almoçar. Os poucos que cometem tal sacrilégio desfilam pelo escritório com sua aura de puro óleo de chapa

O Condado da Faria Lima é um mundo à parte em São Paulo, seus habitantes possuem hábitos específicos e manias particulares, merecendo um capítulo à parte nessa história, que será tratada em capítulos futuros.

Nada passa despercebido no condado. Todo mundo sabe sobre todo mundo, o tempo todo. As cotas não mentem.